Poucas coisas são mais irritantes que estar preso num grande engarrafamento, mas pode ser muito pior se o tempo de viagem estiver rigor...

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Poucas coisas são mais irritantes que estar preso num grande engarrafamento, mas pode ser muito pior se o tempo de viagem estiver rigorosamente atrelado ao tempo do trânsito intestinal, que, ao contrário do primeiro, não está nem um pouco engarrafado.

Sexta feira, 18h45, velocidade da via: um quilômetro por hora. E eu ali, totalmente cercado por carros, caminhões, buzinas, fumaças e roncos de motores.

Esse "causo" aconteceu no século passado. Em uma pequena cidade do alto sertão paraibano, a chuva era escassa quase o ano todo, ...

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Esse "causo" aconteceu no século passado. Em uma pequena cidade do alto sertão paraibano, a chuva era escassa quase o ano todo, chegando até a dez meses sem uma gota de água, e nos anos de seca, nem isso. Era tão pouca a chuva que, para as crianças não ficarem assustadas quando acontecesse, na escola a professora ensinava o que era chuva, com uma peneira e um pouco d’água: “chuva é assim, cai desse jeito do céu, eu mesma vi algumas vezes, poucas para uma vida toda”. Porém, quando a chuva caía, era um acontecimento, uma festa, todo mundo ia para a rua se molhar na chuva, gente que se ajoelhava agradecendo, outros corriam para começar a plantar.

Mas houve um ano em que não choveu nem uma gota. Já entrava no segundo ano, quando o céu escureceu no meio da tarde, parecia o fim do mundo, de um lado o sol escaldante, e do outro o céu escuro, escuro, armando um temporal. Todos assustados correram para suas casas esperando saber o que ia acontecer.
De repente, começou a soprar um vento. Foi uma ventania tão forte que levantou uma revoada de poeira, troços, galhos, até panela e tabuleiros voaram pelas ruas, e, quando começou a chover, não era água, eram pedras de gelo. Faziam um barulho que parecia uma panela de pipoca gigante. Árvores caídas, não ficou nada no lugar. Foi um corre-corre só, uns para debaixo das camas, outros para dentro dos guarda-roupas pensando que o fim do mundo tinha chegado mesmo. Era um tal de rezar e pedir perdão dos pecados, muitos começaram a correr para a igreja matriz e confessar os seus erros, mesmo que não houvesse padre algum para ouvir, que foi o primeiro a se esconder na sacristia. Confissões jogadas ao vento, um desespero. Quem tinha ouvidos, ouviu. Quando a chuva de gelo parou, começaram a juntar os troços, refazer os telhados, juntar os cacos.

No dia seguinte, muitos andavam desconfiados, principalmente os que confessaram seus pecados alto, famílias quase desfeitas, outros contavam vantagem dizendo que foram arrastados pelo vento tantos quilômetros; uns diziam que chegaram até a voar, histórias de todo tipo, muito marido arrependido por ter confessado seus pecados, amizades desfeitas e amores descobertos, o verdadeiro fim do mundo, pelo menos para eles.

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A história mais inusitada, porém, foi do homem mais valente da cidade, um coronel temido por todos. Só que ninguém sabia que ele morria de medo dos fenômenos da natureza. Era só relampejar que ele ficava quieto, calado no quarto para ninguém saber. Quando passava, saía dizendo que nem ouviu, “dormi o tempo todo”. Mas no dia do temporal, ele estava na cidade, dentro da prefeitura e não teve como correr para casa, foi pego de surpresa, todos saíram e só ele e Tião das moletas, que costumava pedir uns trocados lá, ficaram, e mais ninguém. Na confusão, as moletas de Tião foram jogadas longe, e o “valente coronel”, com tanto medo, borrou as calças, e nem conseguia nem se mexer, Tião sem suas moletas não tinha o que fazer, começou a rezar, mas logo fechou os olhos com medo do coronel valente.

Quando os ventos foram acalmando, o coronel falou:

- Arreie as calças!

Tião assustadíssimo:

- Valei-me Nossa Senhora, agora lascou mesmo, o coronel valente vai fazer o que comigo???

Com um medo danado, apertado como estava, fez xixi nas calças. O coronel, quando viu:

- Deixe de ser frouxo homem, quero é trocar de calça com você, tá me estranhando? A minha está toda borrada e eu não vou sair assim, vão acabar comigo.

