A cada livro que Solha publica, repetimos “olé”, imitando o público em êxtase diante do drible do toureiro na arena.
Me aproximei dele quando frequentávamos o terraço de Nathanael Alves, em Tambauzinho, em bocas da noite povoadas de estrelas das artes e do saber. Eu escutava a conversa dos dois, mas não ofereceria meu pitaco sobre assuntos de literatura. Sempre fui do time da escuta. Escutava, refletia e meditava sobre o que conversavam.
Me aproximei dele quando frequentávamos o terraço de Nathanael Alves, em Tambauzinho, em bocas da noite povoadas de estrelas das artes e do saber. Eu escutava a conversa dos dois, mas não ofereceria meu pitaco sobre assuntos de literatura. Sempre fui do time da escuta. Escutava, refletia e meditava sobre o que conversavam.
Repórter iniciante em O Norte, fui escalado por Evandro Nóbrega para entrevistar Dom José Maria Pires sobre este livro de Solha. Diplomaticamente, o bispo rebateu as insinuações do escritor. Na tréplica, o autor da polêmica obra até concordou com o bispo, mas reafirmou a sua teimosia de ficcionista, de que “Jesus nunca existiu”.
No fervor poético da adolescência, alimentado pelas emoções de apaixonado por uma musa residente em minha cidade e contaminado pelo romantismo de Gonçalves Dias e Cassimiro de Abreu, mostrei-lhe alguns poemas, curtos e líricos. Sapecou-me na cara um elogio que ainda me faz tremer, quando o leio. “Zé Nunes, é como um pintor chinês que, com uma pincelada, diz muitas coisas”.
Ele não é apenas escritor de romances. Como poeta nos tem dado excelentes livros de poemas que chamam a atenção pelo conteúdo filosófico, político, social e religioso. Homem dedicado às artes, também se destaca como artista plástico, escultor, ator, roteirista de teatro e cinema. Descobriremos muitas coisas a seu respeito lendo sua “Autob/i/ografia”.
Tinha programado fazer a leitura do livro de Solha após concluir a releitura, mais uma vez, de “Guerra e Paz” de Tolstoi – todo final e começo de ano leio uma obra universal -, mas, às primeiras folhas percorridas do “Autob/i/ografia”, fui tomado de supetão e um rebuliço me impulsionou a não largar o livro.
WJ Solha Acervo pessoal
Ele não segue a narrativa linear própria das memórias, mas recorre ao tempo conforme suas lembranças, tudo se interligando. Isso é um diferencial na sua obra.
Um polímata, repleto de leituras, como Borges, enciclopédico, que andava com uma biblioteca na cabeça, Solha, em muitas ocasiões, tem concebido obras em diferentes gêneros em que aflora a sua intelectualidade multifacetária. Ele foi um leitor que cedo descobriu o encantamento e a riqueza das Artes na formação do homem.
Encerrei o ano com chave de ouro.