Não tinha amigo algum, no entanto, ia ser visto, anos depois Como um dos pouquíssimos rebentos finais daquela casta condenada Que um dia ...

Gabinete


Não tinha amigo algum, no entanto, ia ser visto, anos depois
Como um dos pouquíssimos rebentos finais daquela casta condenada
Que um dia possuíra o mundo sem que necessário fosse
Sequer abrir seus braços

Achava que uma poesia me cruzaria os passos, quando
Atravessasse tal beco e fosse caminhando
Cabisbaixo e observado por aquela lua,
e logo minha sombra, ou algum meteoro caído
Havia de colocar em minha boca
Aquelas tantas palavras que eu
Absolutamente não as tinha

poesia albeto lacet
Nem me lembro ao certo se retornando sozinho
Com o peito frágil e exposto na noite lôbrega
Ou se apenas marca-me um intenso transcurso
Através da alta noite de ventania e presságios
mas sempre nas muitas e diferentes noites
Haverei de estar sempre retornando
Numa lembrança sem qualquer resquício
De anterior destino ou da mera
Alegria por estar de volta

Descendo os entrecortados batentes do vale
Enegrecido pelo fumo dos tempos, e imerso já
Naquela solidão a que inexplicavelmente fora proscrito
Carregando de mim, no entanto, imagem talvez medonha
De pária infante cuidadosamente envolto em manto
A um só tempo de proteção e inefável abandono

Mas certamente será desnecessário que a caudalosa
Introspecção de um rio venha a colar-se na paisagem
Ou que um panejado de asas feche o céu como num circo
Enquanto a multidão de palavras voa da alma para o texto
Para que tudo continue a soar como numa música ardente


Alberto Lacet é artista plástico e escritor

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. Alberto nos faz mergulhar num mundo cheio de imagens incriveis. Maravilhoso.

    ResponderExcluir
  2. Que coisa linda! É como se cada palavra tivesse sido forjada especialmente para estar ali, embalando a sonoridade e a função poética da linguagem.

    ResponderExcluir
  3. Cada vez que leio sobre D. Pedro II, mais aumenta a minha admiracao pela admiravel figura humana e notavel homem publico que foi, humanista, culto e dedicado ao conhecimento cientifico.
    Essa deliciosa cronica,aborda uma faceta especial do que foi: o viajante incansavel, percorrendo varias partes desse nosso imenso Pais e conhecendo o mundo, ate a sua estadia e morte em Paris.
    Por coincidencia, acabo de ler "A historia do Brasil nas ruas de Paris" de Marcelo Torres Assuncao, que aborda detalhadamente esse lado de viajante de D. Pedro II, detendo-se em sua estadia em Paris, onde veio a falecer.
    Parabens, Sergio Rolim, por mais esse resgate do passado paraibano!

    ResponderExcluir

leia também