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Há quem pense na Ilíada e na Odisseia apenas como poemas épicos, a enfocar as façanhas de Aquiles e dos Argivos, ou a mirabolante viagem ...

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Há quem pense na Ilíada e na Odisseia apenas como poemas épicos, a enfocar as façanhas de Aquiles e dos Argivos, ou a mirabolante viagem de Odisseu. Não resta dúvida de que essas narrativas seminais do mundo ocidental são grandes épicos. Mas se fossem apenas poemas destinados à exaltação dos feitos heroicos, teriam sido esquecidos, mortos no seu tempo. Ninguém mais falaria deles, até porque a Tragédia deu outro encaminhamento ao literário, a partir do século V a.C. Não esqueçamos, no entanto, que sem o épico não existiria o trágico, nem existiria o primeiro texto sistematizado sobre os gêneros literários – a Poética, de Aristóteles.

A obra de Émile Zola, Les Rougon-Macquart, é mais do que uma série de romances sobre a família que lhe serve de título. Trata-se, na real...

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A obra de Émile Zola, Les Rougon-Macquart, é mais do que uma série de romances sobre a família que lhe serve de título. Trata-se, na realidade, de um painel, em 20 títulos, sobre a sociedade francesa do alvorecer ao final do segundo império (1851-1870). Seguindo a doutrina naturalista de que é o maior nome, esse escritor francês já nos fornece uma boa síntese dessa sociedade em três romances, La Curée (1872), L’Assommoir (1877) e Pot-Bouille (1882). Curiosamente, são romances cujos títulos são de difícil tradução para a língua portuguesa. Ainda que se traduza L’Assommoir por A Taberna, a narrativa diz mais do que o nome do bar do Père Colombe.
Ela se refere ao sentido de jogar alguém no abatimento, de matar com um golpe violento, de destruir, concepção que se encontra no verbo assommer. E isso é o que acontece com a maioria dos personagens, envoltos em uma vida miserável, deixando-se consumir pelos vícios, dentre eles o álcool. Nesse sentido, Gervaise Lantier, a personagem central, é emblemática. Dos outros dois romances, desconheço – é possível que haja – tradução em língua portuguesa.

A primeira formulação a respeito da origem da inspiração, no mundo ocidental, remonta ao século VIII a. C., com a Teogonia de Hesíodo , po...

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A primeira formulação a respeito da origem da inspiração, no mundo ocidental, remonta ao século VIII a. C., com a Teogonia de Hesíodo, poema em que, para poder cantar a saga de Zeus como o primeiro herói, na sua luta contra os Titãs e contra o gigante Tifeu, Hesíodo precisa fazer uma celebração das Musas e do seu poder inspirador de poesia e de conhecimento. São as Musas, filhas de Zeus, o mais sábio dos deuses, e de Mnemosine, a deusa da memória, que guardam o conhecimento, inspirando os poetas, os estudiosos e os reis, estes para, especificamente, a aplicação da Justiça.

“Um homem médico é, pois, igual em valor, a muitos outros, para retirar dardos e aplicar fármacos calmantes.” (Idomeneu a Nestor, em plen...

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“Um homem médico é, pois, igual em valor, a muitos outros, para retirar dardos e aplicar fármacos calmantes.” (Idomeneu a Nestor, em plena batalha entre gregos e troianos. Ilíada, Canto XI, versos 514-5)

As palavras medicina e mezinha têm a mesma raiz etimológica. A primeira forma é erudita, proveniente de medicina, medicīnae, cuja origem, no latim, está ligada ao verbo depoente medeor, por sua vez, originário do verbo médio grego μέδομαι (médomai), ambos com o sentido de cuidar e tratar, alongando o significado em grego para também proteger. A segunda forma, mezinha, é uma corruptela da primeira, sendo, hoje, um arcaísmo, com sua datação em textos remontando ao século XIII, mas ainda muito empregada nas regiões mais distantes do mundo urbano. Registra-se, ainda, a forma meizinha, produto de uma ditongação natural, para a oralidade. O importante a guardar, independente da forma, é que, em princípio, o médico e a medicina encontram-se na esfera do cuidado, do tratamento e da proteção.

