Ele falou se sentir cansado. Não conseguia, como alguns que conhecia — embora poucos — manter vivo o impulso de buscar novos interesses ou preservar os antigos que lhe motivaram no passado. Era como se a vida não apresentasse mais projetos e fosse diminuindo gradativamente as possibilidades e o tempo apenas existisse como um determinante de limitações.
O transitório era a norma e não mais lhe era permitido se queimar no fogo das paixões. Eu não sentia nele elementos de inveja enquanto falava, nem de melancolia, que parecia existir em outros em aparentar prazer de trazer um passado em fotos pessoais, só ou em grupos, como atenuante para um presente fosco.
O tempo havia passado, mas duvidava que houvesse naqueles que o cultivavam uma forma de restauração interior em dividir ruas, casas, praias, árvores, pássaros e pompas. Aquilo, para ele — um dia me confidenciou —, era falso, irrelevante, porque eram registros desimportantes de uma vida saltitante, mas pouco significante, parecendo a ele um resgate a que todos passariam obrigatoriamente, embora desprovidos de grandeza e significação.
Estes, sim, permaneceram em múltiplas edições por dezenas e centenas de anos, incólumes e abissalmente distantes dos lamentos apequenados dos que apenas existiam para manter as cabeças acima dos níveis oceânicos, que, de fato, estabelecem o rigoroso filtro da existência humana.