Entre tantas ideias sobre a O.A.B., sempre pensei que o Presidente nacional da Ordem deveria ser eleito diretamente por todos os Advogad...

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Entre tantas ideias sobre a O.A.B., sempre pensei que o Presidente nacional da Ordem deveria ser eleito diretamente por todos os Advogados do Brasil. Igualmente sempre defendi que os Conselheiros deveriam ser escolhidos de forma individual e não no formato chapa caixão. Por fim, tenho algumas ideias para otimizar o Judiciário com uma participação maior dos Advogados.

Todos que militam sabem que uma audiência para ouvir testemunhas é um dos atos mais desnecessários que um Juiz pode praticar. No entanto perde-se muito tempo e o mais das vezes não há qualquer contribuição para o processo. Primeiramente porque se uma parte indica uma testemunha é de se esperar que, mesmo não mentindo, essa testemunha nada diga de esclarecedor que possa prejudicar quem o convidou a depor.
Já se disse que a testemunha é a prostituta das provas. Mas o que nenhum político até hoje enxergou na feitura das leis que cuidam dos processos judiciais é que normalmente as duas partes em litígio têm seus advogados, pois não?

Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Pr...

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Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Presidente o destinara: acolher a graça e a fineza espiritual da Paraíba representada pelas futuras normalistas.

Beleza a que não podia faltar, como na vida mesma, o seu contraponto de tragédia. A de Sady Castor e Ágaba, trazida à luz por Deusdedit Leitão.

Tempos difíceis neste presente, que nos conduz a revisitar o presente passado, e, se possível, mergulhar no presente futuro, como nos en...

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Tempos difíceis neste presente, que nos conduz a revisitar o presente passado, e, se possível, mergulhar no presente futuro, como nos ensinou Santo Agostinho. Neste mergulho ao passado, tenho incessantemente procurado ir a lugares, procurado amigos que o tempo e a distância esconderam. Buscando reeditar velhos e bons afetos. Foi assim que encontrei Cristovam Buarque, com quem tive uma grande convivência na diáspora parisiense durante a ditadura.

Quando publiquei o livro de crônicas “Recado do meu sítio”, em 2007, com prefácio de Carlos Romero , o poeta Luiz Augusto Crispim fez um c...

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Quando publiquei o livro de crônicas “Recado do meu sítio”, em 2007, com prefácio de Carlos Romero, o poeta Luiz Augusto Crispim fez um comentário que trouxe regozijo.

Desejo partilhar com os leitores deste privilegiado espaço de divulgação das artes e de saberes, o depoimento do cronista que, mesmo ausente, sua voz chega aos ouvidos com estímulo para continuar escrevendo.

Meus amigos Germano Romero e João Batista de Brito se queixaram, quase simultaneamente, expressando o seu descontentamento a respeito da ...

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Meus amigos Germano Romero e João Batista de Brito se queixaram, quase simultaneamente, expressando o seu descontentamento a respeito da nossa música. O que terá acontecido com a nossa música? Nada se ouve além de uma batida repetitiva, com frases chulas e muito abaixo da linha da inteligência. Um golfinho faria melhor.

de meu livro HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA , ed. Bertrand Brasil, 2005. Finalista do Jabuti em 2006, Prêmio Graciliano Ramos, da UBE – ...

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de meu livro HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA, ed. Bertrand Brasil, 2005. Finalista do Jabuti em 2006, Prêmio Graciliano Ramos, da UBE – Rio 2006. Apareceram, primeiramente, mil deles, na coluna Contos Reais, do hoje extinto jornal O Norte. Ao sentir falta de tragédias contemporâneas nesse meu novo livro, selecionei 126 dessas histórias colhidas na imprensa da época. Em 2011, quando completei 70 anos, um grupo de compositores liderados por Eli-Eri Moura, criou a CANTATA BRUTA (com orquestra, coro, solistas e narradores ), a partir de uma pequena seleção deles. Aqui vai uma amostra maior:

