Eduardo Frieiro, no seu livro “Os livros nossos amigos”, começa-o afirmando que “querer bem aos livros é sentimento que se parece muito com o amor dos sexos”, pois o verdadeiro amante dos livros sente mais do que uma necessidade intelectual; física. Eles estão no quarto, na sala, cozinha, mesa. Ao pé e na cabeceira da cama. Nas travessias do amor, terreno íngreme, quantos são aqueles que recorrem a uma boa leitura, entre um choro e um travesseiro. O amante é possessivo. E aqui vale a seguinte frase: “Prefiro dar dois livros a emprestar um”. Não importando se a obra é rara ou não. Seu objeto é seu. O gozo está no tato, nos olhos e no cheiro.
Johannes de Heem
E “o importante era possuir os livros, saber que toda aquela riqueza cultural do passado estava ali, ao alcance de sua mão”. Ler não era o principal. No apartamento, onde ele morava, estava repleto de literatura médica até autoajuda. Scliar encerra dizendo que o velho tem um sonho, de um dia ganhar na loteria, então comprará uma biblioteca – só dele – onde contratará bibliotecários, roubará os livros, e seus funcionários não poderão dizer nada. Mas, há um problema. O seu inimigo; o tempo, real ladrão, não tem paixão alguma por livros.
Não consigo conceber a ideia de que há pessoas que não gostam de ler. Creio que a elas a leitura foi mal apresentada. Leu algum livro, muitas vezes na escola, por imposição, para fazer uma prova, com o qual ainda não havia maturidade em se dar, seja pela linguagem, trama ou ânimo. É só se permitindo que o saber retornará ao passar os olhos pelas letras. É natural repelirmos autores aos 15 e estes serem nossos prediletos aos 30. Cada idade pede os seus.
Jan Davidsz
Acredito que não viverei mais de 100 anos e se viver não terei lido trinta por cento do que gostaria. Então, aprecio ou rejeito o que vier. Mas, não deixo de tê-los e de me dar a eles. Sou autor dos livros que leio. Não teremos séculos de vida cronológica. Todavia, poderemos ler séculos. Mãos, olhos e nariz à obra.