Ouvi de uma pessoa de pouca escolaridade, mas de uma humanidade e espiritualidade como só encontro em pouquíssimas pessoas, que o professor...


Ouvi de uma pessoa de pouca escolaridade, mas de uma humanidade e espiritualidade como só encontro em pouquíssimas pessoas, que o professor deveria ganhar “muito, muito, muito, muito, muito bem, porque tudo passa pelo professor”. Concordei com ela, mas fiz a ressalva de que todos deveriam ganhar o suficiente para ter uma vida digna.

Sem saber, essa pessoa estava citando Victor Hugo, em Os Miseráveis: “Les deux premiers fonctionnaires de l’état, c’est la nourrice et le maître d’école” (Parte I, Fantine, Livro 5 La Descente, capítulo II, Madeleine).

Numa tradução mais livre, a frase em português seria: Os dois primeiros funcionários do estado são a merendeira e o professor.

Cabe ressaltar o seguinte: Victor Hugo não fica apenas na ficção, quando se posiciona em favor da educação como fator primordial do progresso. A sua frase, de um romance de 1862, foi garimpada na célebre frase de Danton, durante a Assembleia Legislativa, de 02 de setembro de 1792, nos dias que antecederam a instauração da primeira república francesa. Ela se encontra insculpida na base da estátua daquele revolucionário, em pleno boulevard Saint-Germain, em Paris – “Depois do pão, a educação é a primeira necessidade do povo.”

A frase de Os Miseráveis é a ressonância do discurso de Hugo, em 1848, na Assembleia Constituinte, que deveria levar a França à sua segunda república, após a fuga do último rei de França, Louis-Phillipe.

Rejeitando ser Ministro da Instrução Pública, cargo para o qual o convidou o poeta e amigo Lamartine, Hugo se elege deputado por Paris. Ele acreditava que assim faria muito mais do que sendo ministro. É como surge o importante discurso do poeta e romancista “Questões para o encorajamento das letras e das artes”, em novembro de 1848, denunciando e reprovando uma redução no orçamento que ameaçava as letras, as artes e as ciências, de que eu retiro, entre outras memoráveis (“a economia seria pequena, a destruição seria grande”), a seguinte frase:

“Il faudrait faire pénétrer de toutes parts la lumière dans l’esprit du peuple; car c’est par les ténèbres qu’on le perd.”

“Seria necessário fazer penetrar de todos os lugares a luz no espírito do povo, pois é pelas trevas que o perdemos”.

A França ouviu a luta de Hugo e se esmerou durante décadas para dar uma educação universal. No Brasil, se os pouco letrados têm consciência da importância crucial da educação, alguns muito letrados ignoram-na olimpicamente e nossos legisladores se restringem a discursos vazios de ação. Continuaremos na nossa indigência cultural, cujo reflexo pavoroso é a indigência social, enquanto nos faltarem os Hugos que sejam, interessados, realmente, em política, no sentido platônico do termo, e não em politicagem.

O silêncio responde à indagação sobre os antepassados. Eclode uma curiosidade envolvente, quando percebemos o vácuo dos parentes (próximos ...


O silêncio responde à indagação sobre os antepassados. Eclode uma curiosidade envolvente, quando percebemos o vácuo dos parentes (próximos ou distantes), amigos, vizinhos, enfim pessoas de antecedentes partidas.

Estarão num onde ou em si mesmos? Para os que aderem ao Futuro Definitivo, medram folículos de esperança adornados por flores que se rasgam dentro do coração. Quando passamos por estradas, em viagem, nada mais emocionante do que os túmulos de beira de estrada. Ali, sob as cruzes simples, está o início, o desmoronamento, a solidão.

Adornadas e mostrando tocos secos e apagados de velas, testemunham a fé ingênua, porém autêntica, na realidade escondida, no mistério desafiante. Não são os mausoléus monumentais semeados nos cemitérios capazes de concorrer em expressão de pureza com os pequeninos sarcófagos de chão, espalhados na extensão das rodovias. Estes exprimem a pascalidade honesta da vida submissa ao trânsito inevitável.

Estive olhando as fotos daqueles que nos precedem. Pensamos que jamais irão, perderão o embarque, e torcemos para eles ficarem eternamente conosco. Quando crianças, então, nem suporíamos tal possibilidade. Mas temos de ser firmes e estarmos preparados.

Esta vida é estágio, oportunidade para crescermos, amarmos o semelhante, o próximo, convivermos sob a luminosidade, socorrermos as necessidades de quem nos estira o sinal de suas dores físicas ou não.

Morre antes quem não se desloca de seu trono confortável e segue em direção aos pobres, aos carentes, aos que clamam por uma palavra de carinho, compreensão e apreço. Como manchamos o sentido da vida!

A violência e desrespeito para com o irmão, o preconceito assanhado a tentar diminuir a condição humana das diferenças, o orgulho e vaidade como se tudo fora permanente. Mero engano!

