Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar, e vejo às vezes que as ...



Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar, e vejo às vezes que as espumas parecem mais brancas e que às vezes durante a noite as águas avançaram inquietas, vejo isso pela marca que as ondas deixaram na areia. Olho as amendoeiras de minha rua. Presto atenção se o céu de noite, antes de eu dormir e tomar conta do mundo em forma de sonho, se o céu de noite está estrelado e azul-marinho, porque em certas noites em vez de negro parece azul-marinho. O cosmos me dá muito trabalho, sobretudo porque vejo que Deus é o cosmos. Disso eu tomo conta com alguma relutância.

Observo o menino de uns dez anos, vestido de trapos e macérrimo. Terá futura tuberculose, se é que já não a tem.

No Jardim Botânico, então, eu fico exaurida, tenho que tomar conta com o olhar das mil plantas e árvores, e sobretudo das vitórias-régias.

Que se repare que não menciono nenhuma vez as minhas impressões emotivas: lucidamente apenas falo de algumas das milhares de coisas e pessoas de quem eu tomo conta. Também não se trata de um emprego pois dinheiro não ganho por isso. Fico apenas sabendo como é o mundo.

Se tomar conta do mundo dá trabalho? Sim. E lembro-me de um rosto terrivelmente inexpressível de uma mulher que vi na rua. Tomo conta dos milhares de favelados pelas encostas acima. Observo em mim mesma as mudanças de estação: eu claramente mudo com elas.

Hão de me perguntar por que tomo conta do mundo: é que nasci assim, incumbida. E sou responsável por tudo o que existe, inclusive pelas guerras e pelos crimes de lesa-corpo e lesaalma. Sou inclusive responsável pelo Deus que está em constante cósmica evolução para melhor.

Tomo desde criança conta de uma fileira de formigas: elas andam em fila indiana carregando um pedacinho de folha, o que não impede que cada uma, encontrando uma fila de formigas que venha de direção oposta, pare para dizer alguma coisa às outras.

Li o livro célebre sobre as abelhas, e tomei desde então conta das abelhas, sobretudo da rainha-mãe. As abelhas voam e lidam com flores: isto eu constatei. Mas as formigas têm uma cintura muito fininha. Nela, pequena, como é, cabe todo um mundo que, se eu não tomar cuidado, me escapa: senso instintivo de organização, linguagem para além do supersônico aos nossos ouvidos, e provavelmente para sentimentos instintivos de amor-sentimento, já que falam. Tomei muita coisa das formigas quando era pequena, e agora, que eu queria tanto poder revê-las, não encontro uma. Que não houve matança delas, eu sei porque se tivesse havido eu já teria sabido. Tomar conta do mundo exige também muita paciência: tenho que esperar pelo dia em que me apareça uma formiga. Paciência: observar as flores imperceptivelmente e lentamente se abrindo.

Só não encontrei ainda a quem prestar contas.

(2020, Ano de Centenário de Clarice Lispector)

"Não é o artista quem inventa o feio, o chocante. A dor da vida é que é assim, quando não idealizada. Se lembrarmos bem, não foi propri...


"Não é o artista quem inventa o feio, o chocante. A dor da vida é que é assim, quando não idealizada. Se lembrarmos bem, não foi propriamente a figura humana que os olhos do mundo viram pisar no deserto da lua. Mas um pacote disforme, inflado, trôpego e desengonçado, no qual seria impossível identificar os traços de Gagarin ou de Armstrong. E ainda havia a pergunta: Para quê? Pois a corrida espacial, consumindo cifras incalculáveis, sempre recebeu críticas, pelo sacrifício que impunha aos deserdados habitantes da terra."



Não posso deixar de imaginar a reação do Mestre Juarez da Gama Batista, se pudesse presenciar minha ansiedade - timidez mesmo - no cuidado extremo de encontrar o ponto de equilíbrio para o trato com a sua produção intelectual. Um sorriso suave, complacente, os olhos quase fechados, a cabeça levemente inclinada para trás - o seu jeito afetuoso de subestimar minhas preocupações e inseguranças. Depois, as palavras de encorajamento, refletindo sempre uma expectativa maior que as minhas possibilidades. Tantos anos passados, e ainda me apóio na força desta lembrança.



É isto a festa de Centenário: um desafio à morte absoluta. A presunção de que, sem o lugar à mesa, mesmo assim, é possível a consubstanciação de uma outra forma de presença. Que não responde à premência da saudade e dos afetos. Mas é pesada substância que se impõe ao tempo, na dimensão da memória e da palavra. Uma festa cuja realização traz sempre o caráter de excepcionalidade. Pois, apenas o tempo não a justifica, nem tampouco a morte. Somente a vida.



(fragmentos sobre Zé Lins...)

"Quem não identifica, na realidade contemporânea, os milhões de “moleques Ricardos” excedentes, marginalizados pela revolução tecnológica e pela ideologia da globalização? Milhões de Ricardos para quem sobrou a última classe e nenhum destino."



