Em recente viagem à Serraria, grande foi a surpresa ao reencontrar um primo vaqueiro, parente por laços familiares dos Nunes e dos Mendes. Sem nunca ter se afastado da nossa região, ele é o típico vaqueiro do Brejo, pois na ocasião do nosso encontro carregava as indumentárias dos que se embrenham pelas matas em busca de um boi fujão, semelhante aos antepassados, avôs e pai, revelados como bons pegadores de gado em lugares de topografia de difícil acesso.
Mesmo sendo uma extensão de terra relativamente pequena, diferente do Sertão que tem peculiaridades específicas e sol escaldante, a região do Brejo contém clima ameno, topografia mais acidentada, abundância de
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Foi na paisagem de extensas matas ao redor de terras revestidas de babugem destinada a alimentar o gado que, em meados do século passado, eu observava homens couraçados, com trajes surrados, montados em cavalos protegidos por peitoral e viseiras, a descer desfiladeiros ou quando se embrenhavam por entre a amorosa em busca do animal desgarrado da pequena boiada de tio Pedro Mendes ou de Aloisio Rocha.
José Barbosa Bezerra
Acervo do autor
Acervo do autor
Com sua voz mansa, este vaqueiro costumava falar sobre a diferença de correr atrás de uma rês no Sertão, e no Brejo, onde passou a residir. Seu lugar de origem tem paisagem plana, em grande parte, com melhores condições para capturar o boi, bem diferente da região brejeira, onde a topografia irregular dificulta as atividades.
Muitas vezes escutava papai falar nesta diferença das atividades entre o vaqueiro do Brejo e do Sertão. Ele ressaltava a coragem do vaqueiro do Brejo em relação ao da outra região, seja do Sertão ou Cariri. Lembrava que nas brenhas brejeiras tem seus perigos, mesmo que nas terras sertanejas os espinhos pontiagudos, gravetos secos e os seixos soltos incomodassem bastante.
José Barbosa Bezerra
Acervo do autor
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Meu tio Manoel, irmão de papai, era carreiro e vaqueiro nas fazendas de tio Pedro Mendes. Conduzia as boiadas da região do Brejo para o Curimataú, uma vez ao ano. No período de invernadas, o rebanho bovino deixa Serraria para passar a temporada chuvosa no Curimataú, de clima ameno. No mês de setembro ou outubro, com a estiagem consolidada, trazia de volta os animais.
Se no Sertão, o vaqueiro se depara com paredões de pedra vistos à distância parecem uma sombra, no Brejo, que ocupa uma nesga da Serra da Borborema, homem, cavalo e o gado são espremidos por cordilheiras e encostas de terra úmidas e escorregadias. Este nunca se afoba diante dessas adversidades. Lá se acostumaram com o longo ciclo adurente das secas, cá são as invernadas aguardadas entre o Equinócio do Outono, em março; e o Solstício de Inverno, em junho, que se oferecem ao homem do campo para melhor desenvolver suas atividades.
José Barbosa Bezerra e José Nunes Acervo do autor
Nos dias de verão, o sol poente do Brejo cobre as serras, que vendo-se ao longo do horizonte, transforma o lugar em paisagens estonteantes.
Nosso vaqueiro sabe, sem nada dever aos que atuam no Semiárido, como viver as adversidades durante a captura de uma animal desgarrado da boiada.