Nhô Augusto Matraga, depois de levar uma surra de largar o choco, apanhando mais do que mala velha para tirar o mofo, tendo sido ferrado, p...
Aprendendo com Nhô Augusto
Nhô Augusto Matraga, depois de levar uma surra de largar o choco, apanhando mais do que mala velha para tirar o mofo, tendo sido ferrado, pulado de um barranco, dado como morto e cuidado por um casal estranho, recobra a consciência e decide que deve mudar de vida. O seu intuito com a mudança? Entrar no céu, nem que seja a porrete.
Com o mês de junho, toda aquela força revigorante que toca sensivelmente nossos corações, a singela centelha das tradições, traz novos e gr...
O mês de junho
Com o mês de junho, toda aquela força revigorante que toca sensivelmente nossos corações, a singela centelha das tradições, traz novos e grandes significados no romper dessa página de calendário. O mês da colheita, que dois mil e vinte já prometera fartura a partir de março (no dia de São José), vinha sendo esperado desde as chuvas que garantiram o bom desenvolvimento das culturas agrícolas; milho e feijão abundam nos tabuleiros e várzeas, planuras que se viram enfeitadas com o abonecar das plantações.

Ao longo da história nossa civilização desenvolveu uma multiplicidade de correntes religiosas bem diferentes entre si. As três religiões ma...
O Deus de que falava Einstein
Ao longo da história nossa civilização desenvolveu uma multiplicidade de correntes religiosas bem diferentes entre si. As três religiões majoritárias do Ocidente, isto é, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo, possuem uma concepção da divindade bem diversa da que é aceita pelas religiões orientais, tais como o Budismo e o Hinduísmo. Além disso, a chamada “verdade revelada” tem uma importância muito maior no Ocidente do que no Oriente. Mas, mesmo dentro da mesma religião existem diferenças enormes entre algumas vertentes.
O tal do eu, primeira pessoa do singular, é tão complicado na vida como na escrita. Salvo os vaidosos exacerbados ou os megalomaníacos pato...
Primeira pessoa do singular
O tal do eu, primeira pessoa do singular, é tão complicado na vida como na escrita. Salvo os vaidosos exacerbados ou os megalomaníacos patológicos, normalmente as pessoas têm um certo pudor, uma certa parcimônia no uso do pronome eu. É comum um certo temor de parecermos, aos olhos dos outros, alguém autocentrado, que só enxerga o próprio umbigo. E, pensando bem, é bom que seja assim, já que costumamos, nós próprios, rejeitar os que se comportam dessa maneira reprovável. Os europeus educados são muito bons nessa arte civilizada de ocultação do eu, principalmente, creio, os ingleses, talvez a gente mais discreta do planeta. Um inglês de verdade jamais demonstra em público suas emoções, ou seja, jamais escancara o eu profundo publicamente. Isso fará bem ao corpo e à alma? Não sei. Mas que parece polido, parece, pelo menos nos livros e nos filmes.
Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamand...
O pastor das tardes e das manhãs
Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamando a atenção como adentrava na redação de O Norte, pela elegância corporal e inegável cultura. Lembro-me dele como o cronista da emoção e poeta da paixão que a professora Ângela Bezerra de Castro tão bem descreve.
Espelho Seria um espelho Ou um poço profundo, Que refletia imagens Que ainda não sei decifrar.
Retratos pálidos
Não será numa homenagem de formato multi-seccionado, contemplando vários temas e referências numa mesma agenda, que se faria, a contento, u...
Do magistério para a crítica
Não será numa homenagem de formato multi-seccionado, contemplando vários temas e referências numa mesma agenda, que se faria, a contento, uma abordagem mais ajustada ao perfil de intelectual e de mestra escritora de nossa Ângela Bezerra de Castro.
Fachada é rosto, tela, expressão que reflete épocas da arquitetura, urbana ou humana. Seja de casa ou de edifício, nela está o sorriso do q...
A imaginação em fachada
Fachada é rosto, tela, expressão que reflete épocas da arquitetura, urbana ou humana. Seja de casa ou de edifício, nela está o sorriso do que se constrói, o registro de uma era, a figuração ilustrativa do clima, da economia, da tecnologia e do modo de vida entre os povos. Como lado que é visto por fora, são as fachadas que definem o cenário das cidades e comunidades.

Se há algo que registra a história da humanidade como “Música Petrificada”, de forma tão intrínseca e genuína, é a Arquitetura. De todos os estilos, nas diversas eras, ela é a linguagem que mais exprime as emoções de maneira sólida, viva e eloquente. Da pré-história à modernidade, foi na perspectiva dos aglomerados urbanos que se evidenciaram os modos de vida, do relacionamento comunitário, que muitas vezes extrapolaram sentimentos fazendo brotar para a superfície das fachadas a intimidade que transcendia os ambientes internos e a alma que neles habita.
A técnica de construção conhecida como “Fachwerk” ou Enxaimel, que teve origem há quase 3 mil anos na Etrúria, parte da península itálica onde hoje fica a Toscana, é uma boa referência sobre o assunto. Muito usado na Alemanha, França e Inglaterra, com a intenção de pôr à mostra todo o sistema estrutural, o estilo tornou-se turisticamente muito apreciado pelos aspectos estéticos e históricos, amplamente encontrado em decantadas regiões da Normandia, Champanhe, Bavária, Saxônia e em cidades medievais suíças e inglesas.