Neste Finados, vale uma reflexão sobre o mistério da vida/morte. Nem tudo está perdido: despontam, a cada dia, os sinais de imortalidade, de continuidade, de transcendência: não os enxergam os cegos de espírito ou enganados pelas limitações mundanas.

Não falei em religião, nem em correntes antagônicas (a propósito) – nós, humanos, temos o discernimento suficiente para as escolhas e posicionamentos diante do Criador. Acima de tudo está a Vida, o senso humanitário, a nudez de quaisquer confrontos.

Após as lágrimas, jorram sorrisos. A lápide não é a última página. Muita claridade precisa chegar para nos curar a cegueira. Amemos a vida límpida como um regato tranquilo a correr infinitamente e sem foz. Há uma faísca de fé em cada suspiro de Amor. Mesmo em quem duvida.

Percebo que a institucionalização exclusiva do fazer ou do produzir da arte, empobrece-a sobremaneira, hoje. O Artista precisa ser. Preci...


Percebo que a institucionalização exclusiva do fazer ou do produzir da arte, empobrece-a sobremaneira, hoje.

O Artista precisa ser. Precisa expressar-se em seu âmago, em sua sinceridade ainda que idiossincrática.

Quando a instituição toma para si a tutela da obra, subordina o Artista que, pouco a pouco vai se tornando minúsculo.

Os concursos, como já dizia Bèla Bartòk, são competições para cavalos, não para Artistas.

Em nome de necessidades empregatícias, o Artista vira artista, e a Arte (des)arte, apequenada por circunstâncias burocráticas e de uma pseudo e forçosa comparatividade inexistente para o foro íntimo de quem se expressa e busca expressar-se…

O Artista é autêntico quando se entrega ao seu que-dizer próprio, quando sua voz interior fala e o seu âmago se faz ouvir.

Do contrário não há Arte sincera.

A vida está sempre nos mostrando o quanto devemos aproveitar cada minuto dela. Reclamamos que só vemos tragédias na tv, o que não deixa de ...


A vida está sempre nos mostrando o quanto devemos aproveitar cada minuto dela. Reclamamos que só vemos tragédias na tv, o que não deixa de ser verdade, mas assistimos meio que anestesiados, acreditando que nunca iremos passar por nada daquilo, e seguimos sem prestar atenção nos sinais.

Quando, mergulhados na nossa distração, somos surpreendidos pelas vulnerabilidades da vida, levamos uma rasteira, e percebemos quão tolos fomos em não ter desfrutado das chances de viver momentos de real felicidade.

O mais grave é que continuamos sem ver, não aproveitamos o quanto poderemos ainda sorrir ou chorar de alegria, estamos sempre deixando para depois, e pior dando chance para o azar.

Infelizmente, SÓ PERCEBEMOS ISSO QUANDO PERDEMOS A CHANCE de ver e falar; sentir e ouvir; tocar, enfim, de simplesmente estar.

Sendo clichê: “Durante nossa vida, aparecem uns cavalos selados. Tem vezes que aparece um só. Tem gente que monta e vai embora, tem gente que deixa passar, esperando outro, um melhor, quem sabe outro... E quando vê, perdeu o primeiro.”

Que hoje possamos prestar atenção aos sinais, sem deixar a chance escapar por entre nossos dedos.



Ontem, quando duas simples perguntas: “Vai para casa? Quer fazer um lanche não?”, foram ignoradas, respondidas pelo grito do silêncio, a tristeza se achegou, e com ela sentei para fazer um lanche, antes de voltar para casa.

Mesmo de cabeça baixa, olhando a tela do celular, percebi alguém chegar e sentar na mesa vizinha. Chamou minha atenção aquela pequena mala. Chegando ou partindo, a pessoa também estava só.

Eu, maldizendo o encontro perdido, nem imaginava que o universo estava derramando sua chuva no terreno arenoso da minha tristeza.

Levantei a cabeça para observar o ambiente, para minha surpresa, ali do meu lado, olhando o celular, estava alguém que há muito não via.

A fisionomia não mudou, apesar dos cabelos brancos e dos sinais avisarem que, realmente, o tempo havia passado.

Arrisquei chamá-lo pelo nome. E, para nosso espanto, as flores do reencontro desabrocharam.

Havia perdido o horário do voo. Veio de longe, para uma reunião. Resolveu prolongar a estadia para poder visitar os lugares que na juventude o encantara. Estava partindo com a tristeza de não ter encontrado as velhas companhias do frescobol, das caminhadas pela orla, das noites de luar, enfim, dias e noites que vivemos intensamente.

Então, hoje para lhes dar o bom dia, ficou impossível não lembrar da passagem dos grãos perdidos, quando a tristeza, de mais uma pergunta não respondida, e a preocupação, por ter perdido o avião, se transformaram em uma noite incrível, com riso solto, conversa maravilhosa, lembranças visitadas, o que era escuridão brotou como momento de luz.

