Uma das máximas de nossos tempos bicudos é que quando se fala em “ganhar dinheiro”, muita gente fica com a percepção alterada, perde o senso crítico e acaba vítima de algum embuste. Para não ir longe, uma recente pirâmide financeira na Rainha da Borborema deixou pessoas aparentemente atiladas de neurônios moles e com prejuízos de monta. Grandes esperanças de lucros estratosféricos e riquezas quiméricas se esfumaram no ar. E nessas searas, não custa lembrar que ilusionistas e iludidos caminham de mãos dadas.
Vez por outra, uma panaceia é vendida como a “solução de todos os males” e a promessa de vida eterna, transmutação de metais em ouro e outros portentos miraculosos parece anestesiar a cachola de multidões, que caminham alegremente para desastres sem conta.
A faixa em cor vermelha mostra o canal "Valo Grande", em Igape-SP, ligando as águas do Rio Ribeira às águas salgadas do "Mar Pequeno", área de inestimável valor ambiental.
Bom, as forças da natureza estão lá, para quem quiser estar atento, como estão os melhores geógrafos, arquitetos, biólogos, ambientalistas e outros profissionais que investem tempo de suas vidas tentando entender as delicadas relações entre as sociedades humanas e os meios com os quais elas interagem. Nosso Poeta Augusto dos Anjos no seu Monólogo de uma Sombra, notava essa ação natural como elemento de seu gênio criador: Somente a Arte, esculpindo a humana mágoa, abranda as rochas rígidas, torna água, todo o fogo telúrico profundo. E reduz, sem que, entanto, a desintegre, à condição de uma planície alegre, a aspereza orográfica do mundo!
Em Iguape, o "Mar Pequeno" (braço de mar, com águas salgadas) recebe intensa carga de água doce do canal artificial (Valo Grande), causando a destruição do mangue, que é substituído pelo campim.
Transtornos ambientais e sociais são reportados diariamente após o alargamento da faixa de areia do Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Diversas perguntas precisam ser feitas e respondidas com a maior sustentação científica e o maior alcance junto à opinião pública.
Quanto custará a pretensa obra? Quem a custeará? Qual o seu impacto para as finanças do Município, que devem ter urgências nos campos da saúde, educação e outros?
Quais as consequências possíveis para a vida marinha, para os corais, para as praias, para a saúde, entre outras?
Segmentos de menor poder econômico e político na cidade, como os pescadores da Penha serão ouvidos? Ou tratorados, como costuma acontecer?
A "engorda" no Balneário Camboriú causou o aparecimento de grandes desníveis na areia, a proliferação de algas, além do desequilíbrio da fauna e da vegetação de restinga nas áreas marinhas adjacentes.
De onde virá a areia para essa engorda? Quais os eventuais danos que a sua extração provocará na região onde for feita?
Posso estar até bem errado naquilo que falo aqui e posso ser convencido que essa engorda é a melhor alternativa, mas a sociedade precisa debater de forma ampla, sem afogadilho, ouvindo atentamente quem tem conhecimento, decidindo com discernimento e sabendo que todo dinheiro tem seu preço e que o preço, às vezes, é mais caro do que o que se pode pagar.Enfim, quando lidamos com essa escala de intervenção, o que não se pode ter de forma alguma é pressa e o que se deve ter, com toda a certeza, é prudência. Caso contrário, as areias da engorda podem engordar uma falsa prosperidade, mas também podem soterrar vidas, carreiras políticas e dinheiro de muita gente nessa aventura arriscada.