"Usina coloca em discussão os aspectos da ecologia que constituem, hoje, preocupações mundiais. A devastação dos ecossistemas, da biodiversidade, a poluição das águas e a degradação dos homens. E em sua percepção o que sobressai é a visão de conjunto, a apreensão da problemática no vértice de suas implicações. Não se trata de salvar apenas as baleias ou o mico-leão-dourado ou as tartarugas marinhas.

A obra de Zelins antecipa a consciência crítica de hoje que preconiza uma articulação ético-política entre os três registros ecológicos: o do meio ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade."



"Uma característica que diferencia a construção ficcional de José Lins do Rego é a densidade dramática que ele imprime aos seus personagens, sem distinção da classe social que representem. E um aspecto do tratamento dispensado à cultura popular, fonte original de sua criação, que não se deforma na superficialidade da abordagem folclórica. Elimina não apenas o distanciamento entre a cultura erudita e a popular mas, sobretudo, a hierarquia entre essas duas formas do saber."

(Excertos)


Eita pai, mas que saudade Dos nossos papos compridos Quando tu me convocavas E esquecias os motivos Eita pai são quatro anos E eu ch...



Eita pai, mas que saudade
Dos nossos papos compridos
Quando tu me convocavas
E esquecias os motivos

Eita pai são quatro anos
E eu cheio de novidade
A vida muda meus planos
Assusta a velocidade

Eita pai, sou vô agora!
Tu amarias Letícia
Fiquei mole com a notícia
Mas havias ido embora

Eita pai, tem os problemas
Sem ninguém pra dividir
Nos mais variados temas
Sinto falta de te ouvir

Eita pai, agora entendo
Que conselhos são em vão
Pois só se aprende vivendo
Sofrer por filho é ilusão


Eita pai, a vida é dura
Talvez a grande vitória
Esteja em contar a história
Feito tu de alma pura

Eita pai, mas é verdade
Que um dia serei saudade
E espero que assim sentida
De quem muito amou na vida

No período que antecede a alvorada do dia 06 de junho de 1832, Enjolras, um dos estudantes que integra a Sociedade Amigos do ABC, faz um d...



No período que antecede a alvorada do dia 06 de junho de 1832, Enjolras, um dos estudantes que integra a Sociedade Amigos do ABC, faz um discurso emocionado e vigoroso, para os revoltosos que decidiram enfrentar as forças monárquicas, tendo como bastião a barricada da rua de Chanvrerie (extinta em 1838, com a abertura da rua Rambuteau), que começava na rua Saint-Denis e terminava na rua Mondétour, no quarteirão dos Halles.

Enjolras, para Hugo, representava, com relação aos demais amigos, “a lógica da revolução”, “Antínoos furioso”, por sua beleza, juventude e virilidade (Os Miseráveis, Parte III, Livro IV, Capítulo I). O seu discurso, antes da carga das forças constitucionais, é uma despedida exaltando as virtudes da república e encarnando os seus princípios fundamentais: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Nada menos republicano do que a luta mesquinha pelo poder para eternização no poder; nada mais digno do ideal da RES PUBLICA do que a consciência do que se pode e deve fazer para se conseguir a síntese das soberanias representadas pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade, numa Sociedade (Le point de d’intersection de toutes ces souverainetés qui s’agrègent s’appelle Société. – O ponto de interseção de todas estas soberanias que se agregam se chama Sociedade).

E como se constrói essa Sociedade? Vejamos os pressupostos de Enjolras. Sendo a Liberdade a soberania do homem sobre si mesmo; a Igualdade, a identidade de concessão para formar o direito comum, que cada um faz a todos; a Fraternidade, a proteção de todos a cada um, assim se faz a Sociedade. O básico, porém, é a Igualdade, que tem um órgão: a instrução gratuita e obrigatória. Óbvio, não? Mas os que se engalfinham pelo poder, para se manterem no poder, detestam essa obviedade, pois ela os retira do poder para concedê-lo a quem é seu verdadeiro dono – a população.
Diz Hugo:

“O direito ao alfabeto. É por aí que é preciso começar. A escola primária imposta a todos, a escola secundária oferecida a todos (hoje, se fosse vivo, ele manteria o “imposta”...), é aí que reside a lei. Da escola idêntica sai a sociedade igual. Sim, ensino! Luz! Luz! Tudo vem da luz e para ela retorna” (Parte V, Livro I, Capítulo V).

Hugo via o século XIX como grande, mas acredita a felicidade estar no século XX, com a educação universal, quando não teríamos mais a temer a fome, a exploração, a prostituição, a miséria, o cadafalso, a espada e as batalhas... Para que isto possa acontecer, as revoluções são necessárias, mas a revolução que traga como resultado a civilização (“Révolution, mais civilisation”, Parte III, Livro IV, capítulo I), como pensava Combeferre, o filósofo da Sociedade dos Amigos do ABC.

