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Dentre os andarilhos das ruas centrais, mais precisamente na Miguel Couto, distingui Gerilo. Nome esquisito. Orientado por uma mulher, t...

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Dentre os andarilhos das ruas centrais, mais precisamente na Miguel Couto, distingui Gerilo. Nome esquisito. Orientado por uma mulher, talvez esposa. Próximo a mim, quem me iniciara no catecismo. Soubera, há tempo, que ele havia pendurado a batina de cor preta.

Havia, tempos passados, um rapaz que saía anotando num caderno as placas dos carros estacionados nas ruas. Consideravam-no um maníaco. Ma...

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Havia, tempos passados, um rapaz que saía anotando num caderno as placas dos carros estacionados nas ruas. Consideravam-no um maníaco. Mal trajado, lápis na mão, não falava com ninguém. Robotizado pelo seu comportamento esdrúxulo.

O bom humor do amado mestre amenizava a disciplina ensinada. Direito Comercial, árido, enfadonho, pelo menos para mim, recebia uma ducha de...

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O bom humor do amado mestre amenizava a disciplina ensinada. Direito Comercial, árido, enfadonho, pelo menos para mim, recebia uma ducha de verdor, quando o professor mesclava a matéria exposta com sutil anedota. Um passarinho, quase que declamava poemas, enquanto trocava sorrisos com o alunado.

O assoalho tingido de marcas de solados. Sujo. Crianças brincavam de ossinho, sacudindo aos ares carretéis desnudos cortados ao meio, apan...

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O assoalho tingido de marcas de solados. Sujo. Crianças brincavam de ossinho, sacudindo aos ares carretéis desnudos cortados ao meio, apanhando-os no ar. As mãozinhas enegrecidas pela poeira. Ninguém ligava para doenças, nem higiene. O dono da casa, que tinha mobilidade reduzida, pedia que parassem com o jogo: em vez de estarem ajudando as mães na cozinha, lavando pratos, cuidando em aprenderem a ser futuras mães e esposas! As meninas continuavam a divertir-se, as lições por estudar, os deveres da escola por fazer, a prova de português, amanhã, e elas nem aí.

Paulo Brasil sentado no degrau do templo dedicado a Nossa Senhora do Montserrat, que muitos confundem com Igreja de São Bento. Colado à h...

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Paulo Brasil sentado no degrau do templo dedicado a Nossa Senhora do Montserrat, que muitos confundem com Igreja de São Bento. Colado à histórica casa de orações é que moravam os beneditinos. Aqui, chamada Casa do Calvário, depois Central de Cursos da Arquidiocese.

O Ano Novo estava para chegar. O rebuliço tomando a casa: a mesa se enfeitando de comidas variadas. Luz faiscando por toda a parte, cumpr...

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O Ano Novo estava para chegar. O rebuliço tomando a casa: a mesa se enfeitando de comidas variadas. Luz faiscando por toda a parte, cumprimentos e beijos. Abraços de quem não se encontrava há tempo. O relógio de parede no tic tac fastidioso, antigo, o mostrador em algarismos romanos.

Tocou o celular. Do outro lado uma vozinha afinada me falou, cortesmente. Uma das insinuações das empresas telefônicas, procurando convenc...

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Tocou o celular. Do outro lado uma vozinha afinada me falou, cortesmente. Uma das insinuações das empresas telefônicas, procurando convencer-me a aderir às vantagens da operadora. Disse não, procurei argumentar, num papo por demais desagradável. Não percebi a encruzilhada, a caverna em que me havia metido. A resposta dada pelo aparelho não batia com a pergunta feita por mim à atendente. Havia um desencontro. O zumbido da interlocutora me puxava a espaços nunca dantes explorados. Quis ficar mais tempo, naquela conversa para ver até onde chegaríamos. Mostrei-me desinteressado com a proposta.

Jojoba tinha uma carreta velha. O que lhe encomendassem levar, estava pronto. Nasceu entre o condutor e a conduzido tamanha interação e ami...

