Uma sociedade que não enxerga a educação como valor essencial, também é insensível à preservação da memória, indiferente à necessidade de transmissão da cultura. Por mais duro que seja admitir, não foi outra a realidade onde se inseriu a preocupação do Desembargador Raphael Carneiro Arnaud, buscando recuperar para as novas gerações o perfil de Alcides Carneiro.
Sob a motivação imediata do Centenário de nascimento do grande orador paraibano, o magistrado descobriu na pesquisa uma outra forma de fazer justiça.
Lawrence Alma-Tadema
"Recordar não é viver, porque recordar é viver de lembrança e viver de lembrança é morrer de saudade" Assim minha avó recitava, com fervorosa exaltação, e guardei para sempre na memória. Essa contestação da frase-feita, da forma simples mil vezes repetida, que criava outra verdade, convencia e arrebatava, incorporando-se ao domínio popular.
Mas Alcides Carneiro não se limitou ao discurso de improviso que lhe rendeu tanta popularidade e que permite a comparação de sua oratória inspirada com a tradição oral dos cantadores nordestinos.
A condição de homem culto, dedicado à carreira jurídica como advogado, promotor e magistrado de nome nacional, bem como a paixão pela literatura, que fez do ilustre paraibano leitor permanente de grandes
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Raphael seleciona e comenta passagens marcantes de muitos desses discursos. As ocasiões em que foram proferidos e as personalidades a quem se dirigiam são dados suficientes para que se possa inferir o prestígio do orador nos grandes centros culturais do país.
Mas o pesquisador ainda acrescenta opiniões de nomes como Gilberto Amado, Menotti Del Pichia, Santiago Dantas, Desembargador Manuel Carlos, Assis Chateaubriand, etc. Em todos, a expressão do entusiasmo e do encantamento ante a palavra do tribuno paraibano.
Gustave Courbet
No plano da confissão, encontra-se o motivo por que esse discurso sobre o ararunense imortal continua até hoje insuperável. É que, na ordem valorativa de Alcides Carneiro, a poesia e os poetas ocupavam o lugar de maior destaque, sendo considerados o ponto mais elevado da expressão intelectual. Toda a conceituação de poesia que se expõe, ao longo do texto, reitera essa convicção. E a comparação que Alcides constrói através de metáforas se impõe como síntese: "A prosa - é tronco que muitos abarcam; o verso - é fronde que poucos atingem". Curiosamente, dois decassílabos, na estrutura paralelística e antitética, que bem poderiam compor o fecho de ouro de um soneto.
Alcides Carneiro Dig_Art
Erguer um monumento a Alcides Carneiro é reeditar esse discurso-ensaio em grande tiragem, para distribuir, generosamente, nas escolas, nas instituições culturais, em cada recanto onde houver um leitor. Pois, como sentenciou o orador centenário: "A claridade do presente não dispensa a luz do passado, e de uma e outra há de precisar o esplendor do futuro".