- Mas coronel, a minha está mijada.

- É melhor do que cagada, cabra frouxo!

E saiu com sua valentia, vestido nas calças de Tião. Mas antes se certificou se Tião tinha mesmo vestido as dele, toda borrada. E nem procurou as moletas do pobre Tião...

A história pode parecer engraçada, mas retrata como a nossa cultura foi construída, calcada numa força criada no imaginário popular, na exploração e submissão de pessoas, nos falsos poderes que expropriam do povo as necessidades mais primárias. Gostaria nunca tivesse existido situações assim, mas se não foi essa, podem acreditar, que muitas semelhantes ou até piores, aconteceram e ainda acontecem nesse país, em especial na “ladeira abaixo” que estamos vivendo, com a miséria estampada nas ruas diariamente. É só observar os homens e mulheres de hoje, com seus carrões, jogando migalhas nos sinais de trânsitos, “limpando suas consciências com bondades” às custas da pobreza alheia, sem abrir mão de privilégios, como se fossem merecedores. Sabemos que não o são.

Será que um dia trocaremos privilégios por igualdades de direitos? Será que ainda cabe sonhar com um país com oportunidades para todas as pessoas? Fica a reflexão!

Gosto da brutalidade do solo onde piso, do cheiro do verde e da palavra. O solo me transmite a sensação de terra firme. Nela, aprecio a su...

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Gosto da brutalidade do solo onde piso, do cheiro do verde e da palavra. O solo me transmite a sensação de terra firme. Nela, aprecio a suavidade do colibri e a materialidade da escrita. Mas eu não vivo unicamente da palavra. Dou risadas de bobagens que vejo naquele filme assistido repetidas vezes, do chinelo que guarda um lugar na fila cheia de gente, da piada sem cabimento. Isso também é viver. Música suave me agrada. Guns n' Roses também. Falo baixo com palavras escandalosas, amorteço a guerrilha interna, leio. Gosto do livro que me segura na mesma página quando a conversa é boa, gosto do texto. Ele é meu território, já disse muitas vezes, mas, antes dele, precisava de um chão consistente para criar.

Entre tantas ideias sobre a O.A.B., sempre pensei que o Presidente nacional da Ordem deveria ser eleito diretamente por todos os Advogad...

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Entre tantas ideias sobre a O.A.B., sempre pensei que o Presidente nacional da Ordem deveria ser eleito diretamente por todos os Advogados do Brasil. Igualmente sempre defendi que os Conselheiros deveriam ser escolhidos de forma individual e não no formato chapa caixão. Por fim, tenho algumas ideias para otimizar o Judiciário com uma participação maior dos Advogados.

Todos que militam sabem que uma audiência para ouvir testemunhas é um dos atos mais desnecessários que um Juiz pode praticar. No entanto perde-se muito tempo e o mais das vezes não há qualquer contribuição para o processo. Primeiramente porque se uma parte indica uma testemunha é de se esperar que, mesmo não mentindo, essa testemunha nada diga de esclarecedor que possa prejudicar quem o convidou a depor.
Já se disse que a testemunha é a prostituta das provas. Mas o que nenhum político até hoje enxergou na feitura das leis que cuidam dos processos judiciais é que normalmente as duas partes em litígio têm seus advogados, pois não?

Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Pr...

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Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Presidente o destinara: acolher a graça e a fineza espiritual da Paraíba representada pelas futuras normalistas.

Beleza a que não podia faltar, como na vida mesma, o seu contraponto de tragédia. A de Sady Castor e Ágaba, trazida à luz por Deusdedit Leitão.

Tempos difíceis neste presente, que nos conduz a revisitar o presente passado, e, se possível, mergulhar no presente futuro, como nos en...

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Tempos difíceis neste presente, que nos conduz a revisitar o presente passado, e, se possível, mergulhar no presente futuro, como nos ensinou Santo Agostinho. Neste mergulho ao passado, tenho incessantemente procurado ir a lugares, procurado amigos que o tempo e a distância esconderam. Buscando reeditar velhos e bons afetos. Foi assim que encontrei Cristovam Buarque, com quem tive uma grande convivência na diáspora parisiense durante a ditadura.

Quando publiquei o livro de crônicas “Recado do meu sítio”, em 2007, com prefácio de Carlos Romero , o poeta Luiz Augusto Crispim fez um c...

