As flores amarelas do pau-brasil pendiam nas passarelas da praça, as primeiras a anunciar a chegada da primavera, espalhadas pelo chão que pouca gente observava. O dia estava morno e ligeiramente nublado, com nuvens esparsas passeando lentamente. Embora o sol do meio-dia aparentasse mormaço, o frescor da sombra convidava a sentar. Ao redor da praça, o movimento de carros e o dia abafado não conseguiam tirar a suavidade do bailado das pétalas despencando.
Gustavo Giacon
O dia seguia com um leve mormaço, desses que antecipam a chegada da primavera. Durante a viagem, eu folheava um livro; o ônibus avançava lento, e a conversa das senhoras parecia não ter fim. A essa altura, pensamentos intermitentes chegavam das diversas leituras de poemas de Drummond e das aulas do professor Milton Marques Júnior sobre Os Miseráveis, aos sábados, na nossa Academia Paraibana de Letras.
PMJP
Muitas vezes eu passava pela praça sem me dar conta das flores do pau-brasil, essas árvores que são o símbolo de nossa nação, e observava outras árvores e plantas que ornavam as alamedas sem perceber o suave perfume.
Na antevéspera da primavera, caminhando pela praça, uma jovem colheu uma flor do pau-brasil e a colocou na palma da mão. Vendo que eu observava a cena, sorriu levemente. “Linda!”, pensei. — Chamarei-a de Sofia. Em passos lentos, seguiu calada com as flores entre os dedos. Eu segui também silencioso.
Anna Karina Antunes e Defaveri
Então, Deusa das Árvores, agradecido, eu te louvo por fazer brotar a tímida alegria do verde das folhas e do amarelo dessas flores do pau-brasil, tão pequenas e tão lindas, que despencam sobre nossas cabeças. Os regatos, as plantas, as flores — essas pequeninas flores — atraem a atenção de Sofia. Ela me segredou isso enquanto caminhávamos juntos por uns vinte metros, antes que nos desviássemos para nossos rumos:
— Acho linda a flor de caju. Lírios brancos, também.
Foi quando percebi que, realmente, ela tinha apego às pequenas flores. No mundo barulhento e opressivo, quando parecemos solitários, o perfume das flores — mesmo que seja de uma pequena flor — traz um afetuoso aviso de coisa boa.
GD'Art
Começava o período de estiagem. Eu deveria ter uns dez anos e morava no sítio. Nunca esqueci o que presenciei: uma prima tentava resgatar um pássaro que estava em uma árvore na beira do açude, com o vento agitando sua saia.
Se eu fosse prefeito, plantaria flores nas praças. Muitas flores, grandes e pequenas, de todas as espécies: rosas, orquídeas, lírios. Plantaria árvores que dessem flores — dessas miúdas — para que as moças que amam as flores pudessem colher e se sentir felizes.