Quem é essa mulher, Que, em ato de pura abnegação, A fim de que existamos, Empresta-nos o próprio corpo Para servir de abrigo Ao nosso corpo em formação? Ela, em interessante estado, Vê seu corpo transformado, Através de uma tempestade hormonal, Crescem-lhe o ventre e os seios, Transformam-se as emoções e os anseios, E a sua vida passa a ser de espera, Aguardando-nos por nove meses, Para nos conhecer e recolher em seus braços, A sua aguardada quimera.
POEMA ÀS MÃES Quem é essa mulher, Que, em ato de pura abnegação, A fim de que existamos, Empresta-nos o próprio corpo P...
Amemos as nossas mães
Quem é essa mulher, Que, em ato de pura abnegação, A fim de que existamos, Empresta-nos o próprio corpo Para servir de abrigo Ao nosso corpo em formação? Ela, em interessante estado, Vê seu corpo transformado, Através de uma tempestade hormonal, Crescem-lhe o ventre e os seios, Transformam-se as emoções e os anseios, E a sua vida passa a ser de espera, Aguardando-nos por nove meses, Para nos conhecer e recolher em seus braços, A sua aguardada quimera.
O quadro " Intervalo" - de Edward Hopper -, que ilustra este texto, capta o vazio que já senti tantas vezes entre duas sessões ...
Angústia da Criação
O que gela O que gela na madrugada a mão que contorna, na névoa densa, o círculo do Mundo? Assustada, a fala pe...
Glaciais
O que gela na madrugada a mão que contorna, na névoa densa, o círculo do Mundo? Assustada, a fala perde-se, alçada aos equívocos do Céu. E nela, a amada a pele, tardam os pelos rijos: orvalho e desespero. O que gela na madrugada é a corda rota, a derradeira gota de suor da morte interrompida. O que gela, e o amanhecer retarda: a paralisia da mandíbula, o couro macerado na fuga. Os livros
Os livros são meu celeiro de devaneios. Onde adormeço na dobradura do tempo pênsil -, no desfiladeiro de um cotidiano que nos semeia no nada. Os livros abraçam minha loucura atordoada pelo semblante de homens dignos, sóbrios e austeros, óbvios e dissonantes. Os livros me permitem compartilhar silêncios, dissolver urgências, contagiar os dias com angústias bem-vindas. Os livros me batem me chamam de homem e me despem, na cara, sádicos. Cronópio
Sou o fiel depositário de um torrão de açúcar. Guardei um tanto de giz entre as unhas (pó de palavras) e essa lasca de marfim do túmulo profanado dos paquidermes. Isso basta, na trégua precária, no gargalo desse vulcão que hiberna em estado de flor. Polvilho as relíquias, pois ignoro a espessura das trevas. O inverno é longo, o bastante para que a neve reaja a esses rudimentos de liberdade extinta. Haverá um tempo de degelo, águas e correntezas; de uma outra dimensão por detrás dessa moldura vazada. Caronte aguarda o sal da terra. Os demônios (e os cronópios) sempre souberam que para o sobrevivente a primeira qualidade do sonho é ser corruptível. Celebração
Rolam seixos, nuvens rasantes montes vazam da escuridão como uma promessa. antecipam os passos, Satélites tombam do céu em pane riscos rubros ao vento, incapazes de rastrear o corpo em transe, despido de sofrimento. (O disfarce da órbita é desviar-se do óbvio.) Latitudes e longitudes não reconhecem minha insignificância desapego. Encerraram-se as buscas e suas obtusas formalidades. Os cafés estão lotados, as ruas perversas distendidas, os corações famintos. Desço as encostas que permanecerão indiferentes; busco as cinzas contemporâneas e os cipós atlânticos. Do horizonte de um azul cambiante chega a esquadra de helicópteros de papel lançados do edifício antigo trazendo meus olhos. A serenidade possível, sem um deus, não está ao alcance dos eus idealizados, mas no sujeito cuspido e escarrado, despido de deslumbramento marcado. Tédio
Certa profundidade se demora nos olhos fechados. Sim, pesa o tempo, e cada pálpebra ressente o fulgor esquecido. O brilho repousa cada vez mais. - ontem - O nada é um cansaço que dá sono.