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Viajando para São Paulo em seu próprio carro - dez minutos depois de deixar a casa de uma tia em Moji das Cruzes, numa noite chuvosa de domingo - o equilibrado Luiz Augusto Andrade Keller, 21 anos, bancário, estudante de direito, começa a sentir uma ansiedade injustificável, uma estranha sensação no estômago e que evolui para a taquicardia, o sufocamento, a sede incontrolável, o desespero. A coisa é tão forte, que ele abandona o carro e sai correndo pelo acostamento da estrada. Resgatado por amigos, submete-se a uma bateria de exames clínicos que nada revela de anormal. Mas o fenômeno o afeta muito. E passa a se repetir. Só dois anos depois da crise inicial, entretanto - quando já não consegue mais sair de casa - descobre que aquilo tem um nome: Síndrome do Pânico.
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1994. Iracema Soares - 38 anos, separada, um filho, empregada doméstica salário mínimo, vivendo em Rio do Sul, interior de Santa Catarina - pede dinheiro emprestado e viaja 800 quilômetros de ônibus até São Paulo. É a primeira na fila para ver o ídolo - Ayrton Senna - morto.
- Ele era o único orgulho que eu tinha - revela - A minha vida não é para se orgulhar - acrescenta - A minha vida é muito dura.
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Deitado em seu leito de hospital, o psiquiatra canceroso Richard Faw - 71 anos - em estado terminal - tem três agulhas espetadas no braço, ligadas a três garrafas de soro contendo substâncias mortíferas. Em seu colo, a tela de matriz ativa de um laptop exibe a mensagem:
“Se você teclar o botão com o SIM, uma injeção letal o matará em 30 segundos.
Quer prosseguir?”
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O pessoal do garimpo na selva amazônica, em Trombetas, no Pará, tem a mania - nos domingos - de beber, deitar na rede, sentir um vazio por dentro, empunhar o revólver, ficar atirando à toa para o chão - pei pei pei.
É o vacorado.
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O vulcão Ruapehu, numa das ilhas do norte da Nova Zelândia (entre as cidades de Auckland e Wellington) já há quatro dias arremessa rochas incandescentes, lava e vapor a até 3.000 metros de altura, com ameaçadoras colunas de cinza tingindo o céu de tons catastróficos, depois caindo em forma de chuva negra sobre um terremoto de 4.9 na escala Richter. Por isso os vôos estão suspensos, as estradas fechadas, decretado estado de alerta numa área de 100 quilômetros ao redor. Mas quando o Ministro da Defesa fica sabendo que a previsão é de que a erupção pode durar meses, ordena o fim das interdições:
- Temos de aprender a conviver com isso!
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“Ao voltar do desmaio, vi que estava sozinha no Parque Aliança, assaltada e estuprada. Minha bolsa e meus documentos estavam espalhados no chão, mas não peguei nada. Saí dali descalça, a roupa rasgada, e comecei a pedir socorro. Ninguém me ajudou. Essa é mais uma dor que tenho no peito: as pessoas passavam, eu pedia socorro, ninguém me olhava”.
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A radioterapia debilita Pedro Collor, em Nova York. Quatro tumores malignos no cérebro, um coágulo no pulmão. Ele emagrece, os seus cabelos caem, sua cabeça cobre-se de feridas, o lado esquerdo do corpo paralisa-se, ele usa um fraldão para evitar que se suje.
Quando lhe contam, por telefone, que Fernando foi absolvido pelo Supremo, repete, com voz pastosa:
- Ótimo... Ótimo... Ótimo... Ótimo...
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Arnulfo Arias é eleito presidente do Panamá em 1940 e derrubado em 41. Eleito novamente em 48, é deposto em 49. Reeleito em 68, troca os comandos da Guarda Nacional e adverte os militares de que, daquele momento em diante, estarão recebendo e acatando ordens de prefeitos e governadores. No dia seguinte está refugiado na Zona Americana do Canal do Panamá, enquanto o coronel Omar Torrijos toma o poder “para evitar uma ditadura”.
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O veterano da Segunda Guerra espancava os filhos. Sua mulher era viciada em remédios pra dormir. O menino mais velho tinha surtos psicóticos, era dependente de remédios e - depois de ver que tinha passado os 50 anos de sua vida trancafiado em casa sem sexo - suicidou-se. O mais novo gostava de molestar sexualmente as mulheres nas ruas de São Francisco e - quando estava em casa - meditava numa cama de pregos. O filho do meio - Robert Crumb - foi pra França, tornou-se o desenhista guru da contracultura, famoso nos anos 60 e 70 por suas histórias em quadrinhos de traços sujos, humor corrosivo, roteiros que falavam de sexo, drogas e incesto.
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Texas, 1992. Steven Allen Butler - engraxate negro de 28 anos, casado, pai de um menino - cumpre em liberdade sentença por ataque sexual a uma menina de 7 anos, quando estupra outra, de 13. Ameaçado de pegar prisão perpétua, propõe castração como alternativa. Com a concordância da família da segunda vítima e da mulher de Butler, o juiz fecha a transação.
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Levado ao cemitério de North Lauderdale, Flórida, pelo programa “Aconteceu Assim”, da Rede Telemundo - para um depoimento diante do túmulo de sua filha que se suicidara grávida aos 15 anos - Emílio Nuñez é surpreendido pela aparição da mãe da menina - Maritza Muñoz - de quem está separado. Aos gritos, ele corre para o carro, apanha a pistola, dispara 12 tiros na ex-mulher e foge. Tudo diante da câmara da TV.