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Jojoba tinha uma carreta velha. O que lhe encomendassem levar, estava pronto. Nasceu entre o condutor e a conduzido tamanha interação e amizade que dialogavam. Os parceiros de quilometragem, motoristas como ele, galhofavam: achavam que a carreta estava para lá de fuçada. Tinha freguesia certa de pequenos ou médios comerciantes. O que ganhava dava, no limite, para sustentar a pequena família, pagar as obrigações carimbadas nos boletos; no banco conservava pequena conta corrente e, para não mentir, um cartãozinho de crédito limitado, de baixo espaço para gastos

A cena já se tornara tão trivial que ninguém a olhava. Nem circunstantes transeuntes rumo à parada de ônibus, nem os diuturnos caminhantes...

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A cena já se tornara tão trivial que ninguém a olhava. Nem circunstantes transeuntes rumo à parada de ônibus, nem os diuturnos caminhantes concentrados, a caminho. Eu mesmo, em vezes que passei próximo, não notei. Ninguém comece a pensar em algo como uma planta frondosa, um cachorro flocado, alguma família de florido canteiro. Não. Sob a sombra do ninho de algumas árvores, se instalou. Mais um. Um a mais.

Os frutos sedosos vinham carregados na cesta de vime. O portão de nossa casa rangia. Ela vencia cada degrau com sacrifício: os joanetes...

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Os frutos sedosos vinham carregados na cesta de vime. O portão de nossa casa rangia. Ela vencia cada degrau com sacrifício: os joanetes a forçá-la em cuidados, as pernas trôpegas. Mamãe acolhia a vizinha da frente, a do bangalô elegante. O sorriso sonoro de d. Ernestina, a alegria em presentear-nos com os abacates cultivados no quintal de sua moradia.

Casada com seu Carlos, trabalhava ela nos “Correios e Telégrafos”, quando estes demoravam instalados no lindo prédio da praça Pedro Américo.
Uma mulher simples, cativante, liberta. Sentada no terraço, o rádio de pilha sobre o avental, escutando o rádio transistor. Nunca tivera filhos. O marido já aposentado, vestindo um paletó invariável, fechado, caladão, somente de cumprimentos rápidos. E protegendo a careca com um ramenzoni bem cuidado que o portador não deixava quieto, sempre se descobrindo e cobrindo a cabeça. Um tique que se lhe incluía na personalidade enigmática.

Mas, voltemos aos abacates: amassados e peneirados eram a delícia do pós-almoço. As crianças apostávamos: aquele que terminasse de consumir por último a pasta verde depositada num prato de ágata seria o vencedor. Cada qual que se contivesse, porque o paladar exigia fortemente. Era um divertimento. As tias reclamavam de nossas brincadeiras ingênuas. E nós medindo cada colherada. Muitas vezes, eu não tinha paciência e raspava o prato, mesmo que fosse alvo de chacota.

D. Ernestina simbolizava a amiga sem subterfúgios, sincera, pronta e solidária. Foi madrinha de crisma de uma prima minha, Vitória, já falecida, o que confirmou o entrelaçamento afetivo entre nós. Contava histórias interessantes, abria sua vida privada, em desabafos de confiança. Nem uma rusga, nem um sinal de desavença houve entre nós. No dia em que anunciou sua saída da rua, por motivos particulares, ficamos transtornados, querendo retê-la e quase sem acreditarmos.

Lamentei a mudança de d. Ernestina. Pensei nos abacates sedosos que ela nos trazia com tanta satisfação.

Não mais vi o vendedor de castanhas. Ele pontificava na calçada de um banco do centro, ao sol, muitas vezes, ou amparado numa generosa som...

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Não mais vi o vendedor de castanhas. Ele pontificava na calçada de um banco do centro, ao sol, muitas vezes, ou amparado numa generosa sombra de carro estacionado. Homem simples, puxava conversa sobre políticos, inflação, enfim, temas tratados em circunlóquios pelos especialistas globais ou não. Em seu palavreado nada atrelado a esquemas tecnocratas, ignorava gráficos onde descem e sobem marcações.

Pousada no píncaro da torre da Igreja do Carmo uma pombinha mesclada em branco e cinza. Animada em saracotear as penas, beliscando-s...

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Pousada no píncaro da torre da Igreja do Carmo uma pombinha mesclada em branco e cinza. Animada em saracotear as penas, beliscando-se, o sol aprazível numa tarde calorenta, bonita. No chão muitas delas com aqueles passos elegantes, comendo farelo e restos de comida. Sempre pessoas espalham o alimento para as avezinhas ternas.

Antigamente, eu criança, papai me levava para correr nas alamedas da Praça Venâncio Neiva (primeiro presidente republicano da Paraíba)....

