Poucos jornalistas na Paraíba conquistaram o respeito que Frutuoso Chaves, em quase sessenta anos de batente, granjeou. Iniciado, como ele mesmo diz, na cozinha do jornal, o baixinho Frutuoso naquele
Acervo: F. Chaves
tempo “já fitava os Andes”. Começou do começo: martelando tecla, ouvindo ronco de linotipo, sentindo o cheiro espesso da tinta fresca e da notícia quente. E, depois, de um caderno a outro, foi virando tudo: repórter, redator, editor, chefe de reportagem. Mas o que ele é mesmo, com gosto e com alma, é mestre. E tantos cresceram perto dele, aprendendo a ouvir a redação e a respeitar a palavra escrita como se fosse coisa sagrada.
Frutuoso nasceu em 1945, em Pilar — aquela cidadezinha de alma antiga, onde o rio Paraíba cochicha seus segredos e os sinos da igreja tocam como se chamassem alguém para casa. Pilar, berço também de José Lins do Rego, romancista de fôlego grande, que botou no papel o cheiro da cana e a tristeza dos engenhos.
Na redação do jornal A União, c.1975
Veio adolescente para João Pessoa, com o olhar ainda cheio de interior e a alma aberta como um jornal recém-impresso. O pai, seu Juca, era homem de forno e coração: fazia o melhor pão da cidade, daqueles que a gente parte ainda quente e o cheiro vira lembrança.
Mas Frutuoso, embora ainda hoje faça um excelente pão, foi de outro forno. Em vez do trigo, escolheu as palavras. Fez-se homem de letras e madrugada. Enquanto o pai alimentava o corpo, ele alimentava o espírito. Inventava notícias, colhia verdades, assava crônicas no calor da tipografia. E todas as manhãs, lá estava o pão dele: o jornal ainda úmido de tinta, chegando às mãos da gente feito promessa.
O Dia "D", como chama o jornalista: o dia em que celebrou o casamento com D. Miriam, em maio de 1978.
Nesta sexta-feira, 6 de junho, ele faz oitenta anos. E vai ficar embaraçado com estas linhas, dizendo que não precisava disso, que exageraram, que estão querendo me matar antes da hora, mas, paciência, porque nem sempre escrevemos com as palavras bem ordenadas, com as frases limpas como se espera, mas há momentos em que o coração empurra a mão, e a mão escreve como pode, e se sai torto, que saia, porque ao menos é verdade.