Inspirado no belo texto de Germano Romero , " Poema de fogo e luz ", sobre a sinfonia de Scriabin , resolvi escrever um pouco s...

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Inspirado no belo texto de Germano Romero, "Poema de fogo e luz", sobre a sinfonia de Scriabin, resolvi escrever um pouco sobre Prometeu. Considero o mito de Prometeu um dos mais importantes da cultura grega. Há outros que rivalizam com ele, como o de Édipo, que envolve o parricídio e o incesto.

Reler é sempre melhor que ler. Se algum livro, na sua leitura, lhe deu prazer, deixe passar algum tempo e retorne a ele. Você verá que a s...

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Reler é sempre melhor que ler. Se algum livro, na sua leitura, lhe deu prazer, deixe passar algum tempo e retorne a ele. Você verá que a segunda leitura será ainda mais prazerosa, tendo em vista a expansão de seu horizonte de expectativa nesse intervalo. Faço sempre esse retorno com os livros de minha predileção. No momento, intercalando com outros livros, estou retornando a A grande história da evolução: na trilha dos nossos ancestrais, de Richard Dawkins (Companhia das Letras, 2009, tradução de Laura Teixeira Motta).

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Acredito que na história da escrita, Dawkins tem o seu lugar garantido como um grande pensador, ainda que numa área que parece insípida para muitos – a biologia evolutiva. Não tem nada de insípido, no entanto. Dawkins escreve não só com conhecimento de causa, mas sobretudo com paixão pelo assunto, procurando ser didático, fazendo de seu texto um prazer para quem o lê, cujo resultado é uma maior recepção do que escreve até por leigos no assunto, o que é o meu caso, que se deliciam com o modo de ele expor o tema. Não é por acaso que Dawkins se tornou o primeiro titular da cátedra de Compreensão Pública da Ciência, em Oxford, criada no ano de 1995. Do mesmo modo, afirmo, sem medo de errar, que A grande história da evolução é um dos cem mais influentes livros jamais escritos no mundo. Quem ainda não o leu, não sabe o que está perdendo.

A minha primeira leitura dessa obra já tem sete anos. O retorno agora, com outros olhos, me fez ver alguns detalhes que, à época, me passaram despercebidos, por total desconhecimento do assunto. Depois da leitura de oito livros de Dawkins, comecei a enxergar melhor o que ele tem para dizer, admirando-me com um conhecimento que deveria estar na escola básica. Enquanto batemos cabeça com uma escola que teima em ser modernosa, deixamos de lado um saber que nos faria entender melhor quem somos, o que poderia nos aproximar um dos outros e nos ver com mais respeito.

Ateu confesso, darwinista ferrenho, Richard Dawkins é chamado por seus detratores de “o bulldog de Darwin”. No entanto, o que ele nos diz abre a nossa compreensão para a nossa origem como seres vivos, não só como seres humanos. A grande história da evolução é um livro singular, por várias razões, a estilística inclusive, mas bastaria uma para encantar o leitor: tendo em vista que a ciência já revelou como aconteceu a evolução da espécie, Dawkins resolve contar a história da frente para trás. Assim, ele parte para uma peregrinação em direção ao passado, do Homo sapiens às Eubactérias. Que cientista compararia, por exemplo, essa visão ao contrário da evolução com os Contos de Canterbury, de Chaucer, tomando, a exemplo do inglês, os seus peregrinos – todas as espécies de seres vivo –, narrando contos, “enquanto se dirigem à sua Cantuária, que é a origem da vida”? (p. 28).

