No século XVII, a música europeia vivia uma diversidade de escolas e estilos que buscavam afirmar-se em meio a transformações culturais, religiosas e políticas. A música barroca, que se desenvolveu entre 1600 e 1750, é caracterizada por: o baixo contínuo, que consiste em estabelecer uma base sonora contínua, acompanhada por cifras, tocada por um instrumento grave (caracterizada pelo domínio de notas da linha de baixo), sobre a qual um instrumento harmônico improvisava os acordes, formando a base da música; o contraste, expresso no uso frequente de variações de volume, andamento, timbre e textura musical para criar um efeito dramático e expressivo;
J. S. Bach French School (c. 1881)
consolidação do sistema tonal, ainda hoje amplamente utilizado, marcado pelo desenvolvimento das escalas maior e menor, substituindo o sistema modal renascentista; a expressividade dramática, por meio da qual as composições buscavam estimular as emoções do ouvinte, como se observa em gêneros como a ópera e os oratórios; a ornamentação, caracterizada pelas variações melódicas elaboradas para enriquecer a linha principal; o virtuosismo, que enfatizava o desenvolvimento técnico, tanto de cantores quanto de instrumentistas, com peças que exigiam grande habilidade e improvisação; as formas musicais, com o surgimento e desenvolvimento da ópera (drama cantado com cenografia e atuação), do oratório (obra para vozes e orquestra, sem encenação), da cantata (composição vocal com acompanhamento instrumental), do concerto (peça que contrasta um solista ou pequeno grupo de instrumentos com a orquestra) e da suíte (sequência de danças); e, por fim, a escrita idiomática, na qual as partituras passaram a especificar os instrumentos — novidade em relação ao período anterior.
Nesse contexto, o compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750) absorveu e recriou as matrizes musicais de sua época. Da tradição
François Couperin Jean Charles Flipart
alemã, herdou a densidade contrapontística e a intencionalidade espiritual; da música francesa, representada por compositores como Jean-Baptiste Lully (1632-1687) e François Couperin (1668-1733), assimilou o refinamento das danças e das suítes; e do estilo italiano, cujo maior expoente foi Antonio Vivaldi (1678-1741), apreendeu a clareza melódica e a vitalidade rítmica. Essa tríplice fusão tornou-se um elemento estruturante de sua produção e reuniu tais influências em uma linguagem própria, como síntese barroca universal.
Sua obra, que abrange desde a música sacra até os concertos instrumentais, passando por peças corais e exercícios pedagógicos para instrumentos de teclado, culmina o período barroco (barroco tardio) e antecipa elementos do classicismo na música. A densidade intelectual e seu pensamento musical influenciaram a evolução da música erudita.
Outro aspecto é a amplitude de gêneros nos quais Bach se destacou. Ainda que não tenha escrito óperas, sua obra abrangeu cantatas, oratórios, missas, corais, concertos, suítes e música instrumental de câmara. Entre essas produções, algumas são antológicas: os Concertos de
GD'Art
Brandemburgo, compostos no início da década de 1720 e concluídos em 1721, que representam sua genialidade em explorar os timbres instrumentais; as Seis Suítes para Violoncelo Solo (BWV 1007-1012), provavelmente escritas entre 1717 e 1723; o Concerto para Violino em Lá Menor, BWV 1041; o Concerto para Violino em Mi Maior, BWV 1042; e o Concerto para Dois Violinos em Ré Menor, BWV 1043, escritos entre 1717 e 1730; além da Missa em Si Menor (iniciada em 1724 e concluída em 1749) e da Paixão Segundo São Mateus (1727), que constituem um patrimônio da espiritualidade cristã, no qual a ciência contrapontística se une a uma intensidade expressiva de caráter universal.
Ao escrever prelúdios e fugas de O Cravo Bem Temperado (1722 e 1742), em todas as tonalidades maiores e menores, Bach não apenas explorou as potencialidades do sistema temperado, mas também deixou à posteridade um compêndio de possibilidades musicais que ainda hoje influencia intérpretes e teóricos.
Johann Sebastian Bach Elias Gottleib Haussmann
Johann Sebastian Bach foi o gênio do contraponto. Sua capacidade de entrelaçar linhas melódicas independentes, mantendo ao mesmo tempo a coerência harmônica e a unidade estrutural, alcançou níveis de complexidade e beleza dificilmente superados. O uso do cânone e da fuga, em suas mãos, não se limitava a exercícios acadêmicos: essas formas transformavam-se em expressões de espiritualidade e fé em Deus. A Arte da Fuga, obra tardia e inacabada, é o exemplo máximo dessa busca pela perfeição formal.
O conjunto de sua obra contém mais de mil peças catalogadas. Muitas de suas partituras trazem a inscrição Soli Deo Gloria — ‘Somente a Deus a glória’ — evidenciando sua concepção da arte como processo de transcendência, isto é, a unidade entre a natureza humana, o Universo e Deus.