Sou do tempo em que, sem os supercomputadores de hoje pra previsões meteorológicas, em muitas residências havia a miniatura de uma casa, de que saía uma mocinha com roupas alegres ou um cara com guarda-chuva, dependendo do barômetro. Não era um prognóstico muito seguro, claro. Como os de hoje ainda não são.
Todo mundo previu uma catástrofe sem tamanho com o furacão Florence chegando à costa americana e - ainda bem - em grande parte deu xabu. Assim, o Roldão Mangueira falhou em Campina Grande ao anunciar o fim do mundo para 13 de maio de 1980, aos Borboletas Azuis, falhou o Nostradamus ao marcar o Apocalipse pra julho de 1999, falhou Jesus ao profetizar sua volta num trono sobre as nuvens ainda naquela geração, para o devido Juízo Final.
Marx falhou, também, ao considerar, determinista, em 1848, que o proletariado iria pegar em armas, destruir a burguesia e fundar sua ditadura – o que foi resultar, 69 anos depois, na revolução russa, feita por Lênin com “revolucionários profissionais”, já que o movimento se deu num país agrário, sem operários esclarecidos para aquela façanha. Falhou Kubrick, também, ao prever, em 68, que em 2001 estaríamos em Júpíter. Ou seja:não é fácil. Minha mãe, que costumava usar frases feitas, diria: É, o futuro a Deus pertence.
Bom.
Talvez o único a ver o porvir com bons olhos tenha sido Pierre Teilhard de Chardin – o padre paleontólogo e filósofo – em seu “Fenômeno Humano”, escrito nos anos 40 mas só publicado em 55, devido à proibição da Igreja. Dizia ele que a Evolução era a evolução da consciência, com a Terra sendo, primeiro, uma geosfera, que passara a ser envolta de uma biosfera, que acabaria – com o Homem – gerando a Noosfera, sua “camada pensante”.
Se não estou simplificando demais, ele revoltou a Santa Sé por considerar que não houvera nenhuma salvação com Jesus (a guerra era um exemplo disso ), ... pois o Cristo na verdade seria o ideal humano, que passaria a existir no momento em que Deus, a Natureza e o Homem passassem a ser uma coisa só – numa data não muito distante, que ele chamou de Ponto Ômega.
Isso me lembra o Übermensch de Nietzsche, que estaria na culminação humana, num caminho que vinha das cavernas e do hominídio quase bicho. Impressionou-me que Chardin antevisse, nos anos 40, uma enorme evolução das comunicações que acabará - segundo ele - tornando a Terra... hominizada. Imagine se tivesse alcançado a internet.
Nietzsche
É a mocinha anunciando o sol.
Pra anunciar a chuva eis o Stephen Hawking - recentemente falecido – que, em 2014, mandou carta para The Independent, em que ressaltava o fato de que num futuro próximo, "as máquinas poderão manipular mercados financeiros, seres humanos, desenvolver armas que nós não poderíamos entender e provavelmente provocariam o fim da nossa espécie". A Inteligência Artificial “seria a maior conquista da humanidade até então, e possivelmente a última".
Nada de novo debaixo do sol.
Stephen Hawking
Temos Chardin versus Hawking - flor versus guarda-chuva. Eliminados os jargões religiosos, sou mais Chardin.