Visionário, Hugo legou a receita de uma sociedade humana. Não contava ele que a mesquinhez política não pensa na humanidade, mas na individualidade e no egoísmo. Não teve o desprazer de ver as gerações futuras apoiando ditaduras e corrupções de um lado e de outro, se xingando mutuamente e defendendo, de maneira incondicional, os que manipulam o povo, para a sua satisfação pessoal e para seus projetos espúrios de política abjeta.Tolos, que se assemelham às zebras, antílopes, símios e gnus comemorando o nascimento do pequeno leão Simba, que um dia será seu predador.

Demorei muito para perceber que dentro daquela pessoa serena, disfarçada em calma, habitava uma alma inquieta, dotada de uma força indomáve...


Demorei muito para perceber que dentro daquela pessoa serena, disfarçada em calma, habitava uma alma inquieta, dotada de uma força indomável.

Teimosa...totalmente teimosa. Acreditava na transformação e principalmente, acreditava que todas as pessoas possuíam um potencial e buscava fazer desabrochar algo que ninguém esperava.

Sua trajetória começou trazendo crianças, portadoras de deficiência, para serem “trabalhadas” na nossa casa. Por ser professora, encontrou na alfabetização o primeiro passo de sua crença no possível. Em tempos onde essas crianças viviam guardadinhas em suas casas, ela foi pescando uma a uma, convencendo pais, convencendo pessoas da cidade até que se viu rodeada de crianças e adolescentes e acabou fundando a APAE no interior de Minas. A ela, agregaram-se profissionais que também confiaram na crença do possível e os ensinou a pensar sobre a vida de cada um daqueles seres que precisavam ser vistos com dignidade e carinho.

Não satisfeita e apesar de leiga, começou a estudar sobre o cérebro humano e vorazmente buscou métodos e padrões que poderiam estimular o potencial daqueles que apresentavam algum déficit motor ou intelectual.

Participou de congressos, visitou outras instituições, leu muito, pesquisou, mas o que mais importava era seu espirito desbravador e forte que dava esperanças a pais desenganados, de que seus filhos poderiam alçar novos horizontes.

Nunca contou o número de pessoas que passaram por ela durante mais de quatro décadas. Viu crianças engatinharem, andarem, correrem. Viu inúmeras aprenderem a balbuciar, falar, ler e escrever. Ensinou muitas delas a dar laço nos sapatos, a segurar a colher, escovar os próprios dentes. Testemunhou diversos pais chorarem ao ouvir a primeira palavra dita por um filho já crescido. E acolheu muitos e muitos beijos babados e abraços desajeitados cheiinhos de carinho de “seus meninos”.

Achou que ainda era pouco o que fazia e quis promover uma verdadeira integração. Criou um centro de estimulação da inteligência onde criancinhas sem deficiência brincavam aprendendo, além de conviverem num mesmo ambiente com outras “diferentes”. Não sei se entre elas alguma percebeu diferenças, pois conviviam alegres e pacificamente. Umas aprendendo com as outras.

Para comemorar seus sessenta anos, inventou uma viagem exótica. Vendeu o carro e gastou o dinheiro passando dois meses na Índia. Voltou com o cabelo faiscando de hena vermelha, com os olhos brilhando de felicidade e com a certeza de que existia um povo generoso, alegre e espontâneo, mesmo cercado de uma tremenda pobreza.

Depois que completou setenta anos, todos esperavam por sua aposentadoria, pelo tempo que ela dedicaria a si própria para andar na praia, talvez fazer tricô, assistir filmes... Pois foi quando ela iniciou uma nova fase de vida. Através de suas pesquisas e pela própria experiência pessoal de não deixar-se esmorecer, iniciou um trabalho de estímulo à memória voltado para idosos. Vinculou suas pesquisas anteriores a exercícios motores, com atividades específicas para que o envelhecimento das pessoas fosse dilatado e dotado de muito mais qualidade. Este trabalho cresceu e ela o vai desenvolvendo com vários “alunos” e o explanando através de palestras e encontros onde mostra que a idade não limita, adiciona.

Hoje, aos oitenta e três anos ela continua a desenvolver suas atividades, dirige por todo lado, caminha pela praia, pratica stand up paddle, mantém uma invejável vaidade, adora cinema, está sempre se atualizando em diversos assuntos, além de participar de congressos e encontros sobre o envelhecimento.

Teve quatro filhos e eu sou a mais velha deles. Assistir à trajetória da mamãe foi um privilégio e é uma grande lição de viver. Com ela aprendi que a generosidade, não só aquela que doa dinheiro e bens, mas aquela em que se usa inteligência, percepção e vontade de promover a evolução de outras pessoas é a verdadeira generosidade. Sei que é o emendar uma atividade na outra que a mantém lúcida e que ao viver essa história tão cheia de “tudo” ela carrega dentro de si um mundo bonito, feliz e plenamente realizado.

Esperamos, os quatro filhos, sete netos, dois bisnetos e mais uma bisneta próxima de nascer, que ela viva por muitos anos sendo nosso exemplo de amor, ponderação e energia.


Cristina Lugão Porcaro é bacharel em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora

A passagem do ano nos torna filosóficos. Incita-nos a pensar na morte, no tempo, em Deus. Uma das frases que mais me impressionaram na a...



