Teve banheiro entupido, dor de barriga, cachorro dormindo na cama, mulher reclamando e tempo sendo consumido. Depois eu explico a odisseia...

Perdi o busão

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Teve banheiro entupido, dor de barriga, cachorro dormindo na cama, mulher reclamando e tempo sendo consumido. Depois eu explico a odisseia dessa madrugada, porque agora faltam apenas 11 minutos para meu “busão” passar no ponto (“linha 145 / Jardim da Penha”).

Rápido, rápido.

Banheiro, escova, pasta de dente, água na cara, xixi, descarga, baixar a tampa, calça jeans, blusa sem passar, meias... Meias, cadê as meias? Onde tem uma meia? Vai sem meia. Calço os sapatos, abro e fecho a geladeira e não acho nada, celular no bolso, abro a porta, corro no corredor, um instante de sorte, o elevador está me esperando. Não é possível, esqueci a máscara, meia volta, corro muito, coloco máscara, bato a porta,
a mulher grita do quarto pra não bater a porta, corro mais, tropeço no cadarço desamarrado e desliso um metro no chão polido, vejo a porta do elevador se fechar lentamente. Caramba!!! Oito minutos apenas! Aperto 35 vezes o botão do elevador. Lá se foram duas eternidades e... Ufa, chegou.

Como o tempo voa quando só restam 7 minutos para pegar o “busão” e como demora um século pro elevador descer até o térreo. Einstein explica! Abriu, corro em direção ao ponto, não é longe, mas também não é perto, dois quarteirões e uma avenida movimentada para atravessar.

Três minutos restante e já vejo meu último obstáculo transversal e movimentado. O ponto do busão está na minha frente, só que do outro lado, corro até a faixa no semáforo. Aguardo intermináveis trinta segundos, fechou o sinal, vai dar tempo, corro , lá vem ele com o letreiro aceso, estou há dez metros do ponto, faço sinal vigoroso com uma mão, com ambas as mãos, junto as mãos em súplica e grito: Para, para, para, paaaaaaraaaa. Não parou… Pelo menos uns vinte e cinco palavrões se apresentaram no meu cérebro pedindo permissão pra sair pela boca, liberei só uns dois.

Sentado no meio fio desconsolado e de olhos esbugalhados acompanhei o busão-145 se distanciar até sumir na longa avenida.

Liguei pra empresa de ônibus e reclamei que o busão passou alguns segundos adiantado. Uma voz “gerúndica” me informou que aquele era o das 6 horas e que estava atrasado 59 minutos e trinta segundos.

Confesso que apesar de chateado estava com uma pontinha de orgulho da quase pontualidade do meu “busão”. Pura ingenuidade.

Depois do ponteiro dar algumas voltas, lá vem o busão das sete. Acenei, parou, subi, estava lotado, fiquei em pé ao lado da porta analisando as expressões para descobrir quem estava preste a se levantar. Identifiquei uma possibilidade quando a senhora de cabelo vermelho ajeitou a alça da bolsa no ombro e esticou o pescoço, comecei uma migração despistada para perto dela, mas era fake news, quem levantou foi o gordinho que estava cochilando bem na minha frente, tentei voltar, mas a moça de saia de onça foi mais rápida e sentou.

Começo a desconfiar que não estou no meu dia de sorte. O celular começa a tocar. É minha sogra...

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  1. Deliciosa narrativa..Aldo Lugão!!
    Acompanhei seu roteiro aflitivo!!
    Paulo Roberto Rocha

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  2. Muito bom, em ritmo acelerado o movimentado cotidiano do dia a dia

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  3. Rodrigo Travaglia7/7/21 15:22

    Me identifiquei demais hahahaha abraço!

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