A técnica consistia em preencher os espaços entre pilares, vigas horizontais e diagonais com tijolos, argamassa e até pedra grês, deixando a estrutura de madeira bruta aparente. Exemplos memoráveis podem ser vistos em bairros inteiros em Celle, Rothenburg ob der Tauber, Freudenberg, Blankenheim (Alemanha), Rouen, Troyes, Dinan (França) e até mesmo no centro de Londres, na sofisticada loja de departamentos “Liberty's”, modelo clássico e repaginado do estilo Fachwerk. Uma maneira de tornar visível em corpo, de forma graciosa, os segredos do esqueleto das edificações.

Embora remonte à Antiguidade, sobressaiu-se na Renascença como inovadora criação artística que deu vida, com ares de teatro e ópera ao cotidiano lírico das ruas e vielas, fazendo soar da Arquitetura sua bucólica melodia em pedra.

Réplicas deste romantismo perdido podem ser vistos em Camogli, Finalborgo, Gênova (Itália), assim como em Nice, Agde, Avignon, Gorbio e Menton (França).
São marcas indeléveis no tempo e nos sonhos, que em seu lugar de origem permanecem vivas, cultivadas, bem distantes de nossa arquitetura atual, cartesiana, funcional, tecnológica, que se transfigura na mesma velocidade com que vemos a vida passar...
Para os filósofos franceses Félix Guattari e Gilles Deleuze, há um devenir impopular no enredo do livro Ratman’s Notebooks (bestseller de 1...
A filosofia das trilhas sonoras
Para os filósofos franceses Félix Guattari e Gilles Deleuze, há um devenir impopular no enredo do livro Ratman’s Notebooks (bestseller de 1968) escrito por Stephen Gilbert, e que é base para o filme Willard (1971). Esse filme, que só conheci pela indicação dos filósofos constante no livro ‘MIL PLATÔS, Capitalismo e Esquizofrenia’, é dirigido por Daniel Mann, e tem no papel principal o ator norte-americano Bruce Davison, quando ainda tinha um quarto de século de vida.

Uma força inegável que realça e reinterpreta a narrativa do livro – e que pode explicar, em parte, essa “impopularidade popular” – é a música trilhada nos filmes. Na primeira montagem, adaptação para o cinema logo três anos após o lançamento do livro, temos a música de Alex North (1910-1991) que, desde a abertura do filme, com créditos e cena inicial
A música tem o primeiro corte justamente quando o carro do anti-herói, por assim dizer, o chefe da empresa, sa vci da fábrica e assusta Willard freando bruscamente quase que em cima dele. Essa sincronia de eventos da música que prepara, antecipa, refere, e alude a afetos e emoções é recurso não só do mundo cinematográfico, mas, advém de muito antes, já das obras incidentais e cerimoniais de tempos imemoriais.
North, para fazer um trocadilho com seu próprio nome, dá um “norte” à trama do filme que, apesar de estar rotulado no gênero terror, suaviza-se e ganha mais envolvimento com uma música criativa e interessante. Aos ratos, que saem da condição de intrusos num casarão tradicional norte-americano, passando a verdadeiros donos, ao fim do filme, são associados efeitos sonoro-temáticos próprios, de ritmo, timbres e arabescos rápidos ou gestos lentos a depender da intenção que se quis provocar no espectador.

Como dar sequência a uma pitoresca estória como esta? No ano seguinte, Ben ganha seu próprio filme, suplantando a própria ênfase do livro no personagem Willard: “quando Willard se finda, Ben emerge, e ele não está só”, diziam as campanhas publicitárias de lançamento. Aliás, caberia aqui a expressão de pergunta sobre a coragem ou bravura que Willard não teve e que se viu no ‘gabiru-herói’: és um homem ou um rato?...

Seja um “devir-animal”, – numa lembrança bem desenredada dos filósofos, com conceitos demasiado densos para que os traga aqui sem esmiuçá-los – seja a análise do discurso feita pelo profícuo e inteligentíssimo teórico literário canadense Northrop Frye, que emula a relação entre ritual, como “pré-consciente e animal”, e mito, como “consciente e humano”; tanto o livro, quanto os filmes, com a imaginativa e expressiva música, têm forma para bem além dos gêneros: uma criação arquetípica que releva nossa relação íntima com o mundo dos símbolos do qual a música é parte.

