A professora Maria Auxiliadora Bezerra Borba, minha confreira no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, escreveu um livro sobre...

Camboinha, a bela praia

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A professora Maria Auxiliadora Bezerra Borba, minha confreira no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, escreveu um livro sobre a Praia de Camboinha, a mais exótica, entre todas a mais bela praia de nossa orla, que se destacava pela frequência de famílias em períodos de veraneios. Eram anos das transformações sociais e todos andavam livremente por sua areia e se banhavam nas águas sem serem importunados. Eram os anos dourados de nossa cidade vivenciados depois da metade do século passado.

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Cacio Murilo/MTur
Confesso que o convite da professora para fazer a apresentação de sua obra, nesta noite, me atordoou. Aqui estão pessoas que poderiam falar da autora, do livro e da praia homenageada com maior precisão. Da praia, porque ali puderam desfrutar de inesquecíveis veraneios desde os verdes anos da infância, que se prolongaram pela juventude e perduram até o momento. Da autora, que é uma pesquisadora da fina flor gerada na paisagem da região do Cariri. Estes falariam do livro com uma maior precisão na análise do conteúdo. Afinal, sou apenas um leitor que passou por longe dos bancos universitários, mas que admira a poesia e a praia.

Falar sobre a autora até me atrevo, pois fazemos parte da mesma confraria que se dedica à preservação da memória de nossa história. Auxiliadora e Berilo Borba formam um casal ao qual recorro quando preciso de um conselho, como costumo fazer com relação a Gonzaga Rodrigues, que não me deixou órfão do amparo intelectual depois que perdi meu amigo Nathanael Alves, há mais de quatro décadas.

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Berilo e Auxiliadora Borba Acervo de família
Peço que a professora releve algum deslize que porventura possa dizer a respeito de seu livro, que faz exaltação a Praia de Camboinha, suas paisagens humanas e das belas ondas que embalam sonhos e devaneios.

A professora e poetisa Maria Auxiliadora Borba não precisa ser apresentada, porque é bastante conhecida no meio cultural da Paraíba. Pesquisadora atenta, muito me honra partilhar com ela e seu esposo, o professor Berilo Borba, os mesmos caminhos do IHGP, onde somos sócios efetivos. Assistente social, ela possui currículo que engrandece as instituições de cultura às quais pertence.

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O livro agora lançado, tem prefácio da professora e escritora Regina Rodrigues Bôtto Targino e posfácio da professora Maria das Graças Santiago, minha estimada confreira da Academia Paraibana de Letras, que muito me estimulou concorrer à imortalidade das letras.

Auxiliadora pratica um gênero literário que considero um dos mais difíceis, que é cordel. Isso porque exige o rigor da métrica, a rima e a oração. Lembro aqui do poeta Luiz Nunes que exerce com maestria esse modo de escrever poemas. Muitos tentam, mas poucos alcançam o estrelato praticando a literatura de Cordel, mesmo que aparentemente seja fácil.

No prefácio, a professora Regina faz uma viagem pelo panorama do surgimento do cordel, que tem raízes nos povos greco-romanos, fenícios, cartagineses e saxões. Gênero literário que passou por Portugal e chegou ao Brasil, inspirado nos trovadores medievais do século XII.

O cordel ganhou dimensão no Nordeste, e para nosso orgulho, os maiores poetas deste gênero literário estão na Paraíba, pegando uma beira do território de Pernambuco, a partir da Serra do Teixeira e arredores. Sem querer puxar a brasa para minha sardinha, os Nunes da Costa, por volta da metade do século XIX em diante, povoaram de poesia o Sertão da Paraíba e adjacências. Sem falar no maior de todos, o gigante Leandro Gomes de Barros, que se incorporou a este grupo de poetas que mais expõem a alma humana e as belezas da terra.

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Instituto Memória Brasil
O livro que hoje estamos presenciando seu lançamento brotou em um período que nos prendeu em casa durante mais de dois anos. Alguns ficaram isolados, outros deprimidos, outros agarrados à fé e à confiança na Ciência. Vencemos. Perdemos amigos, é certo. Mas passamos esse período de tormenta. A fé em nosso Deus Supremo e a Ciência que agiu rápido, nos proporcionaram estarmos aqui para contar a história.

Tenhamos a certeza de que, quanto mais escura que seja a noite, em seu amanhecer brilha esperança. Nesse novo amanhecer sentimos o aroma da vida a brotar. Durante aquele período de escuridão, recolhidos ao silêncio com sua dor, silenciosamente, muita gente escreveu aquilo que brotava do coração. Muitas obras de indiscutível valor literário foram escritas e publicadas depois deste período. Como é o caso deste Camboinha, A Bela Praia, que exalta esta esplêndida área do nosso litoral.