A passagem do ano nos torna filosóficos. Incita-nos a pensar na morte, no tempo, em Deus.

Uma das frases que mais me impressionaram na adolescência foi: “Nunca alcancei a graça do ateísmo perfeito”. Quem a escreveu foi Carlinhos Oliveira, cronista do Jornal do Brasil e boêmio carioca. Carlinhos morreu de pancreatite alcoólica e viveu torturado por angústias metafísicas. De dia negava Deus, de noite tinha medo do escuro e O chamava.

A frase dele me marcou por me abrir os olhos para esta verdade profunda: tanto a crença como a descrença em Deus independem da nossa vontade. Nesse delicado terreno do espírito não escolhemos, somos escolhidos. Assim como existe uma “graça” no sentido positivo, que afirma Deus, existe outra no sentido oposto, que O nega.

É tão difícil merecer a primeira como a segunda. Talvez para esta última se necessite até de mais sofrimento e grandeza. Ninguém risca Deus da vida sem substituir a confortável ilusão que ele representa por um senso ético profundo.

Talvez o drama de Carlinhos viesse de ele ainda perseguir tal senso e, ao mesmo tempo, não poder mais regredir às fantasias que lhe alimentavam a crença. Acabou órfão de Deus e de si mesmo.

A minha paixão por João Pessoa faz-me esperar o ano inteiro pela floração dos ipês. Eu os chamo de “nossa árvore de Natal”, pois marca par...



A minha paixão por João Pessoa faz-me esperar o ano inteiro pela floração dos ipês. Eu os chamo de “nossa árvore de Natal”, pois marca para mim a chegada da temporada natalina à nossa cidade.

Mas este ano quem chegou primeiro foi a decoração de Natal. Um primor: a cada ano nossos artistas conseguem superar a decoração do ano anterior.

Nos idos dos anos 1950 o fotógrafo José Lyra, exímio pintor e por muitos considerado o melhor retratista da Paraíba, compôs seu espetacular quadro A Ponta do Cabo Banco, da sua série Hetairas da Penedia. Tudo bem, mas quase todos os grandes pintores paraibanos deixaram as marcas de suas pinceladas naquele promontório que se destaca na nossa paisagem. E que se encontra ameaçado.

O que, então, distingue o quadro de Lyra dos demais? Um detalhe sui generis: a SENSUALIDADE da obra! Pois a falésia e seus acidentes são nada menos que MULHERES NUAS!

Isso mesmo: mulheres sentadas, deitadas, curvadas, em pé. Brancas, pretas, pardas, amarelas. Dezenas, centenas de mulheres nuas. Espetacular! Simplesmente genial.

Pois bem, seis décadas depois, e eis que a nossa querida cidade ganha uma decoração natalina igualmente suis generis. Pois além da imensa beleza decorativa que já é peculiar ao Natal de João Pessoa, as árvores ganharam linhas luminosas belíssimas, que lhe conferem uma sensualidade inusitada.

Venha conferir o que eu digo. Percorra a avenida Beira-Rio à noite. Passeie pela Lagoa e pela praça da Independência. Desça a avenida Epitácio Pessoa. Encontrará nas árvores lindas figuras abraçadas, suas formas sutilmente delineadas pelas luzinhas, formando casais comemorando a beleza da época. São dezenas, centenas de namorados luminosos e sinuosos, enlevados num abraço eletrônico sem fim.

Aguardei ansiosamente a florada dos ipês amarelos, que chegaram completando o clima de sensualidade da nossa cidade, vestindo-a numa belíssima lingèrie dourada. Um lindo presente de Natal!


sapoti! sapoti! sapoti! morcego! morcego! morcego! amor cego por ti! amor cego por ti! amor cego por ti! não escrevi à faca o teu n...



sapoti! sapoti! sapoti!
morcego! morcego! morcego!
amor cego por ti!
amor cego por ti!
amor cego por ti!

não escrevi à faca
o teu nome
no tronco do sapotizeiro,
mas na raiz.

na mais profunda raiz de mim mesmo.

domiciliares

b) chegar em casa
é desatar nós
da gravata
aos
cadarços.

é deixar-me livre
dentro das chinelas
e fora do bridge.

é girar com os dedos
o bico dos teus seios
como um segredo
de caixa-forte.

é abrir-te
para os nós cegos
do meu amor

domiciliares

e) mergulhas a roupa
no tanque
e desentranhas
os vestígios das ruas,
das ruelas,
dos becos e vias
de muitas mãos
paralelas
à mão única do meu amor.

língua

espada fora da bainha.

crista de galo
na rinha
dos lábios.

fogo chovendo no teu molhado.

nômade

acha que atritas,
o meu falo queima.

somos trogloditas
descobrindo o fogo.

crescem labaredas.

sob a braguilha,
armo uma tenda
com a minha glande.

e o meu falo nômade
rumo à tua fenda
levanta acampamento.

