As crises são produtivas e mesmo desejáveis. Precisa-se delas para crescer. Isso é verdade tanto para a História quanto para os indivíduos. Historicamente, a períodos de crise sucedem outros de euforia e progresso (os pós-guerras atestam essa verdade). No que diz respeito às pessoas, há relatos de crises que ensejaram profundas mudanças existenciais.
O problema é quando elas se tornam frequentes e mesmo viciosas. Há quem se acostume a viver em conflito consigo mesmo e cultive com certa morbidez o mal-estar que isso traz. Para gente assim, os momentos críticos não são estágios para o amadurecimento pessoal; persistem como uma espécie de segunda natureza.
Modigliani
As conversas com ele me lembram o adolescente que fui – cheio de dúvidas e temeroso do futuro. Com quem namorar? Que carreira seguir? Que amigos cultivar? Questões como essas não raro me tiravam o sono, mas na adolescência isso é natural. Está-se numa encruzilhada quanto a escolhas que vão repercutir no restante da vida – e sabendo muito pouco do que a vida é. Vivenciar tal paradoxo, convenhamos, precipita qualquer um no torvelinho da crise.
Às vezes esse emaranhado de indecisões persiste em estágios posteriores, chegando à idade adulta e se projetando na velhice. Geralmente quem passa por isso diz que ainda não se encontrou (é tão longo esse “ainda”, que faz pensar em “nunca”). Quando enfim se dará esse encontro, para o qual a pessoa parece não estar (ou não ser) preparada?
Modigliani
Faz dias que não nos vemos, mas sei que ao reencontrá-lo vou me deparar com o mesmo semblante sombrio e as velhas queixas. Ele me falará de suas novas deliberações e me pedirá que opine sobre elas. De que adiantaria opinar? Quem não consegue ouvir a si mesmo não vai querer ouvir os outros. Mas serei complacente quando ele começar, como das outras vezes: “Rapaz, agora é sério! Nunca estive tão mal...”