Obrigadaaaaaaaa, universo, por conspirar ao meu favor!

Grata querido amigo, por ter conseguido secar as lágrimas de tristeza que banhavam meu espírito.

Que hoje possamos acreditar que aquilo considerado perdido se transformará em algo bem mais importante, mesmo que seja o aliviar do peso.

Essa história aconteceu no tempo do ronca. Conta-se que um mancebo sem eira nem beira propendia a namorar uma donzela de truz. Para isso u...



Essa história aconteceu no tempo do ronca. Conta-se que um mancebo sem eira nem beira propendia a namorar uma donzela de truz. Para isso usava toda a sua léria, mas o pai da moça se opunha por achar que ele era um mandrião. Não se ocupava em nada que lhe trouxesse algum tipo de estipêndio.
O moço intentava convolar de estado civil — mas como, se mais parecia um mequetrefe?
O pai então lhe lançou um repto: ele casaria com a sua filha se jungisse a tal desiderato a demonstração de que não era um soez.
— E o que devo fazer? — quis saber o rapaz.
— Deves dar-me a prova de que tens futuro.
Em meio a tão escorchante desafio, o moço foi aos poucos sentindo gorarem-se-lhe as pretensões. Não era nenhum abilolado e percebeu que o queriam apartar da contenda. Caminhou a esmo na noite até que, esfalfado, resolveu tomar um pifão. Quando a ebriedade lhe turvou o bestunto, dirigiu-se à casa da moça.
Postado em frente à alcova onde ela dormia, encetou uma elocução: ”Não tenho prebenda, mas não sou nenhum sorrelfa. Juntos, viveríamos com parcimônia, mas não à míngua. Juro-to.
A moça, já adormecida, despertou num sobressalto. Colocou furibunda o corselete, que preferia ao califom, e foi até a janela:
— Arreda-te, doidivanas. Não vês que nada ganhas com tais ululações? Além disso, tiraste-me dos braços de Morfeu.
— Morfeu?! Então tens outro… Por que não me falaste? — gorgolejou o rapaz, já pensando em cascar a marreta. Mas logo tirou da cabeça essa ideia, pois no fundo era um poltrão.
— Se não sabes quem é Morfeu, com isso apenas provas a tua estultice. E dás razão a meu pai… – observou a moça. Dito isso, fechou com estrépito a janela.
O rapaz foi embora achando-se um alarve. Ao mesmo tempo, sentia-se ditoso por haver descoberto a traição. Melhor saber-se guampudo agora do que depois.

Para Platão, sintetizando, a Justiça é procurar fazer um bem que pode ser revertido em favor da comunidade, em favor de todos, o que signif...


Para Platão, sintetizando, a Justiça é procurar fazer um bem que pode ser revertido em favor da comunidade, em favor de todos, o que significa abrir mãos de interesses individuais. Nesse aspecto, é melhor sofrer uma injustiça do que cometê-la.

Através da alegoria, o mito ajuda o lógos a demonstrar o sentido do que é a Justiça, Justiça que está em nós mesmos, nas escolhas que faze-mos e, sobretudo, na responsabilidade que assumimos, com relação aos nossos atos.

Não há como procurar a Justiça fora de nós, pois ela não é algo abstrato nem se encontra no outro. Nós somos, ao mesmo tempo, sujeito e objeto dela. Como só atingimos a Justiça com a prática diária da Justiça, a partir da escolha primordial dos nossos atos, nós somos o sujeito responsável pela sua existência.

Precisamos buscar a Justiça sempre, exista ou não fiscalização sobre nós. Não se deve fazer a Justiça por medo da lei ou só quando estamos sendo observados. A Justiça deve ser praticada, sobretudo, quando não estamos sendo vigiados.

Enfim, os caminhos para encontrarmos a Justiça são: fugir da intemperança e das paixões que nos escravizam e nos tornam injustos por intermédio do difícil caminho da busca da luz do conhecimento, que deve ser difundido mesmo enfrentando outras dificuldades e assumir que as escolhas são responsabilidades nossas, sem imputar culpas a ninguém.

É difícil? Sim, por isto mesmo Platão afirmou: Khalepà tà Kalá – As coisas belas são difíceis! (Livro IV, 435c)

(excertos do ensaio "As coisas belas são difíceis" - 2015 - https://bit.ly/2MvO4V2)

A poesia de João Cabral de Melo Neto é tributária dos artistas plásticos aos quais louvou em poemas quase todos de extração metalinguística...


A poesia de João Cabral de Melo Neto é tributária dos artistas plásticos aos quais louvou em poemas quase todos de extração metalinguística, questionando não só a linguagem pictórica dos artistas como também a sua própria concepção da fenomenologia poética.