Algumas coisas são fundamentais, para a compreensão de quem somos, nessa aventura inédita que Dawkins nos apresenta. A primeira delas é que o universo não se formou para que nós existíssemos. O que devemos ter em mente é a existência de um universo com a capacidade de nos produzir. O homem, portanto, não é um ser teleológico. Em outras palavras, se o universo foi capaz de nos produzir, não significa que houve uma deliberação para nos produzir. Como a evolução biológica não tem descendência privilegiada ou fim projetado, somos todos seres provisórios, em constante evolução, com o perigo de desaparecermos, e sem, sobretudo, qualquer privilégio hierárquico sobre os demais seres vivos, vez que “um ser vivo está sempre às voltas com a sobrevivência em seu próprio meio” (p. 22). Enfim, somos seres sempre inacabados.

Aproveitamos a oportunidade, acompanhando o raciocínio de Dawkins, para explicar que evoluir não significa, necessariamente, melhorar. Evoluir significa que houve uma volta para fora, que algo se expandiu para além do que era e, dentro da lógica da evolução, não foi o melhor ou mais bonito ou o mais forte, mas aquele que melhor se adaptou ao ambiente e conseguiu passar o seu gene adiante. Saiu de si e expandiu-se para outra geração. Um dos exemplos de Dawkins é excelente para ilustrar e destruir nossa ilusão de melhores entre todos os seres vivos: os andorinhões conseguem se manter no ar por um ano ininterrupto e copular em pleno voo. Eles, se pudessem refletir, falar e escrever se considerariam, com certeza, o ápice do progresso evolutivo... (p. 23).

Por outro lado, as estrelas foram responsáveis pela nossa existência, pois “sem estrelas não existiriam átomos mais pesados do que o lítio na tabela periódica – e uma química só com três elementos é pobre demais para sustentar a vida” (p. 18-19). O que nos leva a tomar como exata a reflexão de Alexei Filippenko, astrofísico da Universidade de Berkeley, Califórnia, quando diz que se recuarmos o máximo possível o nosso DNA, encontraremos as estrelas na nossa origem. Este é o primeiro passo para que acreditemos que os alienígenas existem...

Este retroceder de que fala Filippenko e que Dawkins faz, tendo como limite a vida na Terra, é necessário, porque assim celebramos “a unidade da vida”, enquanto que contar a história da evolução como já se fez, da bactéria para o homem, “exaltamos a diversidade” (p. 23). Ora, a diversidade já conhecemos e isto nos trouxe muitos dissabores, separações, segregações, ódios, guerras. Precisamos conhecer o que nos une a todos, como seres vivos, para que possamos nos aproximar, tendo a consciência de que somos um único organismo, ainda que disperso num mesmo sistema complexo. O importante nessa peregrinação é a consciência de que o DNA é a grande prova de que “todos os seres vivos são primos” (p. 31).

Esse parentesco nos é garantido pelo esclarecimento que Dawkins nos fornece a respeito do que é o DNA, um alfabeto de 4 letras, com um dicionário limitado de 64 palavras de três letras apenas. Esse dicionário, contudo, “é universal e não muda”. Já o DNA muda muito lentamente e vai deixando, através das gerações sua “história urdida no tecido dos animais e vegetais modernos e inscrita em seus caracteres codificados” (p. 38). Essa mensagem é não só maravilhosa, ela é inconfundível, pois “homens e bactérias possuem sequências de DNA tão semelhantes que parágrafos inteiros são idênticos, palavra por palavra” (p. 43).

Como todas as espécies são primas umas das outras e, pela lei da coalescência – a ação de retroceder ao máximo, em busca dos ancestrais, cujo limite seria o concestral, o ancestral comum a todos os seres vivos – “o progenitor universal de todos os organismos sobreviventes provavelmente foi um semelhante a algum tipo de bactéria” (p. 24). Não é de espantar que os chimpanzés e bonobos, sejam os nossos primos mais próximos, primos peludos e de sangue quente, como está no título deste texto. Nem é tampouco de se admirar que, com relação a alguns genes específicos, somos mais aproximados no parentesco com alguns chimpanzés do que com alguns humanos (p. 85). Quando tomamos a consciência desse parentesco, a barreira separatista, entre as espécies e mesmo entre os de nossa espécie, tende a ruir, ainda que lentamente. Se fôssemos instruídos desde cedo nesse grande milagre que a ciência nos apresenta, tenho certeza de que menor seria o desrespeito à natureza e a nós mesmos.