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Bombardeadas há catorze meses pelos sérvios, multidões lotaram o teatro da capital para escolher a Miss Sarajevo Sitiada 1993. À vencedora - Imela Nogic, 17 anos, com cicatrizes de estilhaços de bombas nas pernas - perguntou-se sobre seus planos para o futuro. E ela:
- Não tenho.
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Janeiro de 1994. A maioria dos americanos acompanha o julgamento de Lorena Bobbit - a manicure equatoriana que cortara o pênis do marido - transmitido ao vivo pela CNN . A certa altura, entretanto, suspende-se a reportagem para mostrar imagens - também ao vivo - do Presidente Clinton com o chefe de governo ucraniano Leonid Kravchuk, para uma notícia importante: a terceira potência nuclear do planeta concorda em abrir mão de seu arsenal atômico. Quase 600 telespectadores ligam para a emissora, protestando contra a interrupção.
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Francis Rech Aguiar, campeão estadual na categoria infanto-juvenil de tae-kwon-do, tem vergonha de sua arcada dentária e dá entrada no Hospital Saúde, em Caxias do Sul, para ser submetido à extração de um dente incluso, com anestesia geral. A cirurgia não demorará mais que uma hora, segundo o cirurgião-dentista . Demora três. E Francis sai dela tetraplégico, em coma.
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O carpinteiro espanhol Albert Contijoch - testemunha de Jeová - nega-se a prestar serviço militar no regime de Franco e é condenado a um ano de prisão, com reapresentação obrigatória no próximo período. Aí ele repete a recusa e é condenado novamente, coisa que acontece outra vez no ano seguinte, pelo que acaba amargando um total de 11 anos atrás das grades, só sendo deixado em paz quando passa para a reserva.
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O advogado Nivaldo Miranda - diretor de recursos humanos do Grupo Rui Barreto - comanda um processo de enxugamento, nesse conglomerado de empresas, que reduz o quadro de pessoal de 1.100 para 600 empregados. E é demitido.
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Bosko Brckic - sérvio - e Admira Ismic - muçulmana - vivem juntos há 9 meses, em Sarajevo - capital da Bósnia. Com a eclosão da guerra entre seus clãs, decidem fugir. São derrubados por uma rajada de balas ao cruzarem a Ponte Vrbana - entre a área sérvia e a muçulmana. Bosko morre na hora, Admira arrasta-se até ele, abraça-o, falece logo depois. Os corpos ficam ali, enlaçados, durante 6 dias.
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Dona Laura Oliveira Rodrigo Octávio - 100 anos - que todos os verões deixa o confortável casarão de Botafogo (com seus 4.000 livros) e vai para a chácara da família no Alto da Boa Vista - vizinha do Morro Dona Marta, um dos mais violentos do Rio - tem um jeito de driblar o medo que os tiroteios provocam nos moradores da região:
- Se estiver com meu aparelho de surdez, eu tiro.
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O estudante Roberto Peukert, 25 anos, ao ser advertido pela mãe por ouvir música em alto volume, mata-a, mata o pai, os três irmãos, enfia os corpos num automóvel, cobre-os com um cobertor e abandona o veículo a dois quilômetros de sua casa.
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Ana Lídia - 7 anos - é sequestrada no Colégio Madre Carmen Salles, quase em frente ao bloco onde vivia com a família adotiva, em Brasília.
Na manhã seguinte, naquele mesmo lugar, seu corpo é encontrado parcialmente coberto de terra, os cabelos cortados irregularmente, marcas de gilete e de unhas nas costas, mordidas no peito, manchas roxas no rosto.
Causas da morte, segundo o laudo do exame cadavérico: “Asfixia por sufocação, lesões vulvovaginais e retais causada por um objeto de borracha, e sevícias posteriores”.
No corpo da menina e nas imediações, três tipos de espermatozóides.
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1995. Cresce a chuva ácida na Europa, mesmo depois de as emissões de enxofre pelas fábricas do continente caírem 30% desde 1980. As imagens captadas pelo sistema Lidar - um radar que lê ecos de raios laser em vez de ondas de rádio - revelam: há uma gigantesca nuvem de compostos de enxofre - de 2.400 quilômetros de extensão - espalhando-se sobre o Atlântico a partir da costa dos Estados Unidos, rumo ao Velho Mundo.
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Às 9 e 10 da manhã do domingo, todos ainda dormem quando o atormentado Passos desce à garagem, coloca a guilhotina sobre uma bancada, abaixa as calças , posiciona-se, reza... e solta a lâmina.
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Noite de domingo, 1994, num sobrado do bairro do Tatuapé, São Paulo. O bancário Anderson Suganuma, 17 anos, mostra o Taurus 38 ao amigo Antonio Carlos Alves Iaquinto, e diz: - Veja como eu costumava assustar meu primo.
Descarrega cinco balas no outro, deixando a sexta na arma, que leva à cabeça, apertando o gatilho.
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Para comemorar o dia internacional de luta contra as drogas, 262 tribunais espalhados pela China julgaram 1725 pessoas acusadas de tráfico de entorpecentes. Quase 800 foram condenadas à morte. Desse total, 200 receberam o tiro na nuca antes do pôr-do-sol, com o preço das balas cobrado da família dos condenados.
90