Com efeito, no ensaio sobre Jon Miró, ele não discorre apenas sobre os mecanismos de criação desse artista natural da Catalunha, mas também a propósito da elaboração dos poemas de sua própria lavra. Aliás, mais do que sobre Miró, esse ensaio trata a respeito do construto poético do autor pernambucano, do mesmo modo que, quando fala sobre a morte dos outros, fala sobre a sua própria morte. Aqui, vale registrar um episódio narrado pelo autor de "Educação pela pedra": "Levei-lhe (ao psicanalista espanhol López Ibor) o volume 'Duas águas' que ele leu e comentou dizendo: 'O que me impressiona é a sua obsessão pela morte'. Eu retorqui: A morte de que eu falo não é a rilkeana, é a morte social, do miserável na seca, no mangue, não é a minha. E ele disse-me uma coisa engraçada: 'Aí é que o senhor se engana: o senhor fala em morte social para exorcizar o seu medo da morte'", E concluiu João Cabral: "Realmente tenho muito medo da morte".

Julgando-se um poeta impessoal, antilírico por excelência, um poeta que escrevia a contrapelo, João Cabral cultivava uma poesia cujo solipsismo era atenuado, disfarçado, na medida em que, aparentemente falando sobre os outros, falava a respeito de si mesmo, Que o digam, no plano da linguagem, os poemas através dos quais dialoga com Cesário Verde, Graciiano Ramos, Quevedo, Francis Ponge, Valéry, Mondrian, Le Corbusier...

Inclusive, até mesmo no simples, prosaico, cotidiano gesto de catar feijão, Cabral estabelece um cotejo, uma analogia, com o seu modo de escrever. Também no desempenho de alguns toureiros na arena, ele encontra similitude com a sua arte poética: "(...) sim, eu vi Manoel Rodriguez,/ Monolete, o mais asceta,/ não só cultivar sua flor/ mas demonstrar aos poetas: // como domar a explosão/ com mão serena e contida./ sem deixar que se derrame/ a flor que traz escondida,// e como, então, trabalhá-la/ com mão certa, pouco e extrema: / sem perfumar sua flor,/ sem poetizar seu poema".

Ouso afirmar que, embora a crítica o considere um antilírico por natureza, ele possui, contraditoriamente, uma das características primordiais do poeta lírico: é incapaz de se "outrar", como diria Vitor Manuel de Aguiar e Silva.

Mas a prova maior da interferência do olhar, do visual, na sua dicção poética - não tivesse, ainda, o movimento Concretista se abeberado de sua poesia -, pode ser mensurada a partir daquele que muitos consideram o seu último poema, concebido quando já estava praticamente cego: "Pedem-me um poema, / um poema que seja inédito,/ poema é coisa que se faz vendo,/ como imaginar Picasso cego?// Um poema se faz vendo,/ um poema se faz para a vista,/ como fazer um poema ditado/ sem vê-lo inscrita?// Poema é composição,/ mesmo da coisa vivida,/ um poema é o que se aruma/ dentro da desarrumada vida.// Por exemplo, é como um rio,/ por exemplo o Capibaribe, / em suas margens domado/ para chegar ao Recife. // Onde com o Beberibe,/ o Tejipió, Jaboatão,/ para fazer o Atlântico,/ todos se juntam a mão. // Poema é coisa de ver,/ é coisa sobre um espaço,/ como se vê um Franz Weissman,/ como se ouve um quadro".

*Hoje, dia 09 de outubro, exatamente vinte anos da morte de João Cabral de Melo Neto"

Sempre defendi a liberdade, a democracia. Abaixo as ditaduras, sejam da direita, sejam da esquerda e viva o oxigênio da liberdade. Viva a d...


Sempre defendi a liberdade, a democracia. Abaixo as ditaduras, sejam da direita, sejam da esquerda e viva o oxigênio da liberdade. Viva a democracia, que com todos os seus erros, ainda é o regime que dignifica o homem. E está aí o muro de Berlim demolido, está aí a Cortina de Ferro destruída. Mil vezes o rosto alegre de um estadista eleito pelo povo do que a carranca de um Stalin, de um Hitler ou a barba de um Fidel.

A democracia é o regime que cultua a coisa mais importante no homem: a liberdade, a livre opção. Pode ter seus pecados, mas com o tempo a coisa vai melhorando. Votar consciente do voto é o que importa. E quem vende o voto torna essa consciência numa mercadoria.

Ah, liberdade!... Quanto me alegrou a fisionomia risonha das pessoas em Moscou e em Leningrado, quando lá estive, logo depois que seu povo recuperou a liberdade. Todo mundo alegre, livre da ditadura...

Em muitos anos eu poderia não ter votado, baseado na isenção que a Justiça me concedeu, mas achei que, não votando, eu estaria sendo antidemocrático.

