Os passos largos e rápidos da humanidade no campo da ciência e da tecnologia conduziram o sujeito tapado que sou a ambientes profissionais habitados por cpu's, processadores, drives e memórias ram, esquisitices com as quais tenho convívio forçado até no santo recesso do lar. Pois é, isso há muito pulou dos centros de pesquisa, redações de jornal, circuitos fabris e repartições públicas para as nossas casas e nossas camas.
Entendo que o tempo corre em saltos para os que já passaram dos 70. Tenho a impressão de que, ainda ontem, os textos que eu produzia com salário mensal e pauta diária saíam do teclado da velha e boa Olivetti, aquela da bunda de ferro. A informatização dos veículos da imprensa me impôs a alternativa: o computador, ou o desemprego.
Paul Hanaoka
E se assustou com o que viu. O boato e a mentira que antes corriam de boca em boca, vagarosamente, haviam ganho a amplitude, a força e a velocidade dos relâmpagos.
Acostumou-se a me ligar com a pergunta: “Isso é verdade?”. E lá me vinham textos, imagens e áudios relacionados a escândalos políticos, no mais das vezes. Não sabia fazer o que eu já havia aprendido: a consulta a agências de checagem de informações, ferramentas úteis à detecção da calúnia e da infâmia. Havia coisas que nem precisava checar, como a história de que o Papa passou a gostar de Lula quando os roubos do PT produziram depósitos no Banco do Vaticano. Tanto quanto eu, ela se horrorizava com a identificação do caluniador, assim também entendido quem repassa mentiras.
Brian McGowan
Certa vez, eu lhe disse que escolheria o ladrão sempre que um juiz escolher o réu (maculando a doutrina que também impede ao réu a escolha do juiz), escalar o Ministério Público, comandar a operação e receber o prêmio de Ministro da República daquele que beneficiou com a prisão do adversário. E isso nunca nos separou. Democracia, comentei há pouco, é uma estrada com dois lados à nossa escolha. O trânsito exige a convivência e o respeito.
Ângela Bezerra de Castro (capital paraibana Acervo particular
Sei que não quer nem prega a volta da ditadura. Foi vítima disso. Viu-se impedida de assumir um cargo público para cuja vaga obteve a nota maior do concurso. É que pesava contra si o ensino voluntário de adultos pelo método desenvolvido por Paulo Freire, nome que a direita radical censura e abomina até os dias de hoje. A posse somente lhe foi possível quando os ânimos arrefeciam e as tropas retornavam à caserna. Mas, assim mesmo, depois de longa peregrinação pelos corredores da Justiça.
A nota recente da instituição a que se afilia contra a invasão e depredação de entes indispensáveis ao processo democrático, à ordem, à justiça e à paz entre os brasileiros teve nela o primeiro apoio e o primeiro aplauso.
Recém-embarcada no universo que nos oferece o transporte de mensagens por meio eletrônico, em grandeza cada vez mais ampla, seja ela bem-vinda ao Século 21, tempo em que a perversidade corre na velocidade da luz.