Ronilson Ferreira dos Santos é professor e poeta, natural de João Pessoa (Paraíba). É doutor e mestre em Linguística. Seu primeiro livro, [Re]Verso da Palavra, foi publicado em 2023. O segundo, Depois da Folha, em 2025. A poesia de Ronilson — conhecido como Rony Santos — não é apenas fruto de um trabalho intelectual ou técnico, mas um ato criativo impulsionado por uma força interna espontânea, que não se submete a regras rígidas ou convenções. A espontaneidade em sua criação poética permite que as intuições fluam livremente, fazendo da inspiração um processo de equilíbrio entre razão e emoção, entre forma e conteúdo. Seus poemas sublimam as forças conflitantes do ser humano e expressam compaixão diante do grito social e da miséria humana.
Ronilson Ferreira dos Santos (Rony Santos)
MÃE E FILHO
A mãe, sentada, embrenha o filho no meio das pernas. Estende os olhos as mãos e a voz a suplicar a esmola. A criança ora chora, ora ri, olha com os olhos de óbulo, às vezes dorme, às vezes sonha um sonho de não saber. E os homens passam ignoram o quadro da miséria pintado naquela calçada.
A mãe, sentada, embrenha o filho no meio das pernas. Estende os olhos as mãos e a voz a suplicar a esmola. A criança ora chora, ora ri, olha com os olhos de óbulo, às vezes dorme, às vezes sonha um sonho de não saber. E os homens passam ignoram o quadro da miséria pintado naquela calçada.
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A MULHER QUE CHORA
Sentada, A mulher olha o que não enxerga, A fumaça escapa pelos dedos longos, As pernas enlaçam-se como cordas E lágrimas rolam pelo frio bronze. Por que chora aquela mulher? Por quem pinta a cor da sua dor? O vestido preto alonga ardor No banco solitário da praça. Meu carro passa lento pela cena e a mulher que chora se distancia pelo retrovisor e vai comigo até o esquecimento.
Sentada, A mulher olha o que não enxerga, A fumaça escapa pelos dedos longos, As pernas enlaçam-se como cordas E lágrimas rolam pelo frio bronze. Por que chora aquela mulher? Por quem pinta a cor da sua dor? O vestido preto alonga ardor No banco solitário da praça. Meu carro passa lento pela cena e a mulher que chora se distancia pelo retrovisor e vai comigo até o esquecimento.
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INÚTIL
Inútil dar-me cigarro na chuva sabendo que não fumo. Inútil dar-me conhaque à beira mar sob um sol que arde. Inútil presentear-me com flores, se são as mesmas baratas de todos os sábados. Inútil botar uma música se nem sabes dançar a mais curta das valsas. Inútil fazer um jantar se não sabes temperar a comida e muito menos botar-lhe à mesa. Inútil viajar para lugares que sei cor e salteado cores, becos, cheiros e a cama fria. Inútil rezar para pedir ajuda, se a crença não te habita nem no terço que não usas. Inútil dizer que me ama quando a distância é perto e não me fazes ouvir. Inútil escrever poesia porque as palavras não te cabem nem nesta escrita maldita. Em gestos labiais farás Para mentir a leitura Que eu faço de ti. Inútil te conhecer Para descobrir o quanto sou útil.
Inútil dar-me cigarro na chuva sabendo que não fumo. Inútil dar-me conhaque à beira mar sob um sol que arde. Inútil presentear-me com flores, se são as mesmas baratas de todos os sábados. Inútil botar uma música se nem sabes dançar a mais curta das valsas. Inútil fazer um jantar se não sabes temperar a comida e muito menos botar-lhe à mesa. Inútil viajar para lugares que sei cor e salteado cores, becos, cheiros e a cama fria. Inútil rezar para pedir ajuda, se a crença não te habita nem no terço que não usas. Inútil dizer que me ama quando a distância é perto e não me fazes ouvir. Inútil escrever poesia porque as palavras não te cabem nem nesta escrita maldita. Em gestos labiais farás Para mentir a leitura Que eu faço de ti. Inútil te conhecer Para descobrir o quanto sou útil.
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