Ao votar, deve-se esquecer as brigas das campanhas, das agressões à honra dos candidatos. Esquecer dos ataques pessoais, todos eles dominados pela paixão política.

O que é asqueroso é o voto vendido, material ou ideologicamente, voto prostituído, voto de cabresto. Devemos votar esquecidos das gritarias das campanhas, dos ataques mesquinhos e da chamada “lavagem de roupa.”

O negócio agora é esquecer a campanha e colaborar com os candidatos que mereceram os votos da maioria. A ordem, agora, é esquecer os ódios, respeitar a vontade popular, e não atrapalhar os planos dos eleitos pelo povo.

E viva a Democracia!

(Publicado no jonral A União em 2010)


J. A. Kaplan, compositor, maestro, pianista, professor e escritor (nosso Kaplito) era naturalizado brasileiro, como também cidadão paraiban...


J. A. Kaplan, compositor, maestro, pianista, professor e escritor (nosso Kaplito) era naturalizado brasileiro, como também cidadão paraibano, da sociedade paraibana, e sua obra obviamente reflete toda a intertextualidade entre sons latinos, nordestinos, etc, outros sons a desvendar…

Nasceu em Rosário, Argentina, mas ao se mudar para a Paraíba, aqui virou um "severino", e fez nesse lugar a sua vida, a sua família (de lá e de cá) e amizades, a sua obra, a sua carreira, a sua história.

Kaplan e minha mãe, Márcia, deixaram imenso legado. Legado esse que tenho a honra de zelar. Toda a vida e obra de Kaplan formam um tesouro fascinante, como um cubo mágico a se transformar em harmonias surreais. Uma obra de formação, sem dúvida, que transcendeu. Uma obra de intertextualidade universal, apreciada por intérpretes e ouvintes de muitos países, afora o Brasil.

A UFPB, sempre a sua paixão, pois o seu amor eram Márcia (minha mãe) e a Música. Kaplan, como você disse, se paraibanizou, completamente, e suas cinzas foram colocadas para o plantio de uma árvore no Departamento de Música da UFPB, onde plantaremos ao lado outra árvore em homenagem à minha mãe, Márcia Kaplan, sua companheira de vida e morte

* texto escrito a propósito das considerações feitas por Germano Romero, que foi aluno de Kaplan por 5 anos, no Bacharelado de Música de UFPB, sobre sua obra executada em recente recital na Sala Radegundis Feitosa, em crônica de A União, transcrita a seguir:

Por fim, uma homenagem mais que merecida e à altura do nível musical que o antecedeu veio encerrar o repertório com uma sonata de autoria do maestro argentino, José Alberto Kaplan, um dos ilustres personagens de nosso meio musical que se paraibanizou muito identificado com a cultura e os valores regionais. Foi um momento especial em que se ouviu toda a pujança de expressões de nosso folclore, magistralmente transcritas com a elegância rítmica e temática que caracteriza a obra de Kaplan. Na qual se vislumbra não somente a arte musicada mas também os clamores de um povo sofrido, que permeiam subliminarmente a tessitura estética de suas composições, algumas vezes, idem pontuadas com claras recordações de sua terra natal. Em Kaplan, o tango abraça o coco de roda com uma fraternidade muito bem construída.

Assim, em meio a frases que sugeriam berrantes ao convite da boiada, ritmados em compassos de xaxado e outras alegrias nordestinas, cantadas em dueto de técnica virtuosa, foi finalizado o concerto da memorável noite.

(Sérgio de Castro Pinto e Carlos Romero) URBANO (Sérgio de Castro Pinto) ah estes cães vira-latas que andam determinados pelas ruas...


(Sérgio de Castro Pinto e Carlos Romero)

URBANO
(Sérgio de Castro Pinto)

ah estes cães vira-latas
que andam determinados
pelas ruas da cidade
e as conhecem palmo a palmo
na palma das patas
nas antenas do faro
na ponta da língua que
dobra e desdobra
as esquinas
de cor e salteado

ah estes vira-latas tão orientados
nada sabem do meu coração
que vive aos sobressaltos
e bate na contramão
no colapso do tráfego
adernando
adernando
cargueiro encalhado



HOMENS DE NEGÓCIO
(Carlos Romero)

Foi então, que vi
caminhando à nossa frente,
num passinho miúdo e ligeiro,
um vira-lata.

E ia apressado,
como se tivesse
um compromisso urgente,
talvez uma reunião importante da classe.

Notei que ele caminhava
sem olhar para os lados,
a não ser quando encontrava
um saco de lixo.

Tenho certeza que não viu o mar
que estava uma beleza, prateado
pela lua cheia.

Também não levantou
o olhar para o firmamento,
onde o céu estava
cheio de estrelas.

O nosso companheiro
não se conscientizou
das maravilhas que o rodeavam.
Só olhava para frente.
Para frente e para baixo.