Fernanda, 12 anos, está indo para a escola da Fazenda Serrinha, a 38 quilômetros de Goiânia, Goiás, quando é atacada por Vicente e João Maria - dois conhecidos da família dela. Arrastada para o matagal, é estuprada, degolada, o sangue recolhido de seu pescoço conservado durante quatro dias numa geladeira e depois bebido com farinha, azeite-de-dendê e cachaça, num ritual realizado no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília, comandado pelo pai-de-santo Edmilson Barbosa da Silva, para livrar João Maria da impotência sexual.
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O pintor norueguês Edvard Munch vinha caminhando com amigos sobre uma ponte, quando foi surpreendido por um pôr-de-sol de devastadora beleza. “Léguas de fogo e sangue se estendiam sobre o fiorde negro-azulado.

Meus amigos seguiram caminho e eu me detive apoiando-me no corrimão, tremendo de medo”
Levou dois anos para conseguir transformá-lo no quadro “O Grito”.
102

15 anos, moreno, franzino, cabelos encaracolados, ele aperta a campainha da casa de Paulina Biernack - de 74 - em Curitiba. Ela atende, leva alguns tiros de calibre 22 e morre.
O rapaz é preso pela qüinquagésima-sexta vez quando, sem acompanhamento musical, dança freneticamente, sozinho, numa rua da turbulenta favela do Valetão.
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Durante nove dias Susan Smith derrama lágrimas na televisão americana, implorando pela vida de seus filhos Alex - de 1 ano - e Michael - de 3 - seqüestrados durante um assalto. A verdade sobre o crime é logo conhecida: a mãe confessa ter jogado o carro dentro de um lago, com os filhos presos no banco de trás, para agradar o namorado, que não gosta de crianças.
107