à queima-roupa

nua, ateias fogo
às minhas vestes
e o teu corpo despe-me
em carne viva.

ciúme

deito o meu ouvido no teu peito
e ouço o batuque de uma tribo
no tambor de olvido do teu coração

avenida dos tabajaras (III)

os teus seios
eram frutos
de um jambeiro.

e se os tocava,
o teu rosto
(vermelho)

era o pólen
e a lava

de mil jambeiros
acendendo-me
na avenida dos tabajaras.

Ah, meu amigo Fred... que surpresa foi essa, rapaz? Precisava mesmo ser agora? A gente sabe que esse agora não tem hora, e quem sabe não f...



Ah, meu amigo Fred... que surpresa foi essa, rapaz? Precisava mesmo ser agora? A gente sabe que esse agora não tem hora, e quem sabe não faz a hora, mas você deixou os pobres mortais aqui de bico rachado... Como aquele passarinho que sai pelos ares, serelepe e voejante, e, de repente, se distrai e bate com a cara no tronco. Fica atordoado, zonzo e percebe que rachou o bico. Pois é, ficamos assim.

Mas é isso mesmo. O que vem lá do céu não é somente a nossa vã filosofia incapaz de entender. Tem muita coisa por trás das nuvens, dos trovões, da chuva, da lua, do Sol... E a gente sabe que este mistério está todo abrigado pela Lei Suprema que rege e sustenta um montão de galáxias. Inclusive essas surpresas.

Agora, cá pra nós, amigo Féu (eita, era assim que lhe chamávamos...) que ideia foi essa de partir acima das nuvens, cara? Quanta leveza desejasse ter no momento deste duplo voo!... Parece até que queria aproveitar o embalo das turbinas para se alçar logo à Grande Viagem.

Eu sei que de viagem você entende. Quantas vezes comentamos via WZap sobre os périplos de além-mar, tão familiares a nós também. E como você era atencioso, respondendo, compartilhando, lendo nossos textos, falando do meu amado pai... Aliás, dos nossos amados pais, pois sei que de Dr. Praxedes você também é um grande amigo. E a ida a Austrália, hein? Que delícia!

Essa viagem agora, meu amigo, tenha certeza, possui uma amplitude muito maior. É verdade que por um tempo você estará meio zonzo, sem saber direito o que aconteceu (ou será que sabe?...), mas, logo logo, despertará para um mundo infinitamente belo, leve, sutil e bom como você. Daí a importância de que nós, daqui, não cultivemos por muito tempo essa tristeza amarga, e, como costumo dizer, consigamos transformar você “naquela saudade que eu gosto de ter.”

Foi mais cedo que esperávamos? Sim, claro. Mas o que é o tempo daqui comparado com o tempo dos céus? Em breve partiremos também e no mundo daí veremos que os relógios nem existem. Sigamos.

Prazeres, haverá. Não como os muitos que desfrutasse com esse bom humor inigualável, essa cara de quem está curtindo com a cara da gente, com a cara da vida, das coisas todas. Continuará dando, com certeza, essa risada adorável que todos gostávamos de ouvir.

As festas serão outras, mais sublimes do que os assustados e embalos de sábado à noite no Clube dos Oficiais, na companhia de meu mano, Tuca, seu grande amigo das descobertas adolescentes. Assim como de Juca Jardelino, Virgínia Dantas, Tico Gomes, Torbes Gambarra, Ana Adelaide e tanta gente boa daqueles tempos.

É isso, amigo, que saudade baterá, de vez em quando... Imagine em Adriana, tua doce e meiga companheira, bela como uma flor. Imagine seus filhos amados e amigos. Torço muito para que eles logo possam colocar a gratidão acima da tristeza, pois o privilégio de ter tido e convivido com uma pessoa como você nessa encarnação é imensurável. Eles sabem disso.

Fiquei pensando muito na sua partida, de lá do avião. Será que você olhava pela janelinha para aquele tapetão macio de nuvens e resolveu, de repente, que seria agora? Puxa, que ideia. Ao menos a janelinha pudesse ser aberta para que você pudesse acenar de longe, saltitando pelas brancas paragens, dizendo pra gente com o sorriso de sempre: “Desculpem sair assim, sem avisar, galera, mas logo nos veremos e continuaremos a sorrir juntos”.

Até breve, Féu!


O bode o que escrever sobre o bode? compor-lhe uma ode? dizer que o seus chifres despontam na testa como duas raízes brotando da ...



O bode

o que escrever sobre o bode?

compor-lhe uma ode?

dizer que o seus chifres
despontam na testa
como duas raízes
brotando da terra?

que é irmão siamês
dos seixos, da poeira,
das pedras?

que é duro na queda?

que o bode é antes de tudo um forte?

ou que, quando bale,
é todo ternura,
torrão de açúcar
desmanchando-se em candura?



Cemitério de automóveis

não me comovem
as insepultas carcaças
dos automóveis,

mas quão céleres
os passageiros
se precipitam
no despenhadeiro

dos breves dias sem freio.



