Os caminhos para o Sertão me levaram à Taperoá, onde o zeloso Dorgival Terceiro Neto nasceu, amou e defendeu. Observei vaqueiros e santos guerreiros usando indumentária característica da região a percorrer caatingas, como descritas por Ariano Suassuna, outro sertanejo de estirpe em extinção.
Toda região atingida pelo estio, com o chuvisco, as raízes brotam, ramas verdes cobrem a terra seca, o homem cava a solo, o perfume espalhado atrai pássaros, e logo os olhares estão sobre todos recantos.
Toda região atingida pelo estio, com o chuvisco, as raízes brotam, ramas verdes cobrem a terra seca, o homem cava a solo, o perfume espalhado atrai pássaros, e logo os olhares estão sobre todos recantos.
Rio Taperoá (PB) Egberto Araújo
Uma década sem Dorgival encheu um par de caçuá de saudades. Ao chegar em sua terra, imaginei montado em jumento coberto com manta de couro de bode, caminhava pelo leito do Açude Manoel Marcionilo até chegar a Fazenda Santa Maria, depois de passar pela Fazenda Carnaúba, de Manuelito Vilar, pastor de cabras e o mais teimoso dos sertanejos, que foi guardiã de receitas para se viver naquele estorricado torrão.
Usar traje de couro seria homenagem à terra onde, no decorrer de muitas décadas, produziu homens e mulheres de boa camaradagem, de viver harmonioso porque partilharam modos típicos de uma raça acostumada a viver ao sol, de mãos calejadas e pele queimada. A exemplo destes amigos citados, muitos demonstraram apego à terra mãe. Pessoas são chamadas para sentir a brisa morna exalada da caatinga, perfume misturado de mormaço, espalhado por todo o Vale do Rio Taperoá.
Taperoá (PB) Antônio David Diniz
O poeta Vital Farias, cantador de todas emoções, enfiou este lugar místico em canções eloquentes e versos memoráveis.
Taperoá é para onde fotógrafo Antônio David coloca seu olhar e a lente da máquina para registrar paisagens em instantes que não retornam, do mundo encantado de Quaderna, de Dorgival, de Manoelito, de Vital e de Balduíno.
Certa vez o atencioso Nabor Vilar informou que Taperoá prestou homenagem ao filho ilustre, Dorgival, que brilhantemente administrou a cidade de João Pessoa e o Estado da Paraíba. Queria conferir, por isso passei pelo lugar.
Quando cheguei em Taperoá na manhã de sol morno devido ao estio, caminhei lento pela Rua Governador Dorgival Terceiro Neto, a principal de cidade, que desemboca na rodovia construída quando o filho ilustre estava na chefia do Governo da Paraíba, e recebeu seu nome. Homenagem por demais merecida, em iniciativa do Vereador Marcilon Melquides Alves Vilar, logo aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal.
Dorgval Terceiro Neto Antônio David
Presto minha homenagem ao sertanejo que me acolheu com abraços inesquecíveis. Ele nada me deu senão a mão estendida como alguém a acolher filho necessitado de acalento.
Dorgival Terceiro Neto Antônio David Diniz
Os cargos exercidos no governo não mudaram seu modo de acolher conterrâneos. Como governador ou prefeito, nunca tomou decisões ao sabor da arrogância. Seu modo de tratar os amigos não tinha descontinuidade.
Quando conversei com pessoas do seu círculo de amizade e convivência íntima para um livro que escrevi sobre ele, ainda não publicado, constatei aquilo que ouvia dizer dele, pois era um homem de rara simplicidade. São poucos e quase ninguém com insinuações para desabonar o modo como conduziu sua vida profissional.
Este homem de saber jurídico invejável e contumaz defensor da cultura de sua terra, correto e de fabulosa memória, recitava versos de repentistas e utilizava modos para se viver com simplicidade.
Pouco antes de contemplar os cenários em redor da rua que tem seu nome, deposito uma flor da caatinga em seu túmulo. Enquanto caminho em direção da Igreja Nossa Senhora da Conceição, suntuoso templo, símbolo da fé cristã na cidade, conclui que este lugar ainda fez pouco para perpetuar a memória deste homem.
Taperoá (PB) Antônio David Diniz