Lugar de mulher é na cozinha. Calma, meninas. Refiro-me ao ambiente doméstico por mim preferido onde vocês também possam sentar, servir-se de uma bebida e acompanhar o marido na produção do almoço, do jantar, ou de uma sobremesa. Eu, pelo menos, costumo fazer isso aos fins de semana, momento em que me vejo livre do birô e do trabalho corriqueiro.
As conversas travadas, assim, na beira do fogão, costumam me levar, e à minha companheira, aos primeiros anos do casamento hoje próximo das Bodas de Ouro. É quando, geralmente, lembramos dos filhos pequenos,
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Gosto quando eles relembram passagens da infância. E retribuo com histórias, algumas vezes recontadas, acerca de produtos e temperos. “De novo?”, reclama o caçula. Miguelzinho, não. Este meu neto até exige as repetições. “Conta aquela da Maizena, vovô”, pediu-me, na última visita, ao ouvir que a avó tem recomendação médica para evitar a farinha de trigo. Sabem não? Pois bem, lá vai.
Maizena vem de maiz, milho na linguagem dos índios Sioux e termo adotado, igualmente, tanto pelos colonizadores espanhóis quanto por Wright Duryea, o sujeito que, em 1854, iniciou nos Estados Unidos o fabrico do produto cuja embalagem o tempo quase não mudou. Foi assim que li.
Antes que alguém comece a lamber os beiços, saiba que, a princípio, a função do pó branco e fino era servir de goma para tecidos. Tempo depois, é que iria à cozinha para a feitura de mingaus, bolos e biscoitos.
Muitos meninos da minha geração, clientela cativa dos faroestes, passavam um tempão a contemplar a cena pacífica retratada nessa caixa amarela: o cultivo do milho e preparo do pó por mulheres Sioux sob a proteção de um guerreiro da tribo. E, assim, antevíamos o momento do tiroteio no cinema. Surpreende-me o fato de que os das gerações mais novas, acostumados à Internet e aos jogos eletrônicos, não percebam esse desenho.
Visto que, neste ponto da nossa conversa, estamos na área das farinhas e, portanto, na dos pães, bolos e tortas, não custa lembrar que o Pó Royal tem uma existência de 101 anos no Brasil. Aqui chegou em 1923 e aqui passou a ser produzido a partir de 1930.
Imagens MLivre
Leio que a marca é hoje administrada pela Kraft Foods, a maior empresa de alimentos da terra do Tio Sam e a segunda maior do mundo. Só perde o primeiro posto para a suíça Nestlé. E, finalmente, aqui vai minha receita para um bom de fim de semana: catem algumas panelas, vejam o que há na despensa, juntem mulher, ou marido, filhos e netos (caso os tenham), misturem e levem isso tudo à cozinha pelo tempo mais demorado possível. Muitas vezes, é essa a melhor coisa que temos durante a semana. Provem e digam se isso não é bom.