Vinte e cinco anos antes de morrer, Beethoven escreveu um pungente testamento. Um retrato de sua existência assinalada por sofrimentos ...
O testamento de Beethoven
Charles Estarréte, na gostosa pronúncia do interior. Mas também podem chamá-lo de Durango Kid. Naqueles finais da década de 1950, os pés d...
Durango Kid
A Fundação Joaquim Nabuco está se associando aos 80 anos que a nossa Academia de Letras comemora, este ano, precisamente no 14 de setembro...
A última ou a mais nova
Autorretrato De superfície… Jamais! Detesto coisas rasas. Atiro facas, quebro correntes Deságuo rios de palavras crua...
Moldada em maresia
De superfície… Jamais! Detesto coisas rasas. Atiro facas, quebro correntes Deságuo rios de palavras cruas, reviro os céus. Nem os anjos me acodem em tais momentos Minha sede pede mais que um copo d’água. Nada me marca com um simples arranhão Vou ao fundo do fundo.
Ele sai à noite, pelas ruas adormecidas ao encontro de passados abandonados, na tentativa de construir seu futuro. E no momento do desen...
Marcas doloridas da realidade noturna
E no momento do desencontro entre dia e noite, acha, acolhe e recolhe, o quê para uns já não tem serventia.
Sapatos que não andavam mais, aliviarão seus calos.
A poesia de Augusto dos Anjos tem sido objeto de múltiplas avaliações. A riqueza imagística, a erudição inesgotável e a profundidade psico...
Augusto dos Anjos e a hipótese da reencarnação
Depois da safra do caju, no rastro das primeiras chuvas do ano, nossos olhares estavam direcionados às jabuticabeiras existentes no sítio....
Jabuticabeiras de Serraria
Em verdade, os tons de harmonia e tranquilidade da paisagem apolínea cultivada desde a Grécia clássica, atualizados hoje, no cinema, seduz...
As máscaras de Apolo e as exposições dionisíacas
Quem afirma é Rosa Freire D’Aguiar, viúva de Celso Furtado, no prefácio do livro Correspondência Intelectual – 1949-2004, organizado por e...
Coisas do Brasil
“O futuro pertence à jovem guarda, porque a velha está ultrapassada”. A essa frase de Lênin se atribui o motivo do nome dado ao movimento...
A Jovem Guarda
"Se nossas vidas são dominadas pela busca da felicidade, talvez poucas atividades revelem tanto a respeito da dinâmica desse anseio ...
A aventura de viajar no século XX
Alain de Botton, A Arte de Viajar
Lembrei de quando fui a primeira vez à Europa, em 1975, para estudar Inglês em Londres. Depois de um mês, fui viajar por Paris, Estrasburgo, Zurique, Berna, Lucerna, Roma, Florença, Barcelona e Lisboa.
Não possuíamos o savoir faire de viajar, mas na precariedade da experiência, tínhamos muitas malas. Não resisti aos mercados londrinos e me enchi de túnicas indianas de espelhinhos! O companheiro de viagem, de livros de arte e pincéis e tintas e papel couché. Aprendi aí que, não se pode andar com tantas malas! Deixávamos essas benditas no aeroporto e numa malinha fazíamos as mudas para aqueles 5/6 dias nos lugares. Era inverno, então imaginem nesses tempos a aventura o que era vestir pullovers emprestados das primas, casacos que nem sempre estavam na moda, e gorros ridículos! Mas, o conforto era preciso.
Por conta dessa “operação aeroporto”, sempre chegávamos horas antes dos voos para poder trocar as mudas de roupa suja com as limpas. Sim , lavamos roupa na pia do hotel, com sabão de coco que minha mãe cuidadosamente me indicava. Uma vez, queimei um suéter lindo emprestado porque tinha colocado-o para secar no aquecedor do quarto. Cada uma! Pela falta de dinheiro, sempre escolhíamos a hora dos voos em hora de almoço ou jantar... filar a bóia era preciso. Nos voos da Panair!
As quantias eram parcas e por isso em Paris, era Crepe Suzette sempre com uma taça de vinho, nada de água ou café… Numa noite extravagante – um prato de frutos do mar com os mariscos saltitantes e uma taça de vinho branco. Éramos pobres e sabíamos!