Daniela Teixeira, 19 anos, estudante de publicidade, assiste ao documentário “Faces da Morte I” e se encanta tanto com a cena da cadeira elétrica, que a vê três vezes. O condenado tenta livrar-se das amarras quando lhe danam a descarga de 2.000 volts, uma secreção gelatinosa lhe escapa da boca e escorre um filete de sangue de seus olhos vendados.
- É nessa hora que vibro - diz Daniela - Quando jorra sangue é demais!
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Stella Bizerian, 69 anos, não consegue entrar em casa, em Worcester, Massachusetts, porque a fechadura está coberta de gelo. Vai pedir ajuda à vizinha, mas ela não abre a porta com medo de assalto. Stella morre congelada na rua.
111

Radovan Karadzic - líder sérvio responsabilizado pela execução de milhares de croatas e pelo estupro utilizado como arma de guerra e pela expulsão de milhões de cidadãos de suas casas, na Guerra da Bósnia - leva um convidado até um posto de artilharia, numa colina acima de Sarajevo, e lhe oferece a oportunidade de dar alguns cachonaços na cidade.
O convidado atira até se fartar.
114

A inglesa Mary Flora Bell - de 11 anos - foi condenada em 1968 por estrangular dois meninos de três anos em um intervalo de dois meses. Foi denunciada pelos desenhos que fazia em seus cadernos escolares, mostrando as cenas dos crimes.
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As primeiras vítimas do pistoleiro pernambucano Mário Pereira de Almeida, de 15 anos, são três rapazes que estupraram e assassinaram sua namorada Adriana, de 16 anos. Quando atira no primeiro, chega a se perguntar se isso está certo. Com os outros dois, é diferente: coloca um pneu na cintura de cada um, despeja um litro de gasolina na cabeça deles, toca fogo e fica olhando.
- Eles merecem.
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Madrugada. O ônibus pára em frente ao Supermercado Novo Mundo - no bairro de Teriaçu, Rio de Janeiro - onde uma multidão limpa as prateleiras e joga tudo pra fora. Descem todos os passageiros, cobrador e motorista, apanham o que podem levar... voltam ao ônibus e vão-se embora, na maior animação.
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Em certa madrugada de 1977, Maria Helena Ferreira dos Santos estrangula com um cinto duas outras internas do pronto-socorro psiquiátrico do Hospital Pinel, no Rio. Vai matar mais uma quando é surpreendida pela enfermeira.
O diretor da Divisão Nacional de Saúde Mental - o médico Roberto Guimarães - pergunta-lhe o que a levara a isso.
- Tenho uma missão na Terra - disse-lhe ela - matar 97 comunistas que querem destruir o Brasil.
Referia-se à lista atribuída ao ex-ministro Sylvio Frota com os nomes de 97 supostos subversivos infiltrados no governo.
- Agora só faltam 95 - contabiliza.
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O programador de sistemas Renato Trevisan, sem suportar o choro da filha Taciane, de 3 anos, deu várias garrafadas na cabeça dela, chutou-a e pisoteou-a, rompendo-lhe o fígado, baço, rins e a coluna. Só parou quando a viu morta.

Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria de coisas que o faziam be...

miniconto solidao presente passado
Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria de coisas que o faziam bem.

O azul foi se tornando cinza e algumas pessoas outrora queridas perderam o encanto e a sutileza em ser grácil, mas nunca simplório, que o tocava e promovia o bem ampliando e prometendo vida.

Sempre que ouço Avôrai, uma das mais belas canções de Zé Ramalho, que fala do seu avô, um tipo bonachão e ao mesmo tempo árido como a terr...

fe ajuda caridade conselho despertar cura espiritual
Sempre que ouço Avôrai, uma das mais belas canções de Zé Ramalho, que fala do seu avô, um tipo bonachão e ao mesmo tempo árido como a terra do agreste, vem à lembrança mestre Horácio. Como Avôrai, Horácio era um velho de botas longas, barba longa e branca, e alforje de caçador. Morava numa casa simples de duas águas, num cabeço de serra cercado por mato denso, cortado por caminho de pedras, serpenteado, difícil de subir.