E ia com tanta pressa,
que me fez lembrar
um prosaico executivo,
desses, que não têm tempo a perder.
Que vivem com os olhos no relógio
e os ouvidos no celular.

Você já tentou abrir a tela vazia do seu computador e se determinar a escrever qualquer coisa, algo simples, coloquial, besteiras de amor, ...


Você já tentou abrir a tela vazia do seu computador e se determinar a escrever qualquer coisa, algo simples, coloquial, besteiras de amor, paixão ou olhares que lhe fugiram?

Não é tão simples assim. Você escreve, apaga, torna a escrever, apaga e nestes infinitos gestos vão-se os minutos, os segundos e acaba a primeira hora.

Você busca aqueles pensamentos que lhe assaltavam, os pensamentos que até há poucos instantes habitavam em você. Nesta hora, descobre que o vazio fez um ninho e embaraçou sua mente.

Eu só queria escrever sobre a alegria de viver, mas, hoje em dia, com tanta dor sendo disseminada, com tantos desacertos que não levam a nada, acabo pensando na loucura deste existir.

Seria tão simples escrever sobre o casal que hoje estava na fila do supermercado, os dois se sentindo sozinhos para viver a paixão que os acometia. Mesmo com a fila do caixa estando enorme e homens impacientes abrindo latas de cerveja com sofreguidão por ser tarde de sexta-feira, ainda assim os dois se embeveciam com os próprios segredos, com toques sutis para se sentirem. O mundo deveria ser habitado somente por apaixonados e tudo estaria resolvido.

A poucos centímetros de distância dos dois, finjo-me de surda e cega enquanto minha vontade era a de olhá-los e captar um pouco daquela felicidade pequena. A certa altura, ele a chama de amorzinho, assim no diminutivo e eu sorrio, impossível não participar daquele momento. Pago minhas compras, pego as sacolas e ainda me viro para vê-los uma última vez.

Só agora, enquanto escrevo, percebo que a vida ganha diversa significância quando você tem outra mão a amparar a sua, outro coração a bater junto ao seu. Só o calor do amor pode romper as peles que formam muralhas em seu corpo.

Mas, neste meu momento, o silêncio é denso, o ar condicionado gela meus pés, e só me resta ocupar o tempo tocando com delicadeza estas teclas. Me atento às palavras, com os pontos e vírgulas e com a fluidez do que aparece para escrever.

Deixo a nostalgia de lado e continuo a vida abusando das horas, reparo que é madrugada e que estou feliz nesta simplicidade cotidiana onde sou dona do meu espaço, do meu tempo, dos meus caminhos, das minhas verdades.

A paixão? Ficará aguardando outra história, outras paisagens para acontecer, sem determinar origem, extensão ou peso. Sou uma simples viajante de olhar atento, pronta para captar a realidade esplendorosa e inesperada do mundo.


Cristina Lugão Porcaro é bacharel em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora

O céu me fez formosa, dizeis, e de tal maneira que minha formosura vos leva a me amar sem resistência, e pelo amor que me mostrais, dizeis ...


O céu me fez formosa, dizeis, e de tal maneira que minha formosura vos leva a me amar sem resistência, e pelo amor que me mostrais, dizeis e até quereis que eu seja obrigada a vos amar. Eu sei, com o natural entendimento que Deus me deu, que tudo o que é belo pode ser amado; mas não compreendo que, pela razão de ser amado, quem é amado por belo tenha obrigação de amar quem o ama.

E ainda poderia acontecer que o amante do belo fosse feio e, sendo o feio digno de ser desprezado, fica mal dizer: ‘Amo-te porque és bela: deves me amar embora eu seja feio’. Mas, mesmo que as belezas se equivalham, nem por isso haverão de ser iguais os desejos, pois nem todas as belezas apaixonam: algumas alegram a vista mas não subjugam a vontade.

Se todas as belezas apaixonassem e subjugassem, as vontades andariam desorientadas e confusas, sem saber onde iriam parar, porque, sendo infinitas as pessoas belas, infinitos haveriam de ser os desejos.

E, conforme ouvi dizer, o amor verdadeiro não se divide e deve ser voluntário, não forçado. Sendo assim, como penso que é, por que quereis que submeta minha vontade à força, apenas porque me dizeis que me amais? Se não, dizei-me: se em vez de formosa o céu me tivesse feito feia, seria justo que me queixasse de vós por não me amardes?

Eu nasci livre e, para poder viver livre, escolhi a solidão dos campos: as árvores destas montanhas são minha companhia; as águas cristalinas destes riachos, meus espelhos; às árvores e às águas comunico meus pensamentos e formosura.

Sou fogo afastado e espada distante. Aos que apaixonei com a vista desiludi com as palavras; e, se os desejos se sustentam com esperanças, não tendo eu dado nenhuma a Grisóstomo, nem a algum outro (na verdade, a nenhum deles), bem se pode dizer que antes o matou sua teimosia do que minha crueldade.

