Preciso ligar para meu amigo Helder Moura. Não converso com ele desde que o bloqueei no Messenger, no Instagram e no WhatsApp. Ele mesmo, nosso Helder, o jornalista talentoso, o escritor admirável, o amigo de todas as horas, o camarada inscrito nas hostes dos imortais, porquanto membro festejado da Academia Paraibana de Letras.
Helder é daqueles que a gente aponta, sem esconder a vaidade, quando citado numa roda de conversa: “É meu amigo do peito”. Exatamente como faço em relação a velhos companheiros do batente nas Redações paraibanas,
Bloqueei Helder sem pensar duas vezes, sem a menor relutância, minhas e meus camaradas. Tudo, porém, por conta do Agent Mark. Sabem não? É o cara de meia idade, olho azulado, sorridente e bem penteado. Sem mais nem menos, o perfeito WASP, sigla em inglês para branco, anglo-saxão e protestante. Esse sujeito tem falado, a torto e a direito, em nome do DHHS, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. Cuidado com ele.
Pois não é que recebi recado no Messenger com a cara e o número de um Helder felicíssimo pelo prêmio de 300 mil dólares a si conferido por um tio em comum, o velho Sam, criatura das mais cristãs, das mais solícitas e dadivosas!
Ligo para Helder, sem haver atendido ao pedido para abrir o link da premiação que então me fora remetido, dele ouvindo: “Você é um dos cinquenta que já me telefonaram com esse aviso. Me raquearam o Face, o Instagram, o Zap, o diabo a quatro”.
Tempos bicudos estes nos quais vivemos, minhas amigas e meus amigos. Não sei se acontece também a vocês, mas eu estou cansado de excluir pedidos de adição ao Facebook formulados por deusas louras, várias delas envergando, com galhardia, a farda da Marinha de Guerra dos Estados Unidos. Semana passada, deletei um coronel daquelas bandas. Deste não me compadeço, mas tenho pena de Dayse, Kelly, Mary e Suzan. Que olhos, que bocas. Perdão, meninas, mas a desconfiança crônica, orgânica mesmo, me leva a rejeitá-las. Em rio de piranha, jacaré nada de costas, diz-se, por aqui, minhas queridas.
E, aqui para nós, preciso confessar. Tenho, há muito tempo, uma certa repulsa a tais guerreiros e guerreiras. Que as moças disso não saibam, mas, nos meus idos de faroeste, das cadeiras do Plaza e do Cine Rex, eu já torcia pelos índios nas brigas com a Cavalaria. Posteriormente, me veio a leitura daquela frase lapidar proferida pelo velho Porfirio Diaz, muito depois de haver perdido o Texas: “Pobre México. Tão longe de Deus e tão próximo dos Estados Unidos”.
Dali, mesmo, eu somente gosto da gente de paz, dos gênios da literatura, da música, das artes cênicas. Enfim, das coisas que edificam, tocam a alma, envolvem, comovem e, por conta disso, fazem bem à humanidade. Não é não?