O ouro que plantou o homem à terra e cultivou dramas se foi, restou talhado como ornamentação de igrejas e soterrado em paredes de velhas minas e da história. Aos vivos restou o chão cercado por serras e os alicerces antigos fincados nas rochas, equilibrados em caminhos imprecisos e íngremes. Só o tempo com suas incertezas traz algum sentido. Antes lágrimas, sangue e chibata, agora poses e história. Minas Gerais é terra de misturas, de desencontros e encontros, é plural, de início forçosamente, depois à revelia da vontade dos homens.
Ouro Preto (MG) Clóvis Roberto
Caminhar por ali é estranho. O ouvido apurado chega a trair a mente e quase se escuta a conversa de outrora nas portas dos sobrados, sobre o lampião no fim de tarde, na brumosa manhã que acorda o dia. É como o ranger das tábuas das carroças, o chicote em açoite na costa negra e pobre, o apelo por clemência do quase enforcado em espetáculo no Morro da Forca. O grito do negro escravizado fugido e do branco local que se sentia roubado pelo fidalgo branco de além-mar.
A Vila Rica para poucos transformou-se na Ouro Preto que recebe muitos.
Ouro Preto (MG) Clóvis Roberto
A nova ordem encontra um mártir, juntam-lhe as peças corporais em pinturas, em ideais, quase santos. O traidor traído é restaurado pelo tempo. Minas também está em outras lutas. Contrariada e ressentida, surge parceira da pequenina Paraíba e ajuda a explodir 1930.
Igreja de N. S. do Pilar (Ouro Preto)Clóvis Roberto
E surge conjuração, conspiração, ganância, traição e alguma cota de idealização e sonhos. Andar pelas ruas assentadas em pedra-sabão é perceber que a história é tangível a todo momento. O que se foi, o que se quer e o que se é jamais deixa de ser uma busca. Minas, contudo, é riqueza em aula prática.
E Minas e sua inconfidência foram reveladas em uma viagem magnifica de revisita e traduções por Cecília Meireles em páginas do seu romanceiro. Ricas palavras para contar a história.
Ouro Preto/São João Del Rei/Tiradentes (MG) Alexandre Brondino/Clóvis Roberto
É belo o tempo ameno da manhã que se abre na praça diante do na antiga Vila Rica, os apóstolos da dedicação de fé artística manipulados por Aleijadinho, dos sobrados e das igrejas gêmeas de Mariana, das máquinas a vapor da estação de São João Del Rei, as ruas vazias, ricas de histórias e de temperatura agradável que miram as montanhas de serração ao redor de Tiradentes.
Minas Gerais é ouro preservado, que escapou da destrutiva ação do homem que levou tesouros minerais. O ouro está nas calçadas, no cheiro das ruas, no casario, na antiga senzala e nas minas, nos cemitérios dos recantos das igrejas, na madeira entalhada, nas pessoas, na arte em pedra-sabão, em artesanato. É ouro espalhado em muitas formas e impossível ser roubado. Janelas, paisagens, trilhos e trens, estradas, arte, por do sol em ouro nas Minas Gerais.