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Praia de Camboinha (PB) Cacio Murilo/MTur
Li o livro pacientemente, anotando em um caderno minhas impressões. Raramente risco o livro que estou lendo. O livro que os leitores têm em mãos é de aprazível leitura. Dessas leituras que fazemos ao repouso de uma rede, no silêncio da tarde para recordar e fazer memória de um lugar que se transformou ponto de encontros das famílias paraibanas. Uma praia onde gerações puderam construir amizades, e que, décadas depois, continuam vivendo a mesma fraternidade.

Essa fraternidade que agora está sendo revelada em forma de poemas, em frases que recordam o olhar e o sentimento de quem partilhou momentos inesquecíveis nela. Gestos que igualmente contribuíram para a construção de amizades que perduram até hoje e certamente continuarão nas gerações que ali se criaram.

Mas, afinal, que praia é essa que a poetisa Dora Borba exalta com tanto amor e palavras inesquecíveis?

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Cacio Murilo/MTur
Desde quando ainda era composta de paisagem rústica, com seus pescadores solitários e moradores esparsos, cujo silêncio do lugar era quebrado pela música das ondas do mar e o repique do triângulo do vendedor de cavaco chinês. Camboinha atraía os olhares de muitos.

Camboinha é a praia que acolhia grupos de famílias que ali chegavam todos os anos para veraneio e em período de férias escolares de seus filhos. A praia inspirava as crianças para suas peraltices no espaço da areia, enquanto as ondas as banhavam com sua interminável música.

Praia azul, de areia fina, clara, que pisada pelos anjos tornava-se prateada como eram as mãos e os pés das crianças.

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Cacio Murilo/MTur
As águas esperavam o ano passar para receber essas famílias que buscavam purificar-se no verão, entre dezembro e final do carnaval, no retorno às aulas. O mar as aguardava com suas ondas retas e poéticas. Tudo as pessoas guardavam na memória para recordar no ano seguinte, como agora a professora Auxiliadora Borba dá vida.

Na vida das famílias tinha uma praia, tinha uma praia que se fez parte da vida de cada um frequentador, da história de cada família que agora está registrada em prosa e versos.

O mar sempre foi motivo de inspiração para poetas em todos os tempos, desde a efervesceste fase dos poetas greco-romanos até chegar aos tempos atuais.

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Cacio Murilo/MTur
A poetisa Dora Borba canta o mar de sua vida, a praia de Camboinha como poucos que dela se aproximaram. Poucos viram o que ela soube captar por sua veia poética. A poetisa soube observar e descobrir, como poucos, a poesia existente em Camboinha. Camboinha de muitos amores, de muitos sonhos, onde havia muita vida. De luas cheias, esperadas com ansiedade a cada mês, a cada amanhecer que se abria para acolher a todos com a suavidade da música das ondas.

A Camboinha que recebia políticos, empresários, escritores, professores, enfim, ali estava o diferencial da sociedade paraibana que se deslocava a convite do sol e do mar.

O livro agora lançado, é um longo poema, um poema escrito com a iluminação da alma, à luz do Espírito Santo que aquece a alma do poeta. Porque Deus é poesia. O Espírito Santo é quem cria a poesia, pois como o Espírito Santo e Deus estão juntos, ambos são poesia. Ambos estão na poesia que forma todo o Universo.

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Cacio Murilo/MTur
Não há exagero dizer que a poetisa escreveu uma obra que carrega sua alma porque escrita com as rimas do coração.

Percebe-se nos poemas uma simbiose entre a poetisa e o mar, a praia que a poetisa carregou para junto de si, que se tornou familiar.

Faltava uma obra tão ampla e completa sobre esta praia, uma praia que ficou guardada na memória de muitos, da criança de ontem aos adultos de hoje. Uma praia que tem suas próprias músicas e poesia, uma praia em que suas ondas parecem uma sinfonia.

A autora recorda muitos personagens que viveram naquele lugar, mas a maior personagem é a própria praia.

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Cacio Murilo/MTur
Achando pouco converter em poemas a vida da Praia de Camboinha, a professora buscou o testemunho de vinte e oito habitantes ou frequentadores daquele espaço, o que enriquece ainda mais a sua obra e valoriza aquele recanto de veraneio, um verdadeiro paraíso do litoral paraibano.

Depois de resgatar as lembranças armazenadas, a professora Maria Auxiliadora Borba nos deu um presente, um belo presente aos frequentadores de ontem e os que ainda estão a desfrutar da beleza da Praia de Camboinha.

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