Juarez Félix, repórter, redator e editor da Página Policial do saudoso jornal O NORTE, de João Pessoa, às vezes gostava de inventar "...

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Juarez Félix, repórter, redator e editor da Página Policial do saudoso jornal O NORTE, de João Pessoa, às vezes gostava de inventar "personagens" para aumentar o índice de leitura de suas notícias. Uma dessas invenções foi a "Mulher de Branco da Lagoa", um fantasma do gênero feminino que aparecia, à noite, na Lagoa do Parque Solon de Lucena, assustando passantes, motoristas e outros incautos.

Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra...

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Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra no velho ditado: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Os apaixonados são movidos por razões que só Freud explica – e aqui não me limito a repetir um clichê. Para o criador da Psicanálise nossa atração pelo objeto amoroso decorre de nebulosas determinações inconscientes, que remontam às vivências infantis.

É a lei da natureza. O leão come o antílope, o lobo come a ovelha, a raposa come a lebre, e assim por diante. É a lei da selva, mas também...

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É a lei da natureza. O leão come o antílope, o lobo come a ovelha, a raposa come a lebre, e assim por diante. É a lei da selva, mas também dos oceanos, onde os peixes maiores comem os menores e estes, por sua vez, se impõem aos seres que lhes são subalternos. Por ser natural, essa lei é isenta de considerações morais e religiosas, ou seja, antecede e ultrapassa o mundo da cultura, existindo simplesmente como algo que “é”, o que significa, filosoficamente falando, que pertence à esfera do “ser” e não à do “dever-ser”.

Gostaria muito de saber quem inventou essa história de melhor idade. Foi garimpar na imensidão de sua insensatez um eufemismo ridículo pa...

cronica velhice juventude envelhecer dificuldades
Gostaria muito de saber quem inventou essa história de melhor idade. Foi garimpar na imensidão de sua insensatez um eufemismo ridículo para tentar dar algum colorido à palavra velhice. Não conseguiu.

Como pode alguém em sã consciência apelidar o outono de nossas vidas de “melhor idade”? Ao que me consta, melhor idade é a da adolescência quando nossa saúde está em sua plenitude e nossos sonhos só aguardando a vez de serem realizados. Estou dizendo dos possíveis e dos que não são. Mas nessa fase da vida, tudo para nós é factível: para a rapaziada,

A angústia acompanha a história do homem desde a antiguidade. Impossível separar sua presença a partir da certeza da morte, e, a perspecti...

A angústia acompanha a história do homem desde a antiguidade. Impossível separar sua presença a partir da certeza da morte, e, a perspectiva da fatalidade leva ao teatro do disfarce, da ilusão e da fuga.

“A angústia nos suspende porque ela põe fuga o ente em sua totalidade” (Heidegger)

Para atingir a sabedoria de mesclar a dor existencial com um pouco de alegria, surge a pressa de viver intensamente cada segundo, de nada perder, de consumir emoções como se não houvesse um só amanhã. As viagens são as opções comuns, pois transportam o indivíduo para “outro” lugar diferente do lugar da questão, e fora do seu mísero controle. Nas malas maiores seguem os sonhos de idealização e nas menores, as fantasias do que será minimamente necessário para esquecer.

Vi, tempo atrás, num canal da tevê a cabo, um desses filmes em que a personagem central ganha vida quase eterna. A história tem seu começo...

filme adaline reencontro juventude eterna
Vi, tempo atrás, num canal da tevê a cabo, um desses filmes em que a personagem central ganha vida quase eterna. A história tem seu começo ambientado nos anos de 1930. Filme americano, é claro.

Conta a saga de uma moça envolvida num acidente de carro, em noite de tempestade. Caíra, ao volante, num lago extremamente frio e, como se isso já não bastasse, veio-lhe um raio na cabeça. Alguém que passava por perto acionou o socorro médico.