Uma última palavra. Mesmo sendo ferrenho darwinista e ateu juramentado, a maneira como Richard Dawkins nos apresenta o seu livro faz-nos crer ainda mais numa força poderosa que comanda inteligentemente todo o universo. Veja-se o trecho em que ele se refere aos genes:


“Os humanos como uma espécie, bem como os humanos como indivíduos, são recipientes temporários, com uma mistura de genes de diferentes fontes. Os indivíduos são pontos de encontro temporários nas rotas entrecruzadas que os genes percorrem ao longo da história. Esse é um modo de expressar a mensagem principal de meu primeiro livro O gene egoísta, com base na árvore genealógica. Como afirmei ali, ‘depois de servirmos ao nosso propósito, somos descartados. Mas os genes são cidadãos do tempo geológico: os genes são eternos’” (p. 86).


Troquemos “recipientes temporários” e “pontos de encontro temporários” por “corpo”, e “genes” por “alma” ou “espírito”, e teremos a mesma concepção para a espiritualidade, para o ser espiritual que somos. O gene está para a ciência como o espírito está para a espiritualidade; o corpo continua sendo apenas o recipiente temporário necessário para a evolução de ambos. Sobreviva e passe seu gene adiante, conforme se encontra inscrito no código genético de cada ser vivo, está em estreita relação com “nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre”. Tal é a lei, na ciência ou na espiritualidade.

Deus não privilegia pessoas, por isso determinou que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios e, em consequência, Pe...

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Deus não privilegia pessoas, por isso determinou que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios e, em consequência, Pedro os batizou. Assim, está no Atos dos Apóstolos (Cap. 10, vers 34, 45 e 47)

Já tarde da noite, recebo dois zaps de voz de minha neta, Clarinha. Ela me pergunta o que é evolução. Achei a pergunta difícil, mas como...

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Já tarde da noite, recebo dois zaps de voz de minha neta, Clarinha. Ela me pergunta o que é evolução. Achei a pergunta difícil, mas como envolve coisas práticas, respondi adequando ao seu universo de criança esperta. Disse que a evolução era a transformação por que passaram todos os seres vivos — os animais, as plantas, os humanos —, ao longo dos tempos, e ainda passam. Começamos, há muito, muito tempo, sendo pequenos seres como os micróbios e nos modificamos atingindo a forma que temos hoje, terminei dizendo a ela.

Conversando com amigos sobre Augusto dos Anjos, um deles me perguntou sobre a vinculação do poeta do Eu, se poderia considerá-lo modernist...

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Conversando com amigos sobre Augusto dos Anjos, um deles me perguntou sobre a vinculação do poeta do Eu, se poderia considerá-lo modernista, mesmo que se possa constatar, em sua poesia, algo de parnasiano e de simbolista. A minha resposta foi longa, mas tentarei resumir aqui.

João Guimarães Rosa, para além de grande obra que produziu, soube como ninguém criar ditos, alguns tornados aforismos, dignos de serem rep...

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João Guimarães Rosa, para além de grande obra que produziu, soube como ninguém criar ditos, alguns tornados aforismos, dignos de serem reproduzidos em qualquer roda erudita, sem perder, contudo, o sabor popular de um saber que atinge as pessoas na medula, não importando a classe social ou o grau de escolaridade. Um deles, de que mais gosto, encontra-se em "O burrinho pedrês", de "Sagarana": "quem é visto é lembrado" —, aprecio sempre dizer na negativa:

Para a geração de escritores e artistas estrangeiros, nos anos inicias do século XX, em doce exílio intelectual, Paris era uma festa, so...

