Ou, como diz Hamlet:
“Nada, em si, é bom ou mau – depende de como nos chega”
É famosa a sequência, em CASABLANCA - filme de Michael Curtiz, 1942 (em plena Segunda Grande Guerra) - , em que um grupo de militares nazistas canta no bar do Humphrey Bogart, quando Paul Henreid – com o consentimento do dono da casa – manda que a orquestra execute a Marselhesa, que é cantada de pé por todos os presentes, humilhando os invasores alemães. Já na “Abertura 1812" , composta em 1880 por Tchaikovsky, a Marselhesa representa a terrível invasão napoleônica na Rússia, que a esmaga, no final, com o hino “Deus Salve o Czar”.
Cruzando o rio Berezina
Peter von Hess (Museu Hermitage Amsterdam)
Peter von Hess (Museu Hermitage Amsterdam)
Daí que em meu romance “Arkáditch” se vê que meu sogro, que nos entristeceu com Alzheimer, me deu um excelente personagem. Daí que há um momento em que ele some de casa e a solução... bem: ele me lembrava muito o James Joyce, daí que, quando seu Né, calcado nele, desaparece, Zé Medeiros (nome que tirei de um dos tios de minha mulher) recebe ligação da esposa, Dondon (apelido de uma das avós dela),e vive esta cena:
E repete, como se em português:
– Ja-mes Jo-i-ce. Joyce com ípsilon. De Chester... G... – Estala os dedos, para apressar a lembrança do sobrenome do autor – Anderson .
– Zé, eu estou lhe dizendo que seu pai fugiu e
– Por isso mesmo, Dondon. Pegue o livro.
– Pronto.
– Abra de trás pra frente. Quase no fim há uma foto de página inteira da máscara mortuária de Joyce.
Ele ouve o passar das folhas e, de repente, sua mulher dá com o mesmo sorriso triste (“mas aliviado”), os olhos fechados, cabelos emplastrados de gesso, “Seu Né dormindo”.
- Nossa! É seu pai todinho!
- É. Eu não tenho nenhuma foto dele e essa vai servir. Marque a página com uma tira de papel, ligue pra Iolanda, dizendo que mande alguém da agência pegar o livro, que tire várias xerox da foto e apele para todo esse povo que ela conhece bem, nas TVs, para divulgá-la, acrescentando que pago o que for necessário."
James Joyce / Clóvis Medeiros (sogro do autor)CC0 / @waldemarjose.solha