sapoti! sapoti! sapoti! morcego! morcego! morcego! amor cego por ti! amor cego por ti! amor cego por ti! não escrevi à faca o teu n...



sapoti! sapoti! sapoti!
morcego! morcego! morcego!
amor cego por ti!
amor cego por ti!
amor cego por ti!

não escrevi à faca
o teu nome
no tronco do sapotizeiro,
mas na raiz.

na mais profunda raiz de mim mesmo.

domiciliares

b) chegar em casa
é desatar nós
da gravata
aos
cadarços.

é deixar-me livre
dentro das chinelas
e fora do bridge.

é girar com os dedos
o bico dos teus seios
como um segredo
de caixa-forte.

é abrir-te
para os nós cegos
do meu amor

domiciliares

e) mergulhas a roupa
no tanque
e desentranhas
os vestígios das ruas,
das ruelas,
dos becos e vias
de muitas mãos
paralelas
à mão única do meu amor.

língua

espada fora da bainha.

crista de galo
na rinha
dos lábios.

fogo chovendo no teu molhado.

nômade

acha que atritas,
o meu falo queima.

somos trogloditas
descobrindo o fogo.

crescem labaredas.

sob a braguilha,
armo uma tenda
com a minha glande.

e o meu falo nômade
rumo à tua fenda
levanta acampamento.

à queima-roupa

nua, ateias fogo
às minhas vestes
e o teu corpo despe-me
em carne viva.

ciúme

deito o meu ouvido no teu peito
e ouço o batuque de uma tribo
no tambor de olvido do teu coração

avenida dos tabajaras (III)

os teus seios
eram frutos
de um jambeiro.

e se os tocava,
o teu rosto
(vermelho)

era o pólen
e a lava

de mil jambeiros
acendendo-me
na avenida dos tabajaras.

Ah, meu amigo Fred... que surpresa foi essa, rapaz? Precisava mesmo ser agora? A gente sabe que esse agora não tem hora, e quem sabe não f...



Ah, meu amigo Fred... que surpresa foi essa, rapaz? Precisava mesmo ser agora? A gente sabe que esse agora não tem hora, e quem sabe não faz a hora, mas você deixou os pobres mortais aqui de bico rachado... Como aquele passarinho que sai pelos ares, serelepe e voejante, e, de repente, se distrai e bate com a cara no tronco. Fica atordoado, zonzo e percebe que rachou o bico. Pois é, ficamos assim.

Mas é isso mesmo. O que vem lá do céu não é somente a nossa vã filosofia incapaz de entender. Tem muita coisa por trás das nuvens, dos trovões, da chuva, da lua, do Sol... E a gente sabe que este mistério está todo abrigado pela Lei Suprema que rege e sustenta um montão de galáxias. Inclusive essas surpresas.

Agora, cá pra nós, amigo Féu (eita, era assim que lhe chamávamos...) que ideia foi essa de partir acima das nuvens, cara? Quanta leveza desejasse ter no momento deste duplo voo!... Parece até que queria aproveitar o embalo das turbinas para se alçar logo à Grande Viagem.

Eu sei que de viagem você entende. Quantas vezes comentamos via WZap sobre os périplos de além-mar, tão familiares a nós também. E como você era atencioso, respondendo, compartilhando, lendo nossos textos, falando do meu amado pai... Aliás, dos nossos amados pais, pois sei que de Dr. Praxedes você também é um grande amigo. E a ida a Austrália, hein? Que delícia!

Essa viagem agora, meu amigo, tenha certeza, possui uma amplitude muito maior. É verdade que por um tempo você estará meio zonzo, sem saber direito o que aconteceu (ou será que sabe?...), mas, logo logo, despertará para um mundo infinitamente belo, leve, sutil e bom como você. Daí a importância de que nós, daqui, não cultivemos por muito tempo essa tristeza amarga, e, como costumo dizer, consigamos transformar você “naquela saudade que eu gosto de ter.”

Foi mais cedo que esperávamos? Sim, claro. Mas o que é o tempo daqui comparado com o tempo dos céus? Em breve partiremos também e no mundo daí veremos que os relógios nem existem. Sigamos.

Prazeres, haverá. Não como os muitos que desfrutasse com esse bom humor inigualável, essa cara de quem está curtindo com a cara da gente, com a cara da vida, das coisas todas. Continuará dando, com certeza, essa risada adorável que todos gostávamos de ouvir.

As festas serão outras, mais sublimes do que os assustados e embalos de sábado à noite no Clube dos Oficiais, na companhia de meu mano, Tuca, seu grande amigo das descobertas adolescentes. Assim como de Juca Jardelino, Virgínia Dantas, Tico Gomes, Torbes Gambarra, Ana Adelaide e tanta gente boa daqueles tempos.

É isso, amigo, que saudade baterá, de vez em quando... Imagine em Adriana, tua doce e meiga companheira, bela como uma flor. Imagine seus filhos amados e amigos. Torço muito para que eles logo possam colocar a gratidão acima da tristeza, pois o privilégio de ter tido e convivido com uma pessoa como você nessa encarnação é imensurável. Eles sabem disso.

