Duas semanas de férias e os acontecimentos transbordam. Literalmente. Até parece que fiquei um ano fora de casa. Destino? Paris.

Uma viagem, uma tragédia

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Duas semanas de férias e os acontecimentos transbordam. Literalmente. Até parece que fiquei um ano fora de casa. Destino? Paris.

Um pé em Montparnasse, um motorista argentino, um jantar de peixe ao molho de berinjelas, um sono reparador. Dia seguinte, o Sena, a minha mais nova paixão. Os “bouquinistes” (personagens parisienses e do Patrimônio Mundial da Unesco), e o poster de Brigitte Bardot que, desde o ano passado eu queria comprar. Mas já não tenho paredes para essas musas. Paris enfeitada para as Olimpíadas, um drink – Kir Royal.

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Margem do Sena (Paris) Acervo da autora
A Rue de Rivoli e as lembranças de Marais, e a viagem com as irmãs ano passado. Uma farmácia indicada pelos produtos e preços. As mulheres loucas com sacolas entulhadas de cremes anti-idade e outros e outros. Como na minha lista só tinham dois, saí sorrateiramente de mãos vazias. Saint-Germain-de-Prés e o Café de Flore, a pensar em Simone de Beauvoir e Danuza Leão nas suas memórias. Um vinho e uma sopa de cebola no capricho! Festa no Café em frente ao Les Deux Magots. O pensamento passeia pelo filme do Woody Allen – Meia Noite em Paris. Senti-me lá. “Nós sempre teremos Paris!” Fiquei todo o tempo a ver milhares de Cafés lotados manhã e noite, de turistas e de locais. Ninguém parece fazer mais nada nessa cidade luz. Cafés, cafés, cafés. A Bientôt!

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Café Flore / Les Deux Magots (Paris) Acervo da autora
Mas em duas semanas de férias por entre Paris, Bruxelas, Bruges, Lisboa, sou inundada por notícias tristes. Primeiro a morte de um amigo de adolescência – Marcos Vinícius, Bilú (Tambaba), depois a minha querida Tia Lilita, a última irmã do meu pai que ainda estava por aqui. E perder entes queridos vistos de longe, é tudo mais doído. E por último, a tragédia do Rio Grande do Sul. Como assimilar tudo aquilo sem acompanhar os jornais, os comentários, os bastidores da notícia? Junto com a minha amiga e companheira de viagem, Lenita Faissal, emocionávamos com os vídeos do cavalo Caramelo, do cachorro que nadava em terra firme, do desespero das pessoas, e água, muitas águas subindo e subindo... Uma tragédia! Uma impotência! Uma tristeza!

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'O beijo' (Rodin) Acervo da autora
Museu Rodin, e a emoção de ver O Beijo de perto. O pensador, A sombra de Balzac e suas vestes. Mais ainda ver Camille Claudel (Há algo ausente que me atormenta), sabendo de todas as histórias de loucura, apagamento e silêncios. Um grito! A cidade de Canoas que enche. As casas que somem. As pessoas desabrigadas e eu perdida naqueles jardins de Rodin!

La Grand Épicerie e uma perdição de geleias e mostardas – trouxe uma de cassis de lamber os beiços. A pensar na mala, no peso, e nos desabrigados de POA. Uma ida ao Le Bom Marchê, me deparo com a Igreja de N. S. da Medalha Milagrosa. E a loja das Olimpíadas, meus filhos, neta me sussurram qualquer coisa. Um Croque Monsieur e uma água Perrier. Luxo. Eu sei. Mas o melhor ainda estava por vir. Um passeio a Giverny, Monet, Cores e Luzes. Virei uma abelha no meio a tantos verdes, rosas, lilases, amarelos, brancos e vermelhos. Aquelas pontezinhas, aquela casa rosa e verde, o filme a que assisti no Banguê, as Ninfeias, verdes e coloridas, postas nos tantos lagos, e o Museu de L'Orangerie, que conheci só ano passado. As águas de tantas formas, domesticadas, estagnadas, e o meu pensamento nas águas revoltas do Rio Guaíba. O frio de 12 graus da França e eu aquecida, e o frio dos desabrigados em Canoas, e tantas cidades que desaparecem e submergem na burrice do homem que menosprezou os desafios do clima.

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Jardim de Monet (Giverny) / Igreja N. S. da Medalha Milagrosa (Paris)
Acervo da autora
Em Montmartre novamente fui ver uma loja nova de sabonetes. Lavandas, Verbena e Patchouli. Ruelas, o Café do filme Amélie Poulain, O Moulin Rouge, e o vento que esvoaçava a minha echarpe. Chovia um pouco e pude ver as escadarias da Igreja Sacré-Coeur toda pintada com as cores das Olimpíadas. As ladeiras, os degraus, um poster de Picasso, e perdi de novo o Museu D'Orsay – filas intermináveis. O Jardim de Luxemburgo é outro momento de virar abelha por entre verdes e flores. Contemplar, eis o verbo. O mundo está viajando. Place des Vosges novamente. Croissants, éclair de café, e uma taça de vinho. Sempre! Mas o brinde tem a lacuna de saber que outros sofrem. Brindo às minhas perdas privadas. E aqueles que perderam seus parentes e casas.

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Ana Adelaide Peixoto, Dandara Costa e Lenita Faissal (Igreja Sacre Couer / Moulin Rouge / Jardim de Luxemburgo - (Paris)
Acervo da autora/Kate Tepl
Rue de Rennes, Cartões de arte, temperos, perfumes dos sabonetes, e a minha mala já começa a ser invadida das saudades que eu estava dessa cidade luz que me emociona, que eu não falo a língua, mas que me encanto com as referências, os filmes, e Un Homme et Une Femme a se seduzirem na Praça da Concórdia. Fiquei a imaginar. Com os olhos fechados e Jean-Louis Trintignant nos meus sonhos.

Mas a realidade é o Rio Grande do Sul.

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