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Quando publiquei o livro de crônicas “Recado do meu sítio”, em 2007, com prefácio de Carlos Romero, o poeta Luiz Augusto Crispim fez um comentário que trouxe regozijo.

Desejo partilhar com os leitores deste privilegiado espaço de divulgação das artes e de saberes, o depoimento do cronista que, mesmo ausente, sua voz chega aos ouvidos com estímulo para continuar escrevendo.

Meus amigos Germano Romero e João Batista de Brito se queixaram, quase simultaneamente, expressando o seu descontentamento a respeito da ...

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Meus amigos Germano Romero e João Batista de Brito se queixaram, quase simultaneamente, expressando o seu descontentamento a respeito da nossa música. O que terá acontecido com a nossa música? Nada se ouve além de uma batida repetitiva, com frases chulas e muito abaixo da linha da inteligência. Um golfinho faria melhor.

de meu livro HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA , ed. Bertrand Brasil, 2005. Finalista do Jabuti em 2006, Prêmio Graciliano Ramos, da UBE – ...

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de meu livro HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA, ed. Bertrand Brasil, 2005. Finalista do Jabuti em 2006, Prêmio Graciliano Ramos, da UBE – Rio 2006. Apareceram, primeiramente, mil deles, na coluna Contos Reais, do hoje extinto jornal O Norte. Ao sentir falta de tragédias contemporâneas nesse meu novo livro, selecionei 126 dessas histórias colhidas na imprensa da época. Em 2011, quando completei 70 anos, um grupo de compositores liderados por Eli-Eri Moura, criou a CANTATA BRUTA (com orquestra, coro, solistas e narradores ), a partir de uma pequena seleção deles. Aqui vai uma amostra maior:

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Viajando para São Paulo em seu próprio carro - dez minutos depois de deixar a casa de uma tia em Moji das Cruzes, numa noite chuvosa de domingo - o equilibrado Luiz Augusto Andrade Keller, 21 anos, bancário, estudante de direito, começa a sentir uma ansiedade injustificável, uma estranha sensação no estômago e que evolui para a taquicardia, o sufocamento, a sede incontrolável, o desespero. A coisa é tão forte, que ele abandona o carro e sai correndo pelo acostamento da estrada. Resgatado por amigos, submete-se a uma bateria de exames clínicos que nada revela de anormal. Mas o fenômeno o afeta muito. E passa a se repetir. Só dois anos depois da crise inicial, entretanto - quando já não consegue mais sair de casa - descobre que aquilo tem um nome: Síndrome do Pânico.
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1994. Iracema Soares - 38 anos, separada, um filho, empregada doméstica salário mínimo, vivendo em Rio do Sul, interior de Santa Catarina - pede dinheiro emprestado e viaja 800 quilômetros de ônibus até São Paulo. É a primeira na fila para ver o ídolo - Ayrton Senna - morto.
- Ele era o único orgulho que eu tinha - revela - A minha vida não é para se orgulhar - acrescenta - A minha vida é muito dura.
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Deitado em seu leito de hospital, o psiquiatra canceroso Richard Faw - 71 anos - em estado terminal - tem três agulhas espetadas no braço, ligadas a três garrafas de soro contendo substâncias mortíferas. Em seu colo, a tela de matriz ativa de um laptop exibe a mensagem:
“Se você teclar o botão com o SIM, uma injeção letal o matará em 30 segundos.
Quer prosseguir?”
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O pessoal do garimpo na selva amazônica, em Trombetas, no Pará, tem a mania - nos domingos - de beber, deitar na rede, sentir um vazio por dentro, empunhar o revólver, ficar atirando à toa para o chão - pei pei pei.
É o vacorado.
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O vulcão Ruapehu, numa das ilhas do norte da Nova Zelândia (entre as cidades de Auckland e Wellington) já há quatro dias arremessa rochas incandescentes, lava e vapor a até 3.000 metros de altura, com ameaçadoras colunas de cinza tingindo o céu de tons catastróficos, depois caindo em forma de chuva negra sobre um terremoto de 4.9 na escala Richter. Por isso os vôos estão suspensos, as estradas fechadas, decretado estado de alerta numa área de 100 quilômetros ao redor. Mas quando o Ministro da Defesa fica sabendo que a previsão é de que a erupção pode durar meses, ordena o fim das interdições:
- Temos de aprender a conviver com isso!
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“Ao voltar do desmaio, vi que estava sozinha no Parque Aliança, assaltada e estuprada. Minha bolsa e meus documentos estavam espalhados no chão, mas não peguei nada. Saí dali descalça, a roupa rasgada, e comecei a pedir socorro. Ninguém me ajudou. Essa é mais uma dor que tenho no peito: as pessoas passavam, eu pedia socorro, ninguém me olhava”.
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A radioterapia debilita Pedro Collor, em Nova York. Quatro tumores malignos no cérebro, um coágulo no pulmão. Ele emagrece, os seus cabelos caem, sua cabeça cobre-se de feridas, o lado esquerdo do corpo paralisa-se, ele usa um fraldão para evitar que se suje.
Quando lhe contam, por telefone, que Fernando foi absolvido pelo Supremo, repete, com voz pastosa:
- Ótimo... Ótimo... Ótimo... Ótimo...
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Arnulfo Arias é eleito presidente do Panamá em 1940 e derrubado em 41. Eleito novamente em 48, é deposto em 49. Reeleito em 68, troca os comandos da Guarda Nacional e adverte os militares de que, daquele momento em diante, estarão recebendo e acatando ordens de prefeitos e governadores. No dia seguinte está refugiado na Zona Americana do Canal do Panamá, enquanto o coronel Omar Torrijos toma o poder “para evitar uma ditadura”.
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O veterano da Segunda Guerra espancava os filhos. Sua mulher era viciada em remédios pra dormir. O menino mais velho tinha surtos psicóticos, era dependente de remédios e - depois de ver que tinha passado os 50 anos de sua vida trancafiado em casa sem sexo - suicidou-se. O mais novo gostava de molestar sexualmente as mulheres nas ruas de São Francisco e - quando estava em casa - meditava numa cama de pregos. O filho do meio - Robert Crumb - foi pra França, tornou-se o desenhista guru da contracultura, famoso nos anos 60 e 70 por suas histórias em quadrinhos de traços sujos, humor corrosivo, roteiros que falavam de sexo, drogas e incesto.
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Texas, 1992. Steven Allen Butler - engraxate negro de 28 anos, casado, pai de um menino - cumpre em liberdade sentença por ataque sexual a uma menina de 7 anos, quando estupra outra, de 13. Ameaçado de pegar prisão perpétua, propõe castração como alternativa. Com a concordância da família da segunda vítima e da mulher de Butler, o juiz fecha a transação.
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Levado ao cemitério de North Lauderdale, Flórida, pelo programa “Aconteceu Assim”, da Rede Telemundo - para um depoimento diante do túmulo de sua filha que se suicidara grávida aos 15 anos - Emílio Nuñez é surpreendido pela aparição da mãe da menina - Maritza Muñoz - de quem está separado. Aos gritos, ele corre para o carro, apanha a pistola, dispara 12 tiros na ex-mulher e foge. Tudo diante da câmara da TV.
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Bombardeadas há catorze meses pelos sérvios, multidões lotaram o teatro da capital para escolher a Miss Sarajevo Sitiada 1993. À vencedora - Imela Nogic, 17 anos, com cicatrizes de estilhaços de bombas nas pernas - perguntou-se sobre seus planos para o futuro. E ela:
- Não tenho.
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Janeiro de 1994. A maioria dos americanos acompanha o julgamento de Lorena Bobbit - a manicure equatoriana que cortara o pênis do marido - transmitido ao vivo pela CNN . A certa altura, entretanto, suspende-se a reportagem para mostrar imagens - também ao vivo - do Presidente Clinton com o chefe de governo ucraniano Leonid Kravchuk, para uma notícia importante: a terceira potência nuclear do planeta concorda em abrir mão de seu arsenal atômico. Quase 600 telespectadores ligam para a emissora, protestando contra a interrupção.
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Francis Rech Aguiar, campeão estadual na categoria infanto-juvenil de tae-kwon-do, tem vergonha de sua arcada dentária e dá entrada no Hospital Saúde, em Caxias do Sul, para ser submetido à extração de um dente incluso, com anestesia geral. A cirurgia não demorará mais que uma hora, segundo o cirurgião-dentista . Demora três. E Francis sai dela tetraplégico, em coma.
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O carpinteiro espanhol Albert Contijoch - testemunha de Jeová - nega-se a prestar serviço militar no regime de Franco e é condenado a um ano de prisão, com reapresentação obrigatória no próximo período. Aí ele repete a recusa e é condenado novamente, coisa que acontece outra vez no ano seguinte, pelo que acaba amargando um total de 11 anos atrás das grades, só sendo deixado em paz quando passa para a reserva.
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O advogado Nivaldo Miranda - diretor de recursos humanos do Grupo Rui Barreto - comanda um processo de enxugamento, nesse conglomerado de empresas, que reduz o quadro de pessoal de 1.100 para 600 empregados. E é demitido.
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Bosko Brckic - sérvio - e Admira Ismic - muçulmana - vivem juntos há 9 meses, em Sarajevo - capital da Bósnia. Com a eclosão da guerra entre seus clãs, decidem fugir. São derrubados por uma rajada de balas ao cruzarem a Ponte Vrbana - entre a área sérvia e a muçulmana. Bosko morre na hora, Admira arrasta-se até ele, abraça-o, falece logo depois. Os corpos ficam ali, enlaçados, durante 6 dias.
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Dona Laura Oliveira Rodrigo Octávio - 100 anos - que todos os verões deixa o confortável casarão de Botafogo (com seus 4.000 livros) e vai para a chácara da família no Alto da Boa Vista - vizinha do Morro Dona Marta, um dos mais violentos do Rio - tem um jeito de driblar o medo que os tiroteios provocam nos moradores da região:
- Se estiver com meu aparelho de surdez, eu tiro.
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O estudante Roberto Peukert, 25 anos, ao ser advertido pela mãe por ouvir música em alto volume, mata-a, mata o pai, os três irmãos, enfia os corpos num automóvel, cobre-os com um cobertor e abandona o veículo a dois quilômetros de sua casa.
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Ana Lídia - 7 anos - é sequestrada no Colégio Madre Carmen Salles, quase em frente ao bloco onde vivia com a família adotiva, em Brasília.
Na manhã seguinte, naquele mesmo lugar, seu corpo é encontrado parcialmente coberto de terra, os cabelos cortados irregularmente, marcas de gilete e de unhas nas costas, mordidas no peito, manchas roxas no rosto.
Causas da morte, segundo o laudo do exame cadavérico: “Asfixia por sufocação, lesões vulvovaginais e retais causada por um objeto de borracha, e sevícias posteriores”.
No corpo da menina e nas imediações, três tipos de espermatozóides.
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1995. Cresce a chuva ácida na Europa, mesmo depois de as emissões de enxofre pelas fábricas do continente caírem 30% desde 1980. As imagens captadas pelo sistema Lidar - um radar que lê ecos de raios laser em vez de ondas de rádio - revelam: há uma gigantesca nuvem de compostos de enxofre - de 2.400 quilômetros de extensão - espalhando-se sobre o Atlântico a partir da costa dos Estados Unidos, rumo ao Velho Mundo.
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Às 9 e 10 da manhã do domingo, todos ainda dormem quando o atormentado Passos desce à garagem, coloca a guilhotina sobre uma bancada, abaixa as calças , posiciona-se, reza... e solta a lâmina.
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Noite de domingo, 1994, num sobrado do bairro do Tatuapé, São Paulo. O bancário Anderson Suganuma, 17 anos, mostra o Taurus 38 ao amigo Antonio Carlos Alves Iaquinto, e diz: - Veja como eu costumava assustar meu primo.
Descarrega cinco balas no outro, deixando a sexta na arma, que leva à cabeça, apertando o gatilho.
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Para comemorar o dia internacional de luta contra as drogas, 262 tribunais espalhados pela China julgaram 1725 pessoas acusadas de tráfico de entorpecentes. Quase 800 foram condenadas à morte. Desse total, 200 receberam o tiro na nuca antes do pôr-do-sol, com o preço das balas cobrado da família dos condenados.
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Fernanda, 12 anos, está indo para a escola da Fazenda Serrinha, a 38 quilômetros de Goiânia, Goiás, quando é atacada por Vicente e João Maria - dois conhecidos da família dela. Arrastada para o matagal, é estuprada, degolada, o sangue recolhido de seu pescoço conservado durante quatro dias numa geladeira e depois bebido com farinha, azeite-de-dendê e cachaça, num ritual realizado no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília, comandado pelo pai-de-santo Edmilson Barbosa da Silva, para livrar João Maria da impotência sexual.
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O pintor norueguês Edvard Munch vinha caminhando com amigos sobre uma ponte, quando foi surpreendido por um pôr-de-sol de devastadora beleza. “Léguas de fogo e sangue se estendiam sobre o fiorde negro-azulado.

