Uma data marcante para mim é o dia 5 de fevereiro de 1975. Nesta data, minha primeira crônica foi publicada no jornal O Norte. Pouco mais de uma lauda datilografada na Remington. Um texto curto que relembrava uma viagem a Serraria, quatro anos depois que de lá tinha saído.
Para publicá-lo, como fazia em outras oportunidades, Nathanael Alves “passava a vista”, apontava os excessos. Exercício maravilhoso para aprender as artimanhas de escrever. O amigo realizava o trabalho com paciência. Devo muito a este conterrâneo por ensinar o passo a passo de como montar um texto; apontou a base das leituras e da literatura ainda hoje em construção.
GD'Art
Quando cheguei às redações, ainda era comum o hábito antigo entre os repórteres e redatores: concluída a edição do jornal, reuniam-se em torno da mesa de bar para intermináveis conversas, sempre regadas a cerveja.
Quando passei a frequentar a redação de O Norte, em 1976, como copiador de telegramas das agências de notícias e repórter noturno, participei dessa patota.
Presenciava Nathanael Alves, Martinho Moreira Franco e Gonzaga Rodrigues copidescando as matérias e, num intervalo, discutindo o conteúdo e a forma de seus artigos. A crônica publicada no dia seguinte, quase sempre, era motivo de debate pelo trio.
Depois que este trio afinou o passo — ou melhor, a escrita —, praticaram a crônica como literatura. Muitas décadas
Gonzaga Rodrigues EPC
No ano de 1981, depois que Nathanael partiu para ser presença entre as estrelas do firmamento, para não ficar órfão, Gonzaga trouxe o compasso para meus escritos, ajudando a tirar dúvidas quanto ao emprego do substantivo e da sintaxe.
Por causa de uma frase fora do contexto, colocada em uma crônica sobre o ninho de beija-flores no pátio da empresa onde trabalho, fui motivo de carões por parte dele. Quando encontra um escorrego no texto, ele chega com os conselhos para evitar a frase troncha.
Aprendi bastante com os três amigos — Nathan, Martinho e Gonzaga. Sempre recorro a Gonzaga nas minhas aflições literárias. Quanto é bom ter a quem recorrer na hora da difícil gestação do texto.
José Nunes e Martinho Moreira Franco Acervo do autor
Com os monges primitivos, aprendi que caminhar purifica os pensamentos e evita estropear as palavras.
Os aprendizes do ofício de escrever estão sempre carentes do olhar crítico. Os críticos literários e estudiosos da literatura, o olhar acadêmico, são importantes na orientação ao escritor.
Com o passar do tempo, amiúde, Gonzaga revelou as raízes da melhor forma de elaboração da frase, o uso da palavra correta na descrição da cena imaginada.
Desde os primeiros passos, os conselhos dele vieram se juntar ao que Nathan transmitia. Escrever é buscar, sempre, a magia das palavras para montar o retrato da cena que se deseja.