O caranguejo

elmo de um guerreiro medievo.

estojo de um par
de olhos
em riste

como dois dedos míopes,
quase cegos,
tateando pelo avesso
um mundo destro.

ser dialético, canhoto,
osso e carne,
bicho barroco,

vive entre o ser e o não ser.

em terra firme,
no mangue
ou no mar alto,

radiografia de um esqueleto acuado.


Passamos a vida inventando coisas que não pre- cisamos e depois ficamos dependentes delas. Inven- tamos coisas para poupar nossa energia e ...


Passamos a vida inventando coisas que não pre- cisamos e depois ficamos dependentes delas. Inven- tamos coisas para poupar nossa energia e depois vamos gastar essa energia poupada numa academia.

Juntamos dinheiro ganho à custa de trabalho, para garantir cuidados com a saúde que estraga- mos, trabalhando mais que o necessário, competin- do pelo cargo, em busca de um tal sucesso.

Aprendemos que o corpo é uma máquina. De produzir, de reproduzir, de desempenhar, de representar. O corpo é um brinquedo, como sabem as crianças. Dizia Galeano, “o corpo é uma festa”.

Tirando os tambores, pouca coisa boa inventa- mos, além da capacidade de criar o fogo, e talvez a roda, o princípio da confusão toda.

Tiramos a fruta do pé e botamos na lata. A fruta do pé não faz mal a ninguém. Já a da lata... É bem verdade que o homem das cavernas morria bem novinho. E a gente inventou um jeito de cuidar dos dentes. Dentes que a gente estragou comendo a fruta da lata.

Tá certo que a gente inventou os antidepressivos. Mas a depressão foi inventada primeiro, tá cer- to? Senão como iríamos vender antidepressivos?

A beleza foi a gente quem inventou também. Assim como a feiura. O chato foi dar a essas coisas um lugar de superioridade ou inferioridade. Aliás, a maior das estupidezes, a que confere poder. Não há maior aberração que um homem ter poder sobre outro. Mesmo sobre um bicho. Um cavalo correndo livre sempre será mais belo que um adestrado. Um pássaro será sempre mais bonito voando no céu ou pousado na árvore. Gaiola nunca foi palco.

É sempre mais belo o homem dançando que apertando botões.

Sim, criamos formas fantásticas de comunicação. Eliminamos as distâncias entre as pessoas do planeta. Por que isso não eliminou a epidemia da solidão?

Simplesmente porque não nos reunimos mais na praça da tribo, ao luar, em volta da fogueira, comendo milho assado, contando histórias de deuses imaginários, cantando músicas ao som de palmas.

Estamos tentando inventar uma forma de dar fim à morte, sem saber o que fazer da vida, a não ser driblar a morte, mas não sabemos apreciar o envelhecimento e nem cuidar dos velhos.

Buscamos uma tal de autonomia. A maior das ilusões. E liberdade, a outra grande ilusão. Não há liberdade que não nos escravize a algo.

Entendemos cada vez mais de sexo. Pronuncia- mos corretamente a palavra clitóris, criamos a democracia do orgasmo, descobrimos o ponto “G”, mas continuamos inocentes com relação ao amor. E nos distanciando cada vez mais dele.

Temos instrumentos eficientes para produzir conhecimento, para sair das trevas da ignorância, mas não demos fim ao preconceito, que é a forma mais bruta da ignorância.

Lutamos para ter privacidade e expomos a nos- sa intimidade nas redes sociais.

Reagimos com “emojis” quando alguém posta o vídeo do cãozinho que foi resgatado, da árvore cortada, da criança abandonada. Mas passamos apáticos pelo cãozinho de rua ou pelo menino dormindo na calçada. E reclamamos do calor, sem lembrar da árvore que não está mais ali, dando sombra fresquinha.

Sabemos e não fazemos. Casas de ferreiro, es- petos de pau.

Pelo menos temos o vinho. E a medicina que permite tomar uma (ou duas) taças por dia.

E temos a arte, que dá sentido a tudo. Que salva da aridez, que conecta, que revela.



Inferno choca os modernos Que país é esse ó minha gente? País de “Morte e Vida Severina” Que João Cabral de Melo Neto assina Mas tre...



Inferno choca os modernos

Que país é esse ó minha gente?
País de “Morte e Vida Severina”
Que João Cabral de Melo Neto assina
Mas treme ante à justiça indecente

Brasil que deu à luz Mário de Andrade
Pra ver uma corte de macunaímas
Vendendo entre conchavos e vindimas
A preço vil a tal dignidade

Que fez Bandeira fugir pra “Passárgada”
Ao ver a roubalheira desbragada
Da pátria de destino tão mesquinho

E viu Drumond perder de vez a fé
Monologando o “E agora José”
Com “A Pedra” gigantesca em seu caminho

(Para o colega, e grande sonetista, heliojsilva e seus “Milhões de Transatlânticos Falidos



A (quase) morte do Português

Carinho trocado por carinha
Léxicos que viram cumprimento
Curtir a vida em movimento
Tuitar quem segue é ladainha

Latim língua morta era única
Camões revira-se ao túmulo
Pessoa reclama: é o cúmulo!
Romanos querem nova guerra púnica

Somente sobrevive a poesia
Diante de tamanha heresia
Assassinam diuturno os idiomas
"Emotions" são apenas os sintomas

O mal só piora a cada dia
Ainda quero o Português que houve um dia

(Para a "Emotion" da poetisa Auglure Martins)


Nem sempre as homenagens referendam um merecimento. Com muita frequência, a motivação para que elas se efetivem é tão exterior, tão circun...



