Sábado passado, vindo eu pela Rua Duque de Caxias, ou melhor, a antiga Rua Direita, a caminho da Academia Paraibana de Letras, olhava as casas com paredes e platibandas desmoronando, caliças fofas e plantas que nasciam entre frinchas. Tentava descobrir vestígios dos lugares onde morou o poeta Augusto dos Anjos, como indicou o professor Milton Marques Júnior, depois de peregrinar pelos mesmos lugares.
Incentivado pelo professor Milton, decidi fazer o mesmo percurso para conhecer os lugares onde teria residido no começo do século passado. Nada encontrei, sequer a sombra do registro apontado nas linhas do amarelado papel pautado guardado em arquivos imaginários.
Rua Duque de Caxias (PB)
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Com o texto de Milton às mãos, verificava os detalhes por ele apontados como sinal dos lugares onde o poeta teria morado. Em cada lugar ou espaço indicado no texto, atônito pela emoção na busca de um pedacinho do ambiente do poeta, fui até a Rua Tambiá, onde Augusto residiu, conforme carta à mãe. Neste trecho, também nada encontrei. Semelhante à outra artéria urbana, somente casas tristes com suas portas e janelas fechadas, sujas de lodo e coberto de picumã, dando a sensação do desleixo em relação à paisagem que o poeta descreveu.
É por demais louvável a persistência do professor em tentar recompor a paisagem familiar do autor do Eu, expressão maior da Poesia nacional e quiçá mundial.
No passeio solitário empreendido naquela manhã de sábado, desprovido de senso crítico, tinha como motivação a sensação de estar onde morou Augusto. Atiçado pelo texto de Milton Marques e o poema de Hildeberto Barbosa Filho, outro devoto do poeta paraibano, pensava eternizar na
Pé de Tamarindo plantado por Milton Marques (APL) Milton Marques
O professor Milton, que plantou um pé de tamarindo, cuja semente trouxe do velho tamarindo do Engenho Pau D’arco, no jardim da Academia Paraibana de Letras, por ocasião de sua posse na Casa de Coriolano de Medeiros, tenta identificar os lugares que Augusto habitou porque não mais existe identificação. Peregrinamos em busca de uma sombra. Os quintais das casas não têm mais mamões de corda a despencar pelo muro, como fala o biógrafo Ademar Vidal, seu vizinho de parede-e-meia.
A revitalização da Duque de Caxias surge como motivação para se melhor olhar aquela rua, cria esperanças visando preservar a paisagem do poeta e revelar os segredos da alma. Importante é salvar o resto da memória não demolida.
Augusto dos Anjos (APL) Acervo do autor
O trecho da rua entre a Misericórdia e a esquina da Academia talvez pudesse se transformar em palco a céu aberto para manifestações culturais.
Chegamos ao estágio da vida quando temos a sensação de que a casa do poeta é a abóboda celeste, ou como ressaltou Hildeberto Barbosa, porque “está localizada na avenida de seus sonetos”.
Pelo que representa para a Paraíba, a Rua Duque de Caxias deveria se chamar Rua Poeta Augusto dos Anjos, como cogitou o professor Milton. Acrescentaria: Uma grande estátua poderia ser erguida na embocadura da rua, bem junto da nossa Academia.