Chegávamos na cidade, íamos à estação de ônibus (porque era onde havia hotéis mais baratos), fazíamos check-in, e, depois de ter o mapa da cidade, escolhíamos os locais de visita e imaginávamos quantos dias seriam suficientes para aquele programa. Aí vinha a operação mais complicada. Fazer as contas de quanto dinheiro iríamos precisar.
O dinheiro era curtíssimo, e comíamos na maioria das vezes nas estações de trem. Lembro que, em Zurique, falávamos bóia dos ferroviários, um PF barato e bom. Só não usávamos os macacões. E quando passeávamos nas Strasses, a contemplar os Trams, a distinção de classe era gritante. Aquele povo chique de casacos de peles, e nós com nossas roupinhas caseiras e disformes. Mas o desejo de conhecer o mundo era tanto, que tudo parecia pouco diante da felicidade de jogar moedas na Fontana de Trevi, sentar nos Boulevards de Paris, ou saborear um éclair pelas ruelas medievais de Estrasburgo. Virávamos os lugares pelo avesso. Museus, praças, livrarias, Mercados das Pulgas (para enlouquecer), um crepe ali, uma taça acolá, uma sopa de cebola, uma oração na Catedral Westminster, um assobio em Roma, um beijo na ponte de Florença. Tudo me dilatava a pupila. Com ou sem moeda local!
Sem mapa, nem planejamento prévio, nos lançávamos no abismo do desconhecido. Na Suiça, subimos até Greendwald, nos Alpes, e por estar vestidos inadequadamente, ficamos cegos diante da luminosidade da neve; não tínhamos conhecimento cultural daquelas cidades e por vezes descartávamos programas importantes; fiquei boquiaberta diante de uma paisagem de inverno em Interlaken – Montanhas nevadas, lagos e pinheiros iguais aos calendários que mamãe pendurava na cozinha.
Na Ponte de Waterloo, eu olhava para a Torre de Londres e pensava em Ana Bolena. Minhas aulas de História do Lyceu de Tambiá! E de scone em scone eu seguia pelo mundo, sem lenço, sem documento, e sem nenhuma organização maior para me lançar nos espaços alhures e, quem sabe, intuir o tamanho desse mundo.
Entrei em muitas roubadas viajando no século passado. E também em estórias pitorescas: encontrei Paul & Linda McCartney nas calçadas de Bristol; dormi num quarto comunitário para caixeiros viajantes em Cuzco-Peru; meu ônibus engalhou numa ribanceira em Chichicastenango na Guatemala,
Hoje, quando vejo as viagens, excursões e tantos planejamentos, fico a lembrar, até com uma certa nostalgia, o acaso que era se lançar no mundo. Ficar sem notícias de casa, dos medos de que alguém morresse na minha ausência (e morreram muitos!), do olhar arregalado do meu pai vendo aquela menina que gostava dos países, das línguas e do des-conhecido para além de Goiana.
Ao término da conversa com meus sobrinhos Raphael, Bartyra e Samuel, fiquei viajando nas minhas memórias viajantes. Tantas!
A visita noturna, indesejada, inoportuna e impostora, porém, infalível. Ao penetrar a madrugada, ela desperta e bate à porta, esmurra a ja...
Insônia
O leite era escasso. O que remiu o lactente de 87 anos atrás foi a cabra preta de seu Emídio, morador com casa um pouco acima da várzea de...
O leite era escasso
Meu amigo Germano, nesse pouco tempo em que nos conhecemos, constatei que temos algumas coisas em comum. Uma delas é o amor pelas viagens....
Carta a Germano Romero
A Doutrina Espírita, ou Espiritismo, ensina que Jesus é o Espírito mais perfeito que Deus enviou à Terra, o Messias ou Mensageiro divino,...
Visão do Espiritismo sobre Jesus
Há poucos dias (em 16 de abril), fez cem anos do nascimento do compositor Luiz Antonio. Muitos vão ouvir falar, aqui neste texto, pela pri...
Um bamba da música em um país sem memória
João Cabral de Melo Neto repetia à exaustão que existem dois grupos distintos de poetas: os que escrevem por excesso de ser e os que es...