Em poema antológico, o monge beneditino Marcos Barbosa, da Academia Brasileira de Letras, fala do amor do homem e da mulher quando f...

A dor traz gesto poético

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Em poema antológico, o monge beneditino Marcos Barbosa, da Academia Brasileira de Letras, fala do amor do homem e da mulher quando formam um casal, reproduzem a espécie humana como dom supremo de Deus e enfrenta com serenidade todas as barreiras que se lhe impõe.

Neste mês, em Araruna, um casal completou 75 anos de matrimônio. A data foi celebrada com simplicidade, mesmo grande a alegria de seus familiares.

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Jozef Israëls
Já tive oportunidade de testemunhar gesto de amor semelhante, quando casais invocaram benções na celebração de 50 e de 65 anos de casamento.

Um desses momento, o casal vivia momento de dor. Há mais de quinze anos ele estava em estado vegetativo, intercalando os dias entre a cama de um hospital e o leito de sua casa.

Na leitura da Carta de Paulo aos Coríntios ouvimos que Deus é fiel para conosco. Dessa fidelidade vem a força para suportarmos as inquietações, as dores que estão fora no nosso controle e com as quais convivemos.

Tudo o que acontece conosco são do plano de Deus. Ele nos fortalece e alimenta para transpor as barreiras que, não tivesse sua mão, dificilmente daríamos passos para frente.

A maior prova de amor, no dizer de Jesus, é doar-se pelo outro. Doação que ultrapassa os limites físicos e do entendimento porque alimentada pela força que brota do encontro com
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Vasily Pukirev
Deus, na pessoa do outro. O que acontece para tanta dedicação e aceitação do outro, sobretudo na dor e no sofrimento, está além de nossos entendimentos porque vem das energias cósmicas que nos governam, que é o próprio Deus.

Somente quem faz o encontro com Deus, no seu silêncio, é capaz de amar e nunca esquecer. Tantas pessoas largam tudo para servir, e servindo fazem esse encontro com Deus. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, disse Jesus para seus seguidores.

Grande é a arte do amor, como nos ensinou o mestre do Amor. Somente no amor é possível viver 50 ou 75 anos de uma união abençoada no Sacramento do matrimônio. Aprende-se a amar cultivando a arte da contemplação do belo, na paciência, na capacidade de perdoar quem estar ao nosso lado. Não fosse o amor, dificilmente haveria esperança. Amar é estar à disposição para servir, dedicar-se ao escolhido. Amar é transformar a vida numa primavera, não importando a situação porque o amor tudo supera.

A semente do amor semeada faz a vida brotar em cada semente germinada.

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Nicolas Maes
O poeta Ferreira Gullar disse que a dor física é paralisante, não inspira poesia. Não concordo com ele. A doação por quem sofre a dor física é poesia. Na Cruz, o gesto de Jesus foi altruísta, profundo, afetivo e poético. Na sua dor, Cristo produziu solidariedade com gesto poético.

Porque mais sensíveis e mais poéticas, em certas ocasiões, as mulheres portam gestos caritativos mais profundos do que os homens, se dedicam aos outros com fervor.

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Michael Sweerts
Nos gestos destes casais temos uma demonstração capital do cumprimento da promessa de estarem juntos ao escolhido em todas as circunstâncias, na alegria e na tristeza, mesmo que a dor do sofrimento exija superação. Tudo é bonito sinal de afeto, construído na fé e no amor ao próximo.

O amor faz a pessoa capaz de conviver com seu amado no leito de hospital, recolhido aos cuidados de Deus pelas mãos de médicos, das cuidadoras e acompanhantes. Amar é servir.

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