Meus amigos seguiram caminho e eu me detive apoiando-me no corrimão, tremendo de medo”
Levou dois anos para conseguir transformá-lo no quadro “O Grito”.
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15 anos, moreno, franzino, cabelos encaracolados, ele aperta a campainha da casa de Paulina Biernack - de 74 - em Curitiba. Ela atende, leva alguns tiros de calibre 22 e morre.
O rapaz é preso pela qüinquagésima-sexta vez quando, sem acompanhamento musical, dança freneticamente, sozinho, numa rua da turbulenta favela do Valetão.
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Durante nove dias Susan Smith derrama lágrimas na televisão americana, implorando pela vida de seus filhos Alex - de 1 ano - e Michael - de 3 - seqüestrados durante um assalto. A verdade sobre o crime é logo conhecida: a mãe confessa ter jogado o carro dentro de um lago, com os filhos presos no banco de trás, para agradar o namorado, que não gosta de crianças.
107

Daniela Teixeira, 19 anos, estudante de publicidade, assiste ao documentário “Faces da Morte I” e se encanta tanto com a cena da cadeira elétrica, que a vê três vezes. O condenado tenta livrar-se das amarras quando lhe danam a descarga de 2.000 volts, uma secreção gelatinosa lhe escapa da boca e escorre um filete de sangue de seus olhos vendados.
- É nessa hora que vibro - diz Daniela - Quando jorra sangue é demais!
108

Stella Bizerian, 69 anos, não consegue entrar em casa, em Worcester, Massachusetts, porque a fechadura está coberta de gelo. Vai pedir ajuda à vizinha, mas ela não abre a porta com medo de assalto. Stella morre congelada na rua.
111

Radovan Karadzic - líder sérvio responsabilizado pela execução de milhares de croatas e pelo estupro utilizado como arma de guerra e pela expulsão de milhões de cidadãos de suas casas, na Guerra da Bósnia - leva um convidado até um posto de artilharia, numa colina acima de Sarajevo, e lhe oferece a oportunidade de dar alguns cachonaços na cidade.
O convidado atira até se fartar.
114

A inglesa Mary Flora Bell - de 11 anos - foi condenada em 1968 por estrangular dois meninos de três anos em um intervalo de dois meses. Foi denunciada pelos desenhos que fazia em seus cadernos escolares, mostrando as cenas dos crimes.
118

As primeiras vítimas do pistoleiro pernambucano Mário Pereira de Almeida, de 15 anos, são três rapazes que estupraram e assassinaram sua namorada Adriana, de 16 anos. Quando atira no primeiro, chega a se perguntar se isso está certo. Com os outros dois, é diferente: coloca um pneu na cintura de cada um, despeja um litro de gasolina na cabeça deles, toca fogo e fica olhando.
- Eles merecem.
119

Madrugada. O ônibus pára em frente ao Supermercado Novo Mundo - no bairro de Teriaçu, Rio de Janeiro - onde uma multidão limpa as prateleiras e joga tudo pra fora. Descem todos os passageiros, cobrador e motorista, apanham o que podem levar... voltam ao ônibus e vão-se embora, na maior animação.
121

Em certa madrugada de 1977, Maria Helena Ferreira dos Santos estrangula com um cinto duas outras internas do pronto-socorro psiquiátrico do Hospital Pinel, no Rio. Vai matar mais uma quando é surpreendida pela enfermeira.
O diretor da Divisão Nacional de Saúde Mental - o médico Roberto Guimarães - pergunta-lhe o que a levara a isso.
- Tenho uma missão na Terra - disse-lhe ela - matar 97 comunistas que querem destruir o Brasil.
Referia-se à lista atribuída ao ex-ministro Sylvio Frota com os nomes de 97 supostos subversivos infiltrados no governo.
- Agora só faltam 95 - contabiliza.
123

O programador de sistemas Renato Trevisan, sem suportar o choro da filha Taciane, de 3 anos, deu várias garrafadas na cabeça dela, chutou-a e pisoteou-a, rompendo-lhe o fígado, baço, rins e a coluna. Só parou quando a viu morta.

Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria de coisas que o faziam be...

miniconto solidao presente passado
Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria de coisas que o faziam bem.

O azul foi se tornando cinza e algumas pessoas outrora queridas perderam o encanto e a sutileza em ser grácil, mas nunca simplório, que o tocava e promovia o bem ampliando e prometendo vida.

Sempre que ouço Avôrai, uma das mais belas canções de Zé Ramalho, que fala do seu avô, um tipo bonachão e ao mesmo tempo árido como a terr...

fe ajuda caridade conselho despertar cura espiritual
Sempre que ouço Avôrai, uma das mais belas canções de Zé Ramalho, que fala do seu avô, um tipo bonachão e ao mesmo tempo árido como a terra do agreste, vem à lembrança mestre Horácio. Como Avôrai, Horácio era um velho de botas longas, barba longa e branca, e alforje de caçador. Morava numa casa simples de duas águas, num cabeço de serra cercado por mato denso, cortado por caminho de pedras, serpenteado, difícil de subir.

Juarez Félix, repórter, redator e editor da Página Policial do saudoso jornal O NORTE, de João Pessoa, às vezes gostava de inventar "...

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Juarez Félix, repórter, redator e editor da Página Policial do saudoso jornal O NORTE, de João Pessoa, às vezes gostava de inventar "personagens" para aumentar o índice de leitura de suas notícias. Uma dessas invenções foi a "Mulher de Branco da Lagoa", um fantasma do gênero feminino que aparecia, à noite, na Lagoa do Parque Solon de Lucena, assustando passantes, motoristas e outros incautos.

Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra...

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Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra no velho ditado: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Os apaixonados são movidos por razões que só Freud explica – e aqui não me limito a repetir um clichê. Para o criador da Psicanálise nossa atração pelo objeto amoroso decorre de nebulosas determinações inconscientes, que remontam às vivências infantis.

É a lei da natureza. O leão come o antílope, o lobo come a ovelha, a raposa come a lebre, e assim por diante. É a lei da selva, mas também...

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É a lei da natureza. O leão come o antílope, o lobo come a ovelha, a raposa come a lebre, e assim por diante. É a lei da selva, mas também dos oceanos, onde os peixes maiores comem os menores e estes, por sua vez, se impõem aos seres que lhes são subalternos. Por ser natural, essa lei é isenta de considerações morais e religiosas, ou seja, antecede e ultrapassa o mundo da cultura, existindo simplesmente como algo que “é”, o que significa, filosoficamente falando, que pertence à esfera do “ser” e não à do “dever-ser”.

Gostaria muito de saber quem inventou essa história de melhor idade. Foi garimpar na imensidão de sua insensatez um eufemismo ridículo pa...

cronica velhice juventude envelhecer dificuldades
Gostaria muito de saber quem inventou essa história de melhor idade. Foi garimpar na imensidão de sua insensatez um eufemismo ridículo para tentar dar algum colorido à palavra velhice. Não conseguiu.

Como pode alguém em sã consciência apelidar o outono de nossas vidas de “melhor idade”? Ao que me consta, melhor idade é a da adolescência quando nossa saúde está em sua plenitude e nossos sonhos só aguardando a vez de serem realizados. Estou dizendo dos possíveis e dos que não são. Mas nessa fase da vida, tudo para nós é factível: para a rapaziada,

A angústia acompanha a história do homem desde a antiguidade. Impossível separar sua presença a partir da certeza da morte, e, a perspecti...

A angústia acompanha a história do homem desde a antiguidade. Impossível separar sua presença a partir da certeza da morte, e, a perspectiva da fatalidade leva ao teatro do disfarce, da ilusão e da fuga.

“A angústia nos suspende porque ela põe fuga o ente em sua totalidade” (Heidegger)

Para atingir a sabedoria de mesclar a dor existencial com um pouco de alegria, surge a pressa de viver intensamente cada segundo, de nada perder, de consumir emoções como se não houvesse um só amanhã. As viagens são as opções comuns, pois transportam o indivíduo para “outro” lugar diferente do lugar da questão, e fora do seu mísero controle. Nas malas maiores seguem os sonhos de idealização e nas menores, as fantasias do que será minimamente necessário para esquecer.