Descobri uma preciosidade. Pense num privilégio de desfrutar do convívio diário com o nosso ilustre escritor e político paraibano, José Américo de Almeida, durante a sua última década de vida. Muito mais que privilégio, isso foi uma honra para nosso renomado cardiologista Dr. Ítalo Kumamoto.
— Fui convocado por Dr. José Américo (assim a ele se refere), quando cheguei aqui, em João Pessoa.
Essa relação teve início na década de 70, quando era um recém-formado médico, e seguiu até o dia 10 de março de 1980, quando José Américo partiu. E a honra é fruto exatamente dessa confiança por lhe ter entregue tamanha responsabilidade,
José Américo FCJA
— Dr José Américo queria sempre saber as novidades, como estava a política naquela região.
Aliás, segundo Dr. Ítalo, nas suas interações pessoais, a política e sua situação na Paraíba e no Brasil, era um dos seus temas preferidos, principalmente após perceber que o jovem médico gostava do assunto. Neste sentido, quis saber se o Dr. Ítalo pensava em enveredar por esse caminho.
Nessa convivência, algo lhe chamou atenção: "Nunca vi Dr. José Américo falar mal de A ou B, nem sobre sua família. Era muito discreto".
Ítalo Kumamoto Acervo da autora
Pois bem, voltando à entrevista com Dr. Kumamoto: "Dr. José Américo estava sempre vestido elegantemente com belos pijamas" (palavras dele). Outro fato, a estreita proximidade entre os dois lhe proporcionava informações privilegiadas, a exemplo de ser um dos primeiros a saber que a Paraíba iria amanhecer com um novo governador: Tarcísio Burity, indicado por ele.
Dr. Kumamoto considerava José Américo uma pessoa conciliadora e que impunha muito respeito. "Era um homem muito culto e um paraibano com projeção nacional, muito respeitado pelo 'status quo' da época e, assim, antenado com os problemas da Paraíba tinha grande poder de articulação. Ainda hoje é referência", destaca.
José Américo de AlmeidaFCJA
Essa feliz interação decana, entre essas duas personalidades terminou no dia 10 de março de 1980, ocasião em que José Américo partiu para o mundo real, porém invisível, e pátria espiritual futura, de todos e cada um de nós.
— Ele sabia que seu quadro era grave, mas partiu tranquilo. Lembra Dr Ítalo, que participou desse momento com a então secretária Lourdinha Luna.
Gratidão Dr. Ítalo, pela oportunidade que me concedeu, dessa relíquia de entrevista, sobre o notável e admirável José Américo de Almeida - também o homem sensível que nos deixou expressivas super-frases: "O que tem de acontecer tem muita força" é uma das minhas preferidas.
Fátima Farias e Ítalo KumamotoAcervo da autora
Uma curiosidade
Ao concluir esse texto, observo que essa trajetória dos envolvidos nesta entrevista-artigo, marcam três séculos: José Américo nasceu no século 19 (dia 10 de janeiro de 1887) e viveu 93 anos, ultrapassando até o dia 10 de março de 1987, ou seja, século 20. Neste mesmo século, nascemos Dr. Ítalo e Eu, e estamos enveredando pelo século 21 afora. A diferença é que não tive o privilégio de conhecer José Américo pessoalmente, mas convivo diariamente com o seu mundo e parte de sua brilhante história, bem vivida, desde o início da década de 50, em sua então residência, intercalada entre o 'mar e a colina', situados na paradisíaca orla do Cabo Branco, na capital paraibana, Nordeste e Brasil. Gratidão!!