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Antigamente, eu criança, papai me levava para correr nas alamedas da Praça Venâncio Neiva (primeiro presidente republicano da Paraíba). O coreto charmoso, onde, em noites dominicais, a banda da Polícia Militar soprava seus dobrados e outros ritmos. Ao centro, o lindo Pavilhão do Chá que me parecia, na fantasia infantil, um carrossel sem cavalinhos e parado. O Pavilhão não servia a bebida que lhe emprestava o nome. Curioso.

Certo jornalista de bom papo e excelente profissional (saudosa memória) me narrou o que passo a vocês agora. Bem conceituado como profissi...

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Certo jornalista de bom papo e excelente profissional (saudosa memória) me narrou o que passo a vocês agora. Bem conceituado como profissional, com timbre nas melhores folhas da cidade, resolveu se candidatar a um assento na Associação Paraibana de Imprensa. Afinal, já dera suas respeitadas opiniões, fora repórter, com muitas passadas na redação, ao ar livre, e dispunha de currículo na imprensa local que lhe permeava a ser presidente da entidade da classe.

Interessante como pegava seu lápis para colorir o caderno de desenho. Escolhia as cores mais alvoroçadas para pintar, por exempl...

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Interessante como pegava seu lápis para colorir o caderno de desenho. Escolhia as cores mais alvoroçadas para pintar, por exemplo, as folhas de um arvoredo. E nos raios do sol encabulado, por trás de riscos curvos sinalizando uma montanha, largava um verde escuro sobre o astro que ficava sem condição de iluminar. Um verdadeiro eclipse verde. E assim ia colorindo a paisagem comum, onde existem árvore, casa, lago, sol.

A Segunda Guerra Mundial trouxera muito desequilíbrio. Um alvoroço provocado pelos abalos das duas bombas atômicas que estraçalharam inoce...

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A Segunda Guerra Mundial trouxera muito desequilíbrio. Um alvoroço provocado pelos abalos das duas bombas atômicas que estraçalharam inocentes japoneses naquela sanha, naquele ódio que as guerras se incumbem de dilatar. Houve, é inegável, um reflexo no comportamento de uma geração emergente, na criançada nascida ao pavor de noticiários horrendos. A ceia que acabara de ser realizada na suntuosidade dos que comemoravam o final da hecatombe restou numa efusão de alegres embriagados. Ninguém se lembrava das vítimas de Hiroshima e Nagasaki.

Meia dúzia de pequeninas xícaras. De café, de chá. Ornadas de florezinhas comuns vermelhas e um risco dourado nas bordas. Permanecem ali, ...

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Meia dúzia de pequeninas xícaras. De café, de chá. Ornadas de florezinhas comuns vermelhas e um risco dourado nas bordas. Permanecem ali, num dos armários da cozinha, e que eu me lembre, nunca foram usadas. Emborcadas e esquecidas, seriam de utilidade se, por um feliz e raro acaso, a família se dispusesse a ressuscitar o costume de oferecer um cafezinho aos visitantes.

Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um fla...

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Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um flash artístico para expor. Certamente, uma fotógrafa de alta sensibilidade.

Semana passada, a mesma sombrinha emergiu; sobressaída de uma multidão de guarda-chuvas abertos. Não chovia. Pensei: eis onde foi parar o motivo da foto! E, creiam, recentemente, uma vermelha conduzida por alguém, tempo frio, invernoso; a ou o condutor enfrentava a temperatura enfiado num cachecol e roupas de enganar frio.

Os corredores eram compridos. Diziam que aquela casa abandonada era um abrigo de idosos, no início do século passado. Antes de ser o refúgi...

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Os corredores eram compridos. Diziam que aquela casa abandonada era um abrigo de idosos, no início do século passado. Antes de ser o refúgio dos que lá se exilavam, fora uma pensão, digamos classe “A”, onde se hospedava a nata pura da sociedade da época.

Nunca mais os pirilampos ou vagalumes infestaram de meigas luzes, pisca-piscas naturais, as nossas noites. Falta a muitos o interesse por e...

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Nunca mais os pirilampos ou vagalumes infestaram de meigas luzes, pisca-piscas naturais, as nossas noites. Falta a muitos o interesse por eles que ainda faíscam em lugares ermos, salpicando suas pobres emanações de humildes claridades.