Se a Grisóstomo matou sua impaciência e desejo impetuoso, por que se deve culpar meu honesto procedimento e recato? Se eu conservo minha pureza em companhia das árvores, por que devem querer que a perca em companhia dos homens?

Como sabeis, sou rica e não cobiço as riquezas alheias; sou de temperamento livre, não gosto de me sujeitar; não amo nem odeio ninguém; não engano este nem cortejo aquele; não zombo de um nem me divirto com outro.

A conversa honesta das pastoras destas aldeias e o cuidado com minhas cabras me distraem. Meus desejos se limitam a estas montanhas e, se daqui saem, é para contemplar a formosura do céu, passos com que anda a alma para sua primeira morada.

(discurso de Marcela - excerto de Dom Quixote)

Aprendi a viver com o que tenho e ser feliz com isso. E aprendi isso com meu pai, que não era socialista, pelo contrário. Era humano, e isso...


Aprendi a viver com o que tenho e ser feliz com isso.
E aprendi isso com meu pai, que não era socialista, pelo contrário. Era humano, e isso é muito nos tempos de hoje.
Aprendi a valorizar as pessoas que amo no dia a dia. E aprendi isso com minha mãe. Que não é adepta de nada, além da vontade de amar e demonstrar esse amor, coisa difícil para quem até o amor é medido.
Como diz meu amigo Políbio Alves, "me valorizem enquanto estou vivo".
Depois que fui, de nada adianta fulano dizer o quanto eu era bacana ou importante para ele.



A tecnologia é a oitava maravilha do mundo mesmo.
Acabo de receber mensagem de amigo, que está em viagem por países da Europa e Oriente Médio.
Enquanto conhecia o Museu do Holocausto, em Jerusalém, e dirigia em pleno deserto, ouvia a Difusora Rádio de Cajazeiras e o programa de Chagas Amaro - Amanhecer de saudades.
Pena que nosso Chagas não adira a essa tecnologia para usar zap e saber que está sendo ouvido neste momento lá em Israel.



O escritor, a escritora, tem duas agonias fortes:
Quando conclui seu livro e envia para uma editora e quando publica e espera a opinião dos críticos.
Penso que esta segunda agonia pode ser dispensada.
Quando escrevemos, devemos nos preocupar com a crítica, sim. Isso faz com que tenhamos mais cuidado com a linguagem que usamos em nossa escrita.
Quando publicamos, nossa preocupação deve ser apenas com o leitor. Que pode ser aquele crítico rigoroso, mas também pode ser o leitor comum, que lê seu livro e dá o retorno apenas pela emoção que a leitura proporcionou.
Não, nunca serei cartesiano, embora admire os críticos literários.



Sobre a Bíblia:
Vez em quando leio questionamentos de que nela existem crimes, corrupção, incestos, etc.
Óbvio.
Só podemos falar do bem quando conhecemos o mal.
E é isso que a Bíblia faz. Expõe o mal, para mostrar a importância do bem.
Como qualquer romance que tem personagens más e que no final o bem prevalece.

A catinga formava um aranhol. As cigarras aplaudiam a fulguração triunfal. Flamejava o painel do aceiro – as árvores ígneas e, ...


A catinga formava um aranhol.
As cigarras aplaudiam a fulguração triunfal.
Flamejava o painel do aceiro – as árvores ígneas e, esplêndida, a macaíba com o leque de chamas.
A manhã estava tonta de claridade.



Parecia um inferno orgíaco.
O milharal embandeirava o sitio em festa.
O melão bravo salpicado de ouro formava um ninho acintoso.
As cigarras aplaudiam uma fulguração triunfal.
Mal se distinguia o que corria do céu: se a claridade líquida ou a garoa dourada.



Eu chorava, de manhãzinha, quando os passarinhos começavam a cantar – chorando, que é a forma mais alegre de criança falar.



A minha alma de velho
Anda agora renovada,
Que a paixão é como sonho,
Chega sem ser esperada



Não se vê um olho d’água,
Quando há seca no sertão,
E enche-se os olhos d’água,
Quando seca o coração

(excertos de A Bagaceira)


Fui ver o filme ESTRANGEIRO (Edson Lemos Akatoy). É um daqueles filmes que você tem que ir bem descansado, espírito aberto e disposto a uma ...


Fui ver o filme ESTRANGEIRO (Edson Lemos Akatoy). É um daqueles filmes que você tem que ir bem descansado, espírito aberto e disposto a uma profunda contemplação da natureza. É longo (quase 2 horas).

Me lembrou LIMITE (Mário Peixoto) o tempo todo e a música de Satie (repetidamente) me reavivou essa lembrança. Correto, bem feito, em verdade, abissal, meio existencialista, meio metafísico, supõe refletir a temática da saudade, mas sendo extremamente intimista, me tocou - entretanto - como uma espécie de busca juvenil da personagem que "volta" às origens (?) e "viaja".