Voltanto à França de Guattari e Deleuze, Giacchino compõe a canção Le Festin que encerra o filme de modo altruísta, fazendo-nos respirar fundo, arrepiar de vontade em rodopiar nessa canção em valsa no estilo tradicional das ruas da cidade-luz, com o acordeão bem característico, e na interpretação da cantora parisiense Camille Dalmais.
Camile possui um timbre escolhido a dedo, tão suficientemente leve, agudo e nasal que se pode associar a Rémy, personagem principal, na felicidade da inauguração do restaurante La Ratatouille, em que ele é a estrela.
Ratos ou homens, rituais e mitos, em todos manifesta-se esse saber, ora alquímico, ora prático e objetivo: a música envolve, ambienta, serve à narrativa ou dela se serve para imprimir e afetar por meio de intrincadas tramas de subjetividade e simbolismo. Creio que mesmo transcendente à criatividade humana, a música, posto que manifesta em som, é em nós e através de nós.
Matinal A luz da manhã é um rio de saudade que invade meu silêncio.
As fontes do rio Ipojuca
Escrito por Platão, "O Banquete" (ou "Simpósio") é belíssima peça literária que faz apologia ao Amor. O texto, diferent...
O Banquete
Escrito por Platão, "O Banquete" (ou "Simpósio") é belíssima peça literária que faz apologia ao Amor. O texto, diferente dos demais produzidos pelo filósofo, descreve uma reunião festiva na residência do poeta trágico Agaton, da qual fazem parte inúmeros convidados famosos, a elite da sociedade ateniense.
No caminho da vila do Bujari, na região da Serra de Cuité, havia uma casa bem caiada, de três varandas com piso de tijolo e esteios de aroe...
O homem que procurava Deus
No caminho da vila do Bujari, na região da Serra de Cuité, havia uma casa bem caiada, de três varandas com piso de tijolo e esteios de aroeira. Era agradável de ver: ela arrodeada por canteiros de roseiras e plantas medicinais, cerquinha de ripa para amparar dos bichos, frondosas jaqueiras com sombra depois do meio dia e terreiro varrido onde se viam dois pavões criados soltos para o encanto de quem por ali passava.
Manifestações e protestos, desde que ordeiros e pacíficos, são uma demonstração inequívoca da liberdade de expressão. Embora muitos desejem...
Culpa ou responsabilidade?
Manifestações e protestos, desde que ordeiros e pacíficos, são uma demonstração inequívoca da liberdade de expressão. Embora muitos desejem limitá-la, a liberdade de expressão deve ser garantida e quem se sentir incomodado com ela deve buscar a justiça. O que não dá é para o estado se intrometer e cerceá-la, em nome do que quer que seja.
O autor Carlos Drummond de Andrade não era tão “gauche” quanto o eu lírico do “Poema de sete faces”: “Vai, Carlos! ser ‘gauche’ na vida”. C...
Impressões
O autor Carlos Drummond de Andrade não era tão “gauche” quanto o eu lírico do “Poema de sete faces”: “Vai, Carlos! ser ‘gauche’ na vida”. Com efeito, embora timidamente, por vias oblíquas, de acordo com o seu temperamento discreto, recatado, bem que ele cuidou, aplicadamente, da posteridade da sua poesia. Para tanto, lançou mão de um certo histrionismo para asfaltar o caminho de sua obra poética. Aliás, o simples fato de viver, durante um período, distante dos refletores, dos microfones da mídia, mais o expunha do que o escondia. Criou um tipo, como também o criaram J. D. Salinger e Dalton Trevisan, ambos reclusos num anonimato que tinha lá uma certa eficácia em termos de publicidade. E o que dizer do Jean Paul Sartre que recusou o Prêmio Nobel de Literatura? Que, não o aceitando, ganhou mais evidência, mais notoriedade.
Quero unir as forças invisíveis e intocáveis de todos recantos do globo em forma de ventos, que formem um poderoso martelo de sopros feroze...
Ventos
Quero unir as forças invisíveis e intocáveis de todos recantos do globo em forma de ventos, que formem um poderoso martelo de sopros ferozes ou uma suave brisa. Deuses e infernais, vindos do coração da terra e das águas, das montanhas ou planícies, viajantes dos desertos e mares, companheiros e inimigos dos navegadores aéreos, náuticos ou terrenos.
Em 1979 instalou-se uma filial da Livro 7, na Visconde de Pelotas, vizinha ao prédio da Associação Paraibana de Imprensa. A matriz da menci...
Ordem ao avesso
Em 1979 instalou-se uma filial da Livro 7, na Visconde de Pelotas, vizinha ao prédio da Associação Paraibana de Imprensa. A matriz da mencionada livraria, que revolucionou o mercado livreiro no Brasil, ficava no Recife. Era meu ponto predileto. Certa vez vi um livro denominado História da Loucura, de Michel Foucault, autor ainda praticamente desconhecido no Brasil, sobretudo na Paraíba.