Contam que, há muito tempo, quando uma mulher sofria, ela não falava a ninguém. Ela caminhava. A sina feminina era ser forte e silenciosa em suas dores.
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Caminhava até que os sons da cidade ficassem para trás e o mundo se transformasse em silêncio e os únicos barulhos eram de folhas e gravetos que se quebravam aos seus pés.
Bem no centro da mata, havia uma clareira e misteriosamente, outras mulheres já a esperavam. Não falavam, apenas a acolhiam com os olhos e lhe entregavam um pano branco, uma agulha, linha e tempo. Não perguntavam se sabia costurar, aquilo era puro instinto.
Ali, rodeada de árvores, com a luz dançando entre as folhas, ela começava a costurar ou bordar aquilo que a angustiava.
Uma linha branca para a saudade, um ponto apertado para o que não conseguia dizer, um ponto mais largo para o tempo passado, e um nó bem firme para tudo que estava decidida a nunca mais sofrer.
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Às vezes, costuravam por dias inteiros até que a dor tomasse outra forma. Um pedaço de pano com pontos irregulares, algumas cores, sobras e nenhuma desculpa para os erros.
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Com o passar do tempo, a agulha virou pena, o tecido, papel e o bordado, escrita.
Hoje em dia, não há mais clareira nas florestas para abrigar mulheres. Mas dizem que, quando uma mulher começa a escrever o que sente, ela costura palavras com a linha do coração e as velhas da clareira sorriem entre os galhos.
Todos sabem que tem coisas e sentimentos que só saem da gente quando encontram, não a forma ideal, mas o bordado escrito no silêncio, aquele que acalma o coração. Escrevem aos sábados à noite ou em manhãs de domingo.