Terá sido tudo somente um sonho? Well... o onírico tem sua potência, claro. O filme tem matizes oníricas e brilha nos flagrantes fotográficos da natureza bela das praias paraibanas (principalmente Tabatinga). A sacada de fazer o filme em preto e branco foi genial, pois respalda a proposta meio espectral, nostálgica, fantasmagórica (quanto a isso, nenhum pecado). Bem nordestino, brasileiro (o sotaque não nega, nem ofende), mas é de um outro Nordeste que se trata (longe desse insensato e miserável mundo).

Acadêmico sim senhor, mas há lugar também para uma nova escola de cinema nordestino, por que não?. E provavelmente, "Estrangeiro" terá seu lugar na filmografia nordestina (e brasileira) do futuro.

Feito com poucos recursos tem o mérito de captar a beleza do lugar, o silêncio e a generosidade ecológica que os deuses concederam à região. As interpretações das jovens atrizes não comprometem, mesmo porque no centro da cena reina mesmo a Mãe Natureza (talvez idílica, edênica, paradisíaca em demasia, pois sabe-se, a Natureza é também madrasta).

O filme é norteado por uma vibe aguçadamente feminina (guardando grandes enigmas, sutis mistérios). Mas o experimentalismo valeu demais. Principalmente porque a estética é deslumbrante.

No que concerne ao fenômeno cinema, lembrei das aulas de Linduarte Noronha, cinema é "imagem em movimento". Mas e o pathos? A saída foi buscada na música trovejante de Wagner. (Algo que - me parece - não ficou bem resolvido).

No mais, elipses, flashback, fusões... porque a juventude pode também ensaiar novos itinerários de (trans)vanguarda. E... uma ode à paisagem, cheia de encantamentos: chuvas lindas, suavidade, êxtase das crianças correndo à beira-mar, e que coisa bonita as imagens das bolhas de ar em raro flagrante submarino, justo quando a atmosfera do Brasil e do Nordeste real parecem irrespiráveis. Enfim, estranheza poética, e muita poesia!

Zé Bonitinho era feio de doer. Colega nosso de aula. Quem se sentasse atrás da carteira ocupada por ele haveria de exercitar o olfato, re...


Zé Bonitinho era feio de doer. Colega nosso de aula. Quem se sentasse atrás da carteira ocupada por ele haveria de exercitar o olfato, repugnando o mau odor da camisa mal lavada: o suor vencido. Jamais exalou complexo ou se sentiu alijado por preconceito da turma.

Integrava-se com facilidade a qualquer conversa. Contava lorotas, desvendava a origem rasante, sem demonstrar-se dimi- nuto.

Recordo professor José Maria, com sua rígida disciplina, desafiador em defesa do silêncio para começar a explicar as misteriosas nuances da Gramática Portuguesa. Devemos, os que com ele estudaram, o bom português que ainda é serventia a traçarmos (como eu, agora) os pensamentos em feitio de letras impressas; a tônica, a rizotônica explicadas no quadro negro.

Prof. José Maria no costumeiro paletó, sério, irônico, excelente na arte de transmitir à turma as regras do vernáculo.

Zé Bonitinho era atencioso, bom aluno, notas azuis no boletim, atento a todas as disciplinas ensinadas. Inteligente, acompanhava com facilidade todas as matérias expostas. Merecedor de elogios e respeito. Uma vez Rinaldo Silva, que está mergulha- do na luz divina, brincalhão e linguarudo disse, por brincadeira, que Zé Bonitinho era comunista.

Todos ficamos suspensos, a algazarra se formou, a aula vaga, e ele, cabeça baixa, alheio à revelação do colega, continuou a leitura da lição. Não conhecia Marx, nem a patota seguidora dos ditames da linha por onde Engels caminhava. Por fim, se levantou, guardou o livro dentro da carteira e foi ao lanche.

Acudiram os curiosos, pensando encontrar “O Capital” escondido pelo colega. Que nada! Depararam-se com ingênuo romance de Jose Mauro de Vasconcelos, “Meu Pé de Laranja Lima”.

Zé Bonitinho nunca soube da atitude investigativa dos colegas. Ao retornar, reabriu a página marcada, deu um arroto mal-edu- cado e prosseguiu a leitura.

A inspetora chegou nervosa, procuran-do saber o que motivara o alvoroço. Dona Maria marcava em cima do lance, gostava de confusão. Todos em silêncio de pedra. Foi quando um dos colegas começou a cantar: “Não me conformo/com este destino/ Dona Maria quer mandar nestes meninos”. Foi levado à diretoria.

Zé Bonitinho continuou na companhia
de José Mauro, sob a leitura agasalhante do livro, desgarrado de tudo que acontecera. Ensimesmado, ao sabor acre do romance ingênuo. Sem maldade, como Zé.