Nem sempre as homenagens referendam um merecimento. Com muita frequência, a motivação para que elas se efetivem é tão exterior, tão circunstancial, que fica difícil estabelecer o nexo entre a distinção e a história de quem a recebe. Assim, algumas homenagens tornam-se gestos desfigurados pela impossibilidade do convencimento e da emoção.



Quando o tema são homens de letras, existe um lugar-comum que parece não ser possível evitar. A constatação de um largo descompasso entre o valor que eles representam para a sociedade e os gestos que exprimem a consciência e o reconhecimento desse valor.

O grande silêncio da Paraíba em relação à memória do professor Juarez da Gama Batista é mais um exemplo a confirmar esta generalidade. Tem a mesma natureza do abandono a que está exposto Augusto dos Anjos, esculpido em bronze, mas afogado no lixo, atropelado pelos camelôs da Lagoa. São aspectos ostensivos do permanente descaso pelo essencial, a refletir a inversão das hierarquias verdadeiras. O velho "desconserto do mundo".



De que outra maneira é possível compreender que instituições, cujos objetivos incluem a preservação da memória cultural, sejam completamente omissas em relação a nomes fundadores de sua própria História, senão admitindo a predominância de uma ordem valorativa equivocada?



Ao estilo e à erudição é preciso acrescentar ainda a ousadia, característica indispensável a todo criador, atitude sem a qual deixariam de existir o novo e o original.



Odilon Ribeiro Coutinho dedicava-se habitualmente a elaboração de textos que eram trabalhados com rigoroso perfeccionismo, em busca da sintaxe, da imagem, do ritmo, da palavra cabível, enfim, dos recursos de expressão que correspondessem ao apurado conceito de forma, que orientava sua consciência crítica. Sem nenhuma dúvida, é de um escritor que estou falando. Do verdadeiro escritor, "que põe o pulsar e o calor de suas veias nas palavras com que fia a túnica diáfana e inconsútil de seu pensamento; e instila, no verbo que se faz carne literária, o seu próprio sangue e as emoções, delírios e fantasias que jorram das fontes interiores de sua vida."

(excertos de "Um certo modo de ler")


Defina-se “perfeição”: é o resultado da capacidade, do artista, de se sair genialmente bem do problema estético que lhe foi proposto ou qu...



Defina-se “perfeição”: é o resultado da capacidade, do artista, de se sair genialmente bem do problema estético que lhe foi proposto ou que ele mesmo se impôs.

Há o momento pro estrondo da escola de samba de Vila Isabel e o do precioso sole do Jacó do Bandolim. Há o momento da majestosa “Tocata e Fuga em Ré”, de Bach, para gigantesco órgão, como há os instantes mágicos das pequenas peças para piano, de Satie, como suas Gymnopédies e Gnossiennes.

Ante o outdoor com vários emes da logomarca do Mcdonald´s fazendo Mmmmm, só pude dizer “Putz!” Mas a interjeição foi a mesma quando vi a logomarca de uma revista que jamais foi publicada – Mother & Child -, em que o & está inserido no “o” de Mother – feito um feto.

Quando perguntaram a Borges por que não se dedicara ao romance, mas ao conto, disse que, neste, “uno puede verlo como un todo”. Trabalhava com isso.

Sérgio de Castro Pinto pertence à classe dos joalheiros. Sua profissão de fé é a mesma de Bilac, pois também “No verso de ouro engasta a rima,/como um rubim”.

Decidiu-se a ocupar o menor espaço e tempo que lhe foi possível pra compor pequenas maravilhas como quando diz sobre a girafa que ela “é top model / é audrey hepburn”. Nesse mister, pinça associações ainda mais precisas, em que vê as cigarras como “guitarras trágicas” que “gargarejam/ vidros/ moídos.” E o que posso dizer quando leio “dou duas voltas/ na chave/ e trancafio/ a paisagem/ lá fora”?

Como disse Câmara Cascudo, os poemas dele são “claros, ágeis, nítidos,... suficientes.” Porque ele tem a chave do tamanho.

Para utilizar de uma expressão de Antônio Carlos Secchin sobre João Cabral de Melo Neto, direi que Amador Ribeiro Neto é um “poeta do men...




Para utilizar de uma expressão de Antônio Carlos Secchin sobre João Cabral de Melo Neto, direi que Amador Ribeiro Neto é um “poeta do menos”, uma vez que investe – como o faz neste “Poemail” (Editora Patuá, São Paulo, 2019) e nos livros anteriores – numa linguagem ideográfica, icônica, semiótica, ao tempo em que, ainda na esteira do Concretismo, explora o espaço em branco do papel e atribui voz ao silêncio, tornando-o substantivo, antirretórico por excelência.