A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo ...

cronica nostalgia mae amizade cronica gonzaga rodrigues
A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo de José Maranhão, que sobrou no livro que assinei com Ângela Bezerra de Castro, a ele dedicado, e veio se consolidar por aceitação real da cidadania. Arrisco uma olhadela para a clientela da praça da alimentação até deter-me no café, a um canto, onde uma moça

O movimento romântico nas artes com frequência nos inclina a apuradas reflexões, principalmente no mundo da Música. Não que a delicadeza b...

scriabin musica sinfonica romantismo liberdade erudita classica russa poema extase
O movimento romântico nas artes com frequência nos inclina a apuradas reflexões, principalmente no mundo da Música. Não que a delicadeza bem comportada das obras barrocas, ou ainda mais antigas, não sugira devaneios à emoção, mas os românticos como Scriabin, Mahler, Bruckner, Sibelius, Strauss, Wagner, Saint-Saëns, Shostakovich, extrapolaram os limites da imaginação ao quebrar as barreiras da estética clássica de maneira arrebatadora.

Tal ruptura de formas e padrões da estrutura harmônica dominante nos períodos anteriores também ocorreu na literatura, poesia e artes plásticas, quase concomitantemente. A efervescência dos sentidos exacerbou-se rumo à liberdade de expressão, a desatar tudo o que havia preso nos recônditos do consciente e do inconsciente emocional. O sensitivo irmanava-se
Jean Delville
à intuição artística moldando o grito entusiasmado das ideias em linguagem livre e cristalina.

Os dramas épicos e nacionalistas aliavam-se à impetuosidade da paixão, trágica ou lírica. Uma tendência de total flexibilidade das formas pré-estabelecidas potencializava arroubos poéticos comuns a afeições inerentes à saudade, à alegria, ao amor, à angústia, à tristeza e à desilusão. A protagonização romanesca traduzia e relatava, enfim, tudo o que ocorria no âmago do ser.

A revolução francesa contribuiu para que a reconfiguração da arte eclodisse contagiada com o espírito de independência transformadora de tudo convencionado até então. Embora outras rebeldias, íntimas ou não, próprias da evolução e da história da humanidade tenham contribuído para a epopeia da fantasia. E tal influência foi assim estendida às demais manifestações artístico-culturais.

Altas doses de egocentrismo temperaram textos, poemas, sinfonias, pinturas e até mesmo a filosofia, destacando impulsos individuais acima de tudo, por vezes sob exagerado subjetivismo. E o esplendor da estrondosa e instigante beleza da Natureza e seus fenômenos atemorizantes fez o homem interagir com o eu lírico, exprimindo com toda força o que vivenciava no momento narrado. A criação divina influenciava e se retratava no estado de espírito do artista, do qual emergiam inspirações que advinham do grotesco ao medievalismo, do bélico ao pacífico, do trágico ao suavemente poético.

Jean Delville ▪ 1885
Houve, no entanto, românticos autênticos ou tardios que captaram intuitiva e espiritualmente a quintessência mística, transcrevendo para as suas composições a ousada e grandiosa imagem da Divindade.

O compositor russo Alexander Scriabin (1872-1915) é autor de uma obra profundamente romântica, na qual a dramaticidade não se restringe aos aspectos voluptuosos da paixão ou da tragédia. Há nos seus poemas sinfônicos e sinfonias um contexto de densidade transcendental arrebatador. Pois ele próprio dizia ser o artista “fruto de uma designação divina”.

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Alexander Scriabin

Um exemplo “clássico não clássico” dos rompantes modernistas é o seu “Poema do Êxtase” (opus 64), original e intencionalmente literário para se transformar posteriormente em música sinfônica. Sua mensagem em busca do nirvana já se revela em um dos 369 versos, do próprio Scriabin, também poeta, que serviria de base para a obra:

Chamo-vos à vida, forças misteriosas, Afogadas nas profundezas obscuras do espírito criador, Tímidos esboços da vida. A vós trago a audácia.

