Há uma caixa no centro da mesa. Você a conhece bem: é quadrada, de paredes rígidas, com cantos precisos. Dentro dela cabem todas as r...

O mundo além das quinas

abstrato cubismo pensa fora caixa
Há uma caixa no centro da mesa. Você a conhece bem: é quadrada, de paredes rígidas, com cantos precisos. Dentro dela cabem todas as respostas que você aprendeu a repetir, os "porquês" que não precisam mais ser questionados e os caminhos que todos já pisaram. O pensamento dentro da caixa é seguro, previsível, quase um ritual. Mas e se, em um dia comum, você resolvesse escalar suas paredes e olhar para além das quinas?

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P. Millinton
Acontece que o "fora da caixa" não é um lugar, mas um verbo. É o ato de duvidar da primeira resposta, de inverter a pergunta, de perguntar ao invés de responder. Lembro-me de uma vez em que uma criança, em uma sala cheia de adultos sérios, apontou para um quadro na parede e disse: "Por que aquele homem está triste?". Todos riram, porque o quadro era abstrato, apenas formas e cores. Mas a pergunta permaneceu, como um convite a ver o invisível. Talvez pensar fora da caixa seja manter essa coragem de enxergar rostos onde outros veem apenas linhas.

A história humana é uma coleção de escapes de caixas. Quando alguém duvidou que a Terra fosse plana, quando outro imaginou que máquinas poderiam voar, ou quando uma mulher decidiu que sua voz merecia ecoar além da cozinha. Cada um desses momentos começou com um incômodo: a sensação de que
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P. Millinton
as respostas prontas eram pequenas demais para a vastidão das perguntas. O problema é que, muitas vezes, confundimos a caixa com o mundo. Acreditamos no que está escrito nos manuais, nos hábitos, nas tradições, que é imutável. Esquecemos que até a caixa foi inventada por alguém.

Há quem diga que "pensar fora da caixa" é uma habilidade rara, um dom para iluminados. Discordo. Basta observar os artistas de rua que transformam lixo em esculturas, os feirantes que improvisam soluções com arame e criatividade, ou a avó que reinventa a receita do bolo porque faltou um ingrediente. A genialidade não está na complexidade, mas na liberdade de questionar o óbvio. O difícil, na verdade, é resistir à tentação de voltar para a caixa quando o vento lá fora parece frio demais.

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P. Millinton
No fim das contas, a caixa não é inimiga — é apenas um começo. Ela existe para ser desmontada, remendada, ou às vezes abandonada. O que importa é não se deixar engolir por suas paredes. Porque lá fora, onde não há cantos definidos, há espaço para riscos, para erros que se tornam acertos, e para ideias que nascem frágeis, mas voam longe. Talvez pensar fora da caixa seja, no fundo, lembrar que somos maiores do que qualquer quina.

E você, já olhou para além da sua caixa hoje?

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