Vale ressaltar que Cabral e Amador ocupam espaços próprios no contexto da poesia brasileira, embora o ato de escrever consista num procedimento dialógico, numa conversa a muitas vozes, que ora se rejeitam, ora se assimilam, formando um burburinho no qual fica difícil delimitar onde começa a voz de um poeta e onde termina a do outro.

Em última análise, Cabral é um dos poetas das “afinidades eletivas” de Amador, assim como o foram, do poeta pernambucano, Murilo Mendes e Drummond. Já o Concretismo, é a maior referência de Amador Ribeira Neto para a criação de sua obra poética.

Com “Poemail”, escrito quase todo ele sob a égide do racionalismo, o autor
sofre o risco de ser considerado um poeta desprovido de sentimentos, como se a inteligência que preside e rege a sua poesia não representasse uma prova cabal, eloquente, da mais pura sensibilidade.

Outra de suas recorrências estilísticas é a de não fazer concessões ao fácil, a de escrever criando dificuldades, sem contorná-las, isto é, sem sair pela tangente, já que o próprio ato de escrever, para ele, “(...) se transforma, paradoxalmente, em um método de evitar a poesia”. Ou seja, de embargar a poesia enquanto efusões meramente sentimentais, tão
ao gosto daqueles que – nunca é demais repetir – regam as flores da retórica com o orvalho da inspiração, mas descuram do lastro imprescindível, tonificante, da linguagem.

Pois bem. Amador, corroborando o sábio conselho de Verlaine, “torce o pescoço da eloquência”, o que repercute negativamente junto ao leitor afeito a fruir um tipo de literatura “sorriso da sociedade”, de mero e fugaz entretenimento.

“Poemail”, enfim, não é um livro para principiantes.

Estamos em guerra? Desculpem, meus amigos, de esquerda e direita, mas sou da paz. Não vou ser hipócrita de dizer que sou da guerra quand...



Estamos em guerra?
Desculpem, meus amigos, de esquerda e direita, mas sou da paz.
Não vou ser hipócrita de dizer que sou da guerra quando nunca terei coragem de pegar numa arma.
Bishop não merece a homenagem da Flip? Se o questionamento for em relação à sua literatura (que eu particularmente gosto), respeito. Se for por não ser brasileira, então vou bater palmas toda vez que um brasileiro for solenemente ignorado no exterior. Se for por questão política, passo ao largo. Afinal, no filme Flores Raras ela é contra o golpe de 64. Se for porque ela criticou Bandeira e outros autores nacionais, eu desprezaria Oswald de Andrade por este ter debochado de José Lins do Rego e outros escritores nordestinos.



Já fui criança, sim!
Já brinquei na rua, descalço, correndo futebol, mirando bilas, carrinhos improvisados na falta de mesada, bicicletas e quedas nos barros da 21 de Abril.
Meus primeiros companheiros de infância: o mano Lenilson, Lili (com quem brincava também de novelas e fazíamos músicas em shows de calouros só nossos) e o primo Luciano.
Entre os três, sempre tinha amigos de rua, aliás, de ruas, já que moramos em várias ao longo da vida.
Depois, fiquei adulto e virei criança para cuidar de meu Vini.
Ser criança não é brincadeira, não.
É ser poesia sem precisar ser poeta.
Porque criança pode ser tudo que ela quiser. E eu fui, mas não sou mais.



Não sou devoto de Nossa Senhora.
Mas sei dos milagres que ela realiza nas pessoas.
Entre eles o da fé, da esperança e da busca do bem acima de qualquer coisa.
Que, no geral, são os milagres das religiões.
O mais, aquilo que tanto criticamos nos "religiosos", não parte dos livros sagrados de nenhuma religião.
Que nossa padroeira proteja o Brasil, país vilipendiado pelos seus próprios filhos.



Quer dizer que porque os governos não tratam bem a classe do magistério não devo desejar Feliz Dia do Professor a quem tanto me ensinou?
Então, em função dos problemas que cada um enfrenta em sua vida pessoal, não se deve desejar feliz aniversário a ninguém...
Ah, saudades de Lili, que era professora e lutava contra as injustiças à profissão, mas sabia separar as coisas...



Existe uma coisa boa nos grupos de ZAP: eles têm um foco específico. Assim, o grupo da família é para dar bom dia, informar sobre os passos de cada um do clã familiar e aqui e acolá soltar uns memes pra descontrair. No grupo do flamengo não pode exaltar os adversários do rubronegro. No grupo de cultura não se deve falar de política (afora política cultural) ou outros temas não afeitos às atividades culturais, etc.
Existe uma coisa ruim nos grupos de ZAP: as pessoas participam deles sabendo de suas regras, mas adoram violá-las e acusar os administradores dos grupos de anti-democraticos.

(Excertos de redes sociais)