Tão entusiasmado estava com o novo trabalho que disse, em carta, à sua (segunda) esposa, Tatiana de Schlözer:

“Acabo de escrever um monólogo com as cores mais divinas. Novamente sou arrastado por uma enorme onda de criatividade. Mal consigo respirar. Oh!, que benção! Estou a criar divinamente em um novo estilo, e que alegria é vê-lo tomar forma tão bem! (...) Por vezes, o efeito do poema é tão potente que não é necessário conteúdo algum. Estou a exprimir – neste poema – o que virá a ser o mesmo como música.”

Passaram-se 3 anos, de 1904 a 1907, para que o Poema do Êxtase fosse concluído, após várias transformações, todas livres de quaisquer limites formais, estreando em dezembro de 1908, em Nova York. O desejo do autor era realmente esse, transcender, extrapolar, descrever a jornada da alma às esferas superiores, no ondulado ritmo da evolução humana. A música assim cresce, indo e vindo se robustece, para atingir um auge de sonoridade de extasiante luminescência.

Jean Delville ▪ 1932
Logo após a estreia em seu país, na capital São Petersburgo, a crítica convergiu quase unânime ao classificar o Poema do Êxtase como “a obra mais ousada em toda a música contemporânea”. Enfim, a liberdade musical fora alcançada com excelsa sublimação das reações íntimas diante da arte, em busca da iluminação, confessada pelo próprio autor:

“Ama a vida com todo o teu ser e serás feliz como nunca. Não temas ser o que queres ser. Não tenhas medo de teus desejos. Não temas nem a vida nem o sofrimento. Não há nada maior do que a vitória sobre o desespero. Não tenhas medo, jamais, de desejar e de fazer o que tu bem quiseres”.

Imbuído de total desprendimento, sempre associado à plenitude, Scriabin consegue, em pouco mais de vinte minutos, condensar a nítida imagem da ascensão à espiritualidade. No início a música sugere o tatear da pureza, da ignorância, da simplicidade, e, aos poucos, ao longo do poema, faz a alma expandir a consciência, iluminar-se.

O início é suave como um despertar e se consolida aos poucos à vigília. O tema composto por três intervalos ascendentes e consecutivos de duas notas, inúmeras vezes tocados pelos trompetes, estão presentes em toda a partitura. Os metais têm uma participação enfática ao executá-lo conferindo o caráter solene de anunciação de uma meta, de um objetivo: o êxtase místico, a grandiosa ponte que Scriabin edificou entre o humano e o divino.

Jean Delville
O adensamento sinfônico enriquece-se passo a passo com a diversidade de timbres e espectros melódicos que se contrapõem em complexidade perfeitamente unificada na harmonia de conjunto. Na incisiva jornada ao auge epifânico, a música oscila entre forte e piano, entusiasmo e suavidade, e assim evolui para o glorioso clímax . Toda orquestra ruge, com tímpanos, gongo, sinos e colaneri a explodir no portentoso frenesi que tão bem singulariza o universo sonoro de Scriabin.

Ao final, descortina-se então a visão panorâmica contagiante capaz de nos conduzir às cintilantes órbitas celestiais. É quando os ouvidos transmitem intensa comoção aos olhos que, mesmo cerrados, lançam-se na exuberância do cosmo irradiando-se em direções antagônicas, do infinito imaginário à realização do ser interior.

Jean Delville
Logo após a explosão sinfônica que finaliza o poema, o espírito agora reconfortado respira pela última vez, e consagra seu renascimento no glorioso clímax do pungente epílogo , tal como Richard Strauss magistralmente alcançou na conclusão de seu célebre trabalho “Morte e Transfiguração" (Tod und Verklärung, 1891 - Eisenach).

Ao ouvir o Poema do Êxtase, conclui-se que os efeitos da arte que extrapola, que ousa, que se desgarra do que é óbvio, das convenções contextuais, invariavelmente fortalece a convicção de que a liberdade é extasiante. Aprendamos então com os românticos. Vivamos nossos sonhos. Inovemos, criemos o incomum, abracemos aquilo que nos compraz, deixando explodir aos céus tudo o que é intimamente belo, sem medo de ser livres. Completamente livres.