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Para a geração de escritores e artistas estrangeiros, nos anos inicias do século XX, em doce exílio intelectual, Paris era uma festa, sobretudo para os que frequentavam o chique restaurante Closerie des Lilas, no Boulevard Montparnasse, ao lado da Gare de Luxembourg. Já Victor Hugo, em Os Miseráveis, diz que Paris sempre mostra os dentes, seja para sorrir, seja para rosnar. É bem verdade também. Para quem vai a Paris se submeter a trabalho e enfrentar a burocracia francesa, Paris sempre rosna; mas se vai, para desfrutar de sua beleza, em férias, como turista, desobrigado de horários, Paris sorri.

Literatura se alimenta, sobretudo, de literatura. Todo teórico e crítico sabe disso. Todo escritor tem consciência desse fato, afinal de c...

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Literatura se alimenta, sobretudo, de literatura. Todo teórico e crítico sabe disso. Todo escritor tem consciência desse fato, afinal de contas não existe escritor que não seja antes um leitor. Esse processo de texto que se forma de outros textos pode ser chamado de intertextualidade, caso alguém opte pela teoria de Julia Kristeva, ou de transtextualidade, caso se firme na teoria de Gérard Genette, que ampliou e aprofundou os conceitos daquela autora. Intertextualidade ou transtextualidade, pouco importa o nome técnico que se dê, relevante mesmo é sabermos que, quando estamos lendo um texto, sempre há outro(s) texto(s) que se encontra(m) devidamente retrabalhado(s) sob muitas dobras.

Catulo é múltiplo, diverso. O mesmo poeta capaz de se mostrar compungido ao prantear um irmão morto e enterrado longe da família ( Carmen ...

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Catulo é múltiplo, diverso. O mesmo poeta capaz de se mostrar compungido ao prantear um irmão morto e enterrado longe da família (Carmen CI – Ad infera), mostra-se bem-humorado ao convidar um amigo para jantar em sua casa, desde que o amigo leve a comida, a bebida e as moças, pois nada há em sua bolsa a não ser teias de aranha (Carmen XIII – Ad Fabullum).

A Tadeu , nosso irmão, de quem não nos despedimos, apartado que foi de nós, repentinamente, tendo encontrado sepultura nas terras das Min...

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A Tadeu, nosso irmão, de quem não nos despedimos, apartado que foi de nós, repentinamente, tendo encontrado sepultura nas terras das Minas Gerais.

Catulo, poeta latino do século I a. C. (84—54), é o único dos neóteroi (literalmente, "os mais jovens"), assim chamados, polêmica e pejorativamente, por Cícero, para designar os novos poetas que procuravam inovações na poesia latina, imitando os alexandrinos gregos. Desses novos, Catulo é o único cuja obra sobreviveu, sendo considerado um dos criadores da lírica latina.

“No princípio era o verbo”. Esta é uma das mais controvertidas frases do Evangelho, menos pela doutrina do que pelo o que ela significa. Mu...

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“No princípio era o verbo”. Esta é uma das mais controvertidas frases do Evangelho, menos pela doutrina do que pelo o que ela significa. Muitos têm se debruçado sobre o significado de lógos, em grego. Como traduzi-lo? Verbo ou razão? As discussões quase sempre se encaminham para argumentos isolados do contexto. Não há como negar a dificuldade da tradução, mas ela não pode ser feita considerando-se apenas a palavra. O contexto em que ela se apresenta, diga-se que é um contexto único no Evangelho de Cristo, deve ser considerado. Essa frase que inicia o Evangelho de João e que só aparece nele está dentro de um texto que se quer assertivo e predicativo.

Na tradição que relata os primórdios da história romana, o mito do rapto das Sabinas é fundamental para a consolidação de Roma como cidade...

