Eu nunca tinha ouvido falar em Léo Lins até a imprensa divulgar a esdrúxula sentença proferida contra ele. Ou seja: pelo menos para mi...

Veredicto impróprio

censura julgamento
Eu nunca tinha ouvido falar em Léo Lins até a imprensa divulgar a esdrúxula sentença proferida contra ele. Ou seja: pelo menos para mim, a punição tornou visível a figura do comediante. Fui então conhecer os motivos pelos quais o penalizaram.

censura julgamento
GD'Art
As piadas, de fato, são de extremo mau gosto; em matéria de humor, que segundo Leon Eliachar é a “cócega da inteligência”, prefiro algo mais sutil. Não considero, no entanto, que isso seja motivo para que o processem e condenem. O artista tem seu público, que ri do que ele diz por necessidade ou identificação.

O problema de punir artistas por trazer em suas apresentações conteúdos considerados ofensivos é que, por vezes, se deixa de penalizar os que praticam esses conteúdos na vida real. Condena-se, por exemplo, quem faz piadas com o racismo ou a pedofilia, quando a condenação deve se destinar aos racistas e pedófilos.

Um equívoco que está na base disso é supor que o autor das anedotas pratica ou defende as ações que ironiza ou das quais extrai o humor. É muito difícil que isso ocorra, pois indivíduo nenhum exporia em público as suas tendências perversas e discriminatórias. Pelo contrário, ele tende a escondê-las com enrustimento e dissimulação.

O espaço do palco não é o da vida real, e o que se diz ou faz ali apenas reflete os costumes e o pensamento de parte da sociedade. Não deve ser proibido,
censura julgamento
GD'Art
mas considerado como um sintoma e observado com atenção, pois constitui um espelho Em seu famoso tratado, Bergson observa que o riso “exige insensibilidade”; não se pode esperar dele empatia ou compaixão, embora esses sentimentos possam ser provocados por seu efeito crítico e catártico. O humor é cruel, sim, mas de uma crueldade benéfica, por fazer as pessoas enxergarem maldades e injustiças muitas vezes encobertas pela máscara da seriedade.

A melhor resposta que o público pode dar a um conteúdo que reprova é não prestigiar o autor. Um complemento a esse repúdio vem da crítica especializada, cuja opinião pode aumentar ou reduzir a frequência aos espetáculos. Mediante critérios técnicos e artísticos, ela concede à obra o valor (ou desvalor) que merece. Esse constitui o grande veredicto, e não o que é proferido por um juiz.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. Palavras que merecem reflexão, Chico. Parabéns. Francisco Gil Messias.

    ResponderExcluir

leia também