Nessas andanças pelas veredas da literatura, minha última aventura foi afiar o cálamo para colocar no pergaminho as tragédias, as desesperanças, o altruísmo e uma incansável força de viver, atributos de uma mocinha de programa. Dei a ela (à moçoila e não à obra) o nome de Aída. Aída? Por que este nome? A sugestão não me veio da ópera de Giuseppe Verdi, em que Aída era uma princesa etíope que fora capturada e levada ao Egito como escrava. Ali se apaixona pelo general Radamés, o que motiva o imbróglio e aquela confusão toda. Talvez tenha sim, ocorrido uma sugestão subliminar. Explico: lá em priscas eras, quando eu ainda cursava o Científico, Aída era a moça mais bonita de minha sala. Alta, magra, olhos de jabuticaba... linda. Só o nome me inspirou, no mais nada a ver com sua xará cuja história fui recolher pelos muros da vida.
Cenário da ópera Aída (Arena de Verona, Itália (T. Weimar
Minha protagonista relata sua relação com nove dentre tantos homens que dividiram com ela a alcova. Esses nove foram aqueles que de um modo ou de outro marcaram sua vida. Quer pelo bem, quer pelo mal.
Durante o processo de criação, atrevi-me a achar que aqueles escritos iriam tomar o formato de um conto grande, o que é diferente de um grande conto. Acabou tendo o jeito de uma novela, quiçá de um romance. Enquadrar essas garatujas em um determinado gênero, parece-me preocupação de pouca monta, o que não deve ser motivo para colocar em entropia esses meus preguiçosos neurônios.
Gil Messias e Eitel Santiago radiografaram essa minha cria. Incapazes que são esses dois amigos de dizerem ou escreverem inverdades, aceito sem pejo as lisonjas e considerações que deles partiram. Vamos a elas.
Francisco Gil Messias Arquivo pessoal
Já Eitel, foi às estepes russas buscar Sônia Marmeladov em Crime e Castigo de Dostoievsky para compará-la à minha Aída [...] não perde a dignidade; ela mantém a fé; ela acredita na força restauradora da religião e do amor. Por isso acompanha o jovem Raskolnikov, quando ele vai cumprir nas planícies
Eitel Santiago Brito Pereira
Acervo pessoal
Acervo pessoal
Eitel e Gil, cada um ao seu modo, garimparam na personalidade de Aída o que ia além das indecências de alcova. Acabaram encontrando uma gema preciosa, uma conta luzidia que só brilha na alma de criaturas iluminadas.
Enfim, minha Aída, ao contrário de Sônia Marmeladov e Emma Bovary, é uma ilustre desconhecida. Pouca gente a conhece nesse mundão de Deus. Então, caro leitor e estimada leitora, estimo que não a julguem. Deixem-na envelhecer em paz.