Conheci o doutor Nereu Santos nas lides forenses. Eu, na qualidade de procurador da UFPB, e ele, na de representante do Ministério Público Federal. Participamos juntos de algumas audiências na Justiça Federal, cada qual no desempenho de suas respectivas missões institucionais. Eu ainda relativamente jovem; ele já na chamada meia-idade, em plena maturidade pessoal e profissional. Mas ainda vigoroso e atuante, mesmo mantendo a serenidade e a fleuma de um verdadeiro cavalheiro inglês, que ele sempre foi, até o fim.
Nereu Santos TRF5
Mas quando a audiência era com o juiz federal João Bosco Medeiros e o procurador da República era o doutor Nereu eu me tranquilizava automaticamente, pois a lhaneza e a fina educação de ambos resgatava minha autoestima, colocando-me, como devia ser, na posição devida a um procurador federal, medíocre que fosse, como era certamente o meu caso. E então eu me sentia feliz e feliz desempenhava o meu ofício e as minhas atribuições, nem sempre fáceis.
João Bosco Medeiros TRE-PB
Ridalvo Costa TRF5
Aposentado, doutor Nereu elegeu nossa aldeia para a morada definitiva. Teve o privilégio de poder habitar à beira-mar do Cabo Branco, em cuja então tranquila calçada o encontrei várias vezes a caminhar, anonimamente, de tênis, bermudas e camiseta de mangas, sempre composto, senhor de uma dignidade pessoal que independia de quaisquer cargos, que lhe pertencia por natureza, acima e além das eventuais e passageiras ocupações oficiais, tão efêmeras e que, como tais, nunca lhe fizeram falta, tenho certeza. Cumprimentava-o nessas ocasiões de maneira cordial, mas sem indevidas intimidades e sempre respeitando sua privacidade.
Neide Medeiros @NeideMedeirosSantos
Então o acompanhei de longe, através das eventuais notícias da professora Neide, sabendo que o tempo ia aos poucos fazendo o seu trabalho inevitável, aquele que faz com todos nós, finitos que somos, desde sempre. Agora recebi, pelo jornal, a notícia de sua partida, aos noventa anos. Lamentei muito, é claro, mas compreendi que sua hora tinha chegado, após uma vida longeva e produtiva – e acima de tudo decente e digna, laurel que poucos podem ostentar, nestes tempos tão corrompidos e vulgares.
Doutor Nereu foi realmente um homem de bem – e do bem. Foi daqueles raros que engrandecem os cargos que exercem, ao invés de serem engrandecidos por eles. Coitados dos que dependem de cargos para se sentirem e serem socialmente importantes. Não era o seu caso. Que mais ele e sua família poderiam desejar nessa vida tão curta, precária e enganosa? Vai-se o nobre cidadão e magistrado, fica o exemplo notável para todos nós.