A felicidade é, talvez, a mais inútil das invenções humanas. Não serve para nada. Não constrói pontes, não paga contas, não resolve conflitos, não salva ninguém de um dia ruim. Ela é como a água que escorre entre os dedos de quem tenta segurá-la: quanto mais se esforça, mais se perde.
Paul Signac, 1893-95
Os estoicos já sabiam: a felicidade não é um fim, mas um subproduto raro. Como a centelha que salta do ferro batido, ela surge sem aviso e some antes que possamos nomeá-la. E, no entanto, insistem em vendê-la em frascos — nas redes sociais, nos livros de autoajuda, nos discursos motivacionais.
Prometem que, se corrermos mais, comprarmos mais, alcançarmos mais, seremos felizes. Mentira.
A felicidade não se compra; sequer se merece. Ela é um acidente de percurso, um instante roubado ao caos.
Há dias em que me pergunto se não somos todos como Sísifo, condenados a empurrar a pedra da alegria montanha acima, só para vê-la rolar novamente.
Paul Signac, 1893-95
E o que fazemos com essa tal felicidade, quando ela vem? Nada. Ela não alimenta, não cura, não ensina. É um luxo inútil, como flores em um deserto. Enquanto choramos, lutamos, criamos, a felicidade observa, distante, como uma estrela que já se apagou mas ainda brilha questionar: por que a desejamos tanto? Será por medo de encarar ou por inércia.
Talvez sua única utilidade seja nos fazer presenciar a verdade nua e crua — que a vida não precisa fazer sentido para ser vivida? Que podemos existir sem a âncora do "ser feliz"?
Afinal, até os dias mais cinzentos têm sua poesia. A tristeza nos aprofunda, a raiva nos move, a nostalgia nos conecta ao que fomos. A felicidade, por outro lado, é plana como um espelho: reflete apenas o que já sabemos.
Paul Signac, 1893-95
Que alívio seria, talvez, deixar a felicidade de lado. Aceitar que ela não serve para nada. E, nesse desapego, encontrar algo maior: a liberdade de simplesmente estar.