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Na tradição que relata os primórdios da história romana, o mito do rapto das Sabinas é fundamental para a consolidação de Roma como cidade que, de acordo com as profecias, deve sobreviver e dominar o mundo. Sem o rapto, Roma não só não cresceria, como não transmitiria a sua descendência.

Há uma celeuma no ar. Acredito que sempre houve. Desta feita trazida à tona por uma necessidade dos novos tempos, que a língua ainda não c...

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Há uma celeuma no ar. Acredito que sempre houve. Desta feita trazida à tona por uma necessidade dos novos tempos, que a língua ainda não conseguiu acompanhar, nem podemos dizer se vai. Como se sabe, é o uso que faz a língua se tornar linguagem. As mudanças, no entanto, ditadas pelo uso são lentas e vão se acomodando de acordo com as conveniências do uso coletivo. A língua é, sem dúvida, viva e dinâmica, mas a vivacidade e o dinamismo não significam a rapidez que muitos desejam. O poeta Horácio, em sua Arte poética, já nos aponta o uso como senhor absoluto no comando da língua determinando a instauração de novas palavras, termos e expressões, ao mesmo tempo que faz a advertência de usos que cairão no esquecimento. A língua, como um sistema, registra todos, guarda-os, mas só concede a visão da luz do dia àqueles que se empregam pela coletividade.

Ifigênia recusa a morte pela glória pan-helênica, depois a aceita, convencida pelo pai. Arrebatada, ela escapa ao sacrifício à deusa Árte...

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Ifigênia recusa a morte pela glória pan-helênica, depois a aceita, convencida pelo pai. Arrebatada, ela escapa ao sacrifício à deusa Ártemis, para viver como sua sacerdotisa, em Táuris, numa espécie de morte em vida. Ifigênia tem razões por que não querer se doar em imolação à causa de Agamêmnon. Ela é jovem, bonita, filha de um poderoso rei e será, um dia, uma rainha de outro rei também poderoso. Aliás, o que a atrai de Micenas a Áulis é a proposta falsa, que o pai lhe envia, de que ela casará com Aquiles. Por outro lado, ela considera que viver é muito bom, “pois doce é ver a luz do sol” (hēdù gàr tò fōs blépein – Eurípides, Ifigênia em Áulis, versos 1218-1219).

Eugène Rougon é um advogado de província, nascido em Plassans, sul da França, que busca Paris como uma maneira de melhorar a vida. Advogad...


Eugène Rougon é um advogado de província, nascido em Plassans, sul da França, que busca Paris como uma maneira de melhorar a vida. Advogado medíocre, mas com um pendor todo especial para a política, logo ele percebe as reais intenções de Charles-Louis Bonaparte, eleito democraticamente presidente, na instauração da Segunda República Francesa, em 1848. Tornando-se seu acólito, Eugène apoia e ajuda a urdir o golpe de Estado de 1851, que tornaria o presidente Louis Bonaparte, no ano seguinte, o imperador Napoleão III. Feito ministro, ele se torna sua Excelência Eugène Rougon, presidente do Conselho de Estado, segunda pessoa do imperador.

Gavroche é o espírito parisiense em forma de criança. Mas não uma criança qualquer. Gavroche é o que o francês chama de gamin , no seu prim...

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Gavroche é o espírito parisiense em forma de criança. Mas não uma criança qualquer. Gavroche é o que o francês chama de gamin, no seu primeiro sentido, de viver a brincadeira e as licenciosidades das ruas, com espírito crítico, gozador e libertino. Para a época de Hugo, introdutor da palavra na língua francesa literária, com Notre-Dame de Paris (1831) e Claude_Gueux (1834), gamin era termo da língua popular não digno de frequentar o vocabulário dos grandes escritores. Hugo associa definitivamente o vocábulo a Gavroche, personagem memorável de Les Misérables (1862). Tão memorável que repercutiu em nosso Cruz e Souza, no célebre soneto “Acrobata da dor” – “Salta, Gavroche, salta, clown, varado/Pelo estertor dessa agonia lenta...”