Praticava halterofilismo. Era neto de um campeão de luta livre. Sangue puro. Vencendo as discórdias da família que o queria numa rinha...

Halterofilista

cronica conto halterofilista
Praticava halterofilismo. Era neto de um campeão de luta livre. Sangue puro. Vencendo as discórdias da família que o queria numa rinha de paz, insistia em levantar a taça, qual galo de briga criado pelo tio, a fim de fortalecer o moral da raça. Eram pobres, humilhados, embora honestos.

Tinha o ímpeto de se tornar o Mister Mundo. Naquela época, não havia a moda das academias. Os conhecidos da ladeira o consagravam. Balbino – assim alcunhado pelos moleques – lhe envergava uma condição de sonhar medalhas e cinturões largos.

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Celyn Kang
Sabem por que o apelido? A Rádio Patrulha da Polícia Militar tinha um dos componentes musculoso, de porte avantajado, que metia medo nos meliantes costumeiros da sagrada Província de Nossa Senhora das Neves. Cidadezinha de poucos presos recolhidos pela “viuvinha” (camioneta fechada, hermeticamente lacrada) que conduzia os dissidentes da legislação vigorante ao xilindró. Este ficava na esquina da Duque de Caxias, onde, há alguns anos, vicejam produtos sacros: objetos sagrados, imagens de santos, numa espécie de redenção a um passado onde a santidade estava bem longe dos que chegavam à chefatura.

Muito bem: ídolo sempre tem imitador. Balbino imitava Balbino. Fazia de conta em prender os parceiros, imitar a buzina do veículo policial, até uma roupa copiando a farda, conseguiu e um revólver de plástico. Passeava exibindo às garotas a sua estampa graúda, assobiando, afinal, se mostrando pela força e pela altivez da compleição trabalhada.

Celyn Kang
Era neto de um campeão de luta livre. Sangue puro. Vencendo as discórdias da família que o queria numa rinha de paz, insistia em levantar a taça, qual galo de briga criado pelo tio, a fim de fortalecer o moral da raça.

Tudo se deu na disputa de uma garota bonita, na festa das Neves. Não queria desperdiçá-la para o boy da bicicleta que a cobiçava. Confiando no porte atlético, Balbino encarou o duelo. O boy magrinho, ele torneado em músculos esculturais. Sabem no que deu?

Balbino tinha corpo, mas não giro. Boy era faixa preta, simplesmente. Com pouco tempo, nosso herói estava ao chão, cheirando pedras, enquanto o playboy saía vencedor.

A garota nunca quis saber de Balbino. Nem Balbino de ganhar o cinturão de Popó. Tudo um sonho.

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