A Ética a Nicômaco, escrita entre 340 e 335 a.C. pelo filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), permanece como um dos fundamen...

Razão e Virtude em Aristóteles

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A Ética a Nicômaco, escrita entre 340 e 335 a.C. pelo filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), permanece como um dos fundamentos do pensamento ocidental. Nela, o pensador analisa a natureza da moralidade, da virtude e do bem. A obra é organizada em dez livros e visa investigar como os seres humanos podem construir o bem-estar por meio da prática da virtude. O título faz referência a seu filho, Nicômaco.

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Aristóteles considera que o objetivo final da vida humana é alcançar a felicidade. Para ele, essa finalidade se concretiza ao longo de uma vida inteira dedicada ao bem. Isso depende de viver de acordo com a razão e desenvolver as virtudes. A razão aristotélica é a capacidade humana de pensar por meio da lógica, formando conceitos e compreendendo o mundo através de processos racionais. A virtude, por sua vez, consiste na excelência do exercício da racionalidade, tanto nas ações quanto nas emoções. Para isso, o “justo meio” ou “meio-termo” é o fundamento de sua ética. A virtude é o equilíbrio adequado entre dois extremos, que são os vícios.

Por exemplo, a coragem é a virtude que se encontra entre o excesso de bravura e a covardia. Portanto, as virtudes representam um equilíbrio relativo à realidade e às circunstâncias. O equilíbrio (“meio-termo”) é, assim, uma prática que depende da experiência e do julgamento ético de cada pessoa. Aristóteles defende que a virtude é uma disposição adquirida por meio da prática constante, desenvolvendo-se pela repetição de ações equilibradas, situadas entre os excessos. Ou seja, ser virtuoso é o resultado de um exercício contínuo que busca o justo meio em cada situação.

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Uma das contribuições mais influentes da Ética a Nicômaco à ética ocidental é a tese da sabedoria prática. Aristóteles sustenta que, para alcançar o justo meio e viver de acordo com a virtude, é necessário um julgamento prático, que não se baseia em regras universais, mas na deliberação cuidadosa e no discernimento das circunstâncias particulares. A razão prática não é apenas teórica, mas orientada para a ação e para a tomada de decisões corretas, levando em consideração o bem-estar coletivo e a realidade específica de cada situação. Essa sabedoria se distingue da razão teórica, que busca o conhecimento universal e absoluto, sendo mais relevante para o comportamento cotidiano e para as escolhas morais que uma pessoa realiza.

Aristóteles também diferencia os tipos de vida que os seres humanos podem escolher. Uma de suas discussões importantes n'A Ética a Nicômaco é sobre a relação entre a “vida contemplativa” (dedicada ao conhecimento e à filosofia) e a “vida ativa” (voltada para as relações sociais, políticas e ações práticas). Para o pensador, embora a vida contemplativa seja a forma mais excelente de existência — pois busca o conhecimento em si e a verdade universal —, a vida ativa também possui grande relevância, pois envolve a interação com os outros e a busca pelo bem comum. Assim, a felicidade, em seu entendimento, é mais plenamente realizada por aqueles que conseguem cultivar tanto a vida contemplativa quanto a vida ativa, combinando razão e ação de maneira harmônica.

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A vida virtuosa em comunidade, na ética aristotélica, está intrinsecamente ligada à sua concepção política. Aristóteles vê o ser humano como um ser político e defende que a virtude e a felicidade não podem ser plenamente alcançadas sem a participação na vida comunitária. A boa sociedade é aquela que permite que os indivíduos pratiquem as virtudes e se relacionem de acordo com a razão. Ele argumenta que as leis e as instituições políticas devem ser orientadas para tornar possível a convivência virtuosa entre os cidadãos, pois a política tem a função determinante de criar as condições necessárias para que a felicidade coletiva seja alcançada, promovendo a participação de todos e o bem comum.

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Athens University
A Ética a Nicômaco é uma reflexão sobre moralidade, virtude e felicidade. Para Aristóteles, a vida saudável não depende de prazeres momentâneos ou bens materiais, mas da prática constante da virtude, do uso da razão e do equilíbrio moral. A felicidade realiza-se nas relações de respeito com os outros. Sua concepção de virtude como justo meio continua a influenciar a filosofia moral, oferecendo uma abordagem fundamentada para o bem-estar individual e coletivo.

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