Veio a reforma de Damásio Franca, a de Ricardo Coutinho, uma laje no lugar de outra, um reboco sobre outro, mas ficou no ar úmido da cal a pucumã largada pelos antigos fumos, uns vestígios de espírito do “ponto de encontro perdido”.
Desci pela 1817, botei a cabeça na livraria do Luiz, e quando menos espero acho-me no Ponto de Cem Réis. Não no Ponto de Cem Réis das reformas, mas no que descia comigo, dentro de mim, guiando os meus passos.
Desci pela 1817, botei a cabeça na livraria do Luiz, e quando menos espero acho-me no Ponto de Cem Réis. Não no Ponto de Cem Réis das reformas, mas no que descia comigo, dentro de mim, guiando os meus passos.
Matheus Jampa da Silva
O Ponto de Cem Réis já vinha prenunciando a derrota. A indústria da seca, bem azeitada pelo governo do PSD, tinha apagado a lembrança do ministro de 1932, e do governador que deixara o Palácio nos braços do povo. Não eram braços de claque, mas os de ânimo cultivado pelo espírito do próprio Ponto de Cem Réis.
Matheus Jampa da Silva
Caíra uma neblina amornada pelo sol do crepúsculo. O pavilhão dos engraxates, do lado oposto, aguentava o aperto da gente do povo, num pré-comício em torno de Antonio Nominando Diniz, jovem deputado e poeta da coligação que elegera Zé Américo a governador e fiel escudeiro do Partido Libertador, o partido que acomodava as lideranças americistas depois das dissensões partidárias.
Mais que encerramento, o discurso era uma despedida. O orador derramava na praça central o mar da Bahia, onde e quando surgiu uma tábua para salvá-lo do desastre de avião que matara Antenor Navarro.
FDC
Ainda ontem, em crônica n’A União, Abelardo Jurema Filho lamentava o fim de obras de discurso como os Cieps de Darcy Ribeiro implantados por Leonel Brizola.
Com os discursos também se foi a sensibilidade para questões de consciência social num país que abastece o mundo de alimento e não se toca ante o espantalho de pobreza e fome de um quarto da sua população. Quanto mais crescemos, mais crianças sem pão e sem abrigo pelas calçadas do nosso desenvolvimento urbano.
O artigo de Abelardo me fez lembrar passeio antigo que fiz, há tempo, com um visitante concluinte de mestrado em antropologia admirado com o rico casario do nosso Bairro dos Estados. Que riqueza! – exclamava a cada mansão. “Mas tem pobreza, também” – alertei-o, querendo mostrar onde encontrá-la.
- Não, não precisa, as calçadas da riqueza são o melhor mostruário. Das capitais do Nordeste só faltava conhecer a sua.