Fiquei pensando muito na sua partida, de lá do avião. Será que você olhava pela janelinha para aquele tapetão macio de nuvens e resolveu, de repente, que seria agora? Puxa, que ideia. Ao menos a janelinha pudesse ser aberta para que você pudesse acenar de longe, saltitando pelas brancas paragens, dizendo pra gente com o sorriso de sempre: “Desculpem sair assim, sem avisar, galera, mas logo nos veremos e continuaremos a sorrir juntos”.

Até breve, Féu!


O bode o que escrever sobre o bode? compor-lhe uma ode? dizer que o seus chifres despontam na testa como duas raízes brotando da ...



O bode

o que escrever sobre o bode?

compor-lhe uma ode?

dizer que o seus chifres
despontam na testa
como duas raízes
brotando da terra?

que é irmão siamês
dos seixos, da poeira,
das pedras?

que é duro na queda?

que o bode é antes de tudo um forte?

ou que, quando bale,
é todo ternura,
torrão de açúcar
desmanchando-se em candura?



Cemitério de automóveis

não me comovem
as insepultas carcaças
dos automóveis,

mas quão céleres
os passageiros
se precipitam
no despenhadeiro

dos breves dias sem freio.



O caranguejo

elmo de um guerreiro medievo.

estojo de um par
de olhos
em riste

como dois dedos míopes,
quase cegos,
tateando pelo avesso
um mundo destro.

ser dialético, canhoto,
osso e carne,
bicho barroco,

vive entre o ser e o não ser.

em terra firme,
no mangue
ou no mar alto,

radiografia de um esqueleto acuado.


Passamos a vida inventando coisas que não pre- cisamos e depois ficamos dependentes delas. Inven- tamos coisas para poupar nossa energia e ...


Passamos a vida inventando coisas que não pre- cisamos e depois ficamos dependentes delas. Inven- tamos coisas para poupar nossa energia e depois vamos gastar essa energia poupada numa academia.

Juntamos dinheiro ganho à custa de trabalho, para garantir cuidados com a saúde que estraga- mos, trabalhando mais que o necessário, competin- do pelo cargo, em busca de um tal sucesso.

Aprendemos que o corpo é uma máquina. De produzir, de reproduzir, de desempenhar, de representar. O corpo é um brinquedo, como sabem as crianças. Dizia Galeano, “o corpo é uma festa”.

Tirando os tambores, pouca coisa boa inventa- mos, além da capacidade de criar o fogo, e talvez a roda, o princípio da confusão toda.

Tiramos a fruta do pé e botamos na lata. A fruta do pé não faz mal a ninguém. Já a da lata... É bem verdade que o homem das cavernas morria bem novinho. E a gente inventou um jeito de cuidar dos dentes. Dentes que a gente estragou comendo a fruta da lata.

Tá certo que a gente inventou os antidepressivos. Mas a depressão foi inventada primeiro, tá cer- to? Senão como iríamos vender antidepressivos?

A beleza foi a gente quem inventou também. Assim como a feiura. O chato foi dar a essas coisas um lugar de superioridade ou inferioridade. Aliás, a maior das estupidezes, a que confere poder. Não há maior aberração que um homem ter poder sobre outro. Mesmo sobre um bicho. Um cavalo correndo livre sempre será mais belo que um adestrado. Um pássaro será sempre mais bonito voando no céu ou pousado na árvore. Gaiola nunca foi palco.

É sempre mais belo o homem dançando que apertando botões.

Sim, criamos formas fantásticas de comunicação. Eliminamos as distâncias entre as pessoas do planeta. Por que isso não eliminou a epidemia da solidão?

Simplesmente porque não nos reunimos mais na praça da tribo, ao luar, em volta da fogueira, comendo milho assado, contando histórias de deuses imaginários, cantando músicas ao som de palmas.

Estamos tentando inventar uma forma de dar fim à morte, sem saber o que fazer da vida, a não ser driblar a morte, mas não sabemos apreciar o envelhecimento e nem cuidar dos velhos.

Buscamos uma tal de autonomia. A maior das ilusões. E liberdade, a outra grande ilusão. Não há liberdade que não nos escravize a algo.

Entendemos cada vez mais de sexo. Pronuncia- mos corretamente a palavra clitóris, criamos a democracia do orgasmo, descobrimos o ponto “G”, mas continuamos inocentes com relação ao amor. E nos distanciando cada vez mais dele.

Temos instrumentos eficientes para produzir conhecimento, para sair das trevas da ignorância, mas não demos fim ao preconceito, que é a forma mais bruta da ignorância.

Lutamos para ter privacidade e expomos a nos- sa intimidade nas redes sociais.

Reagimos com “emojis” quando alguém posta o vídeo do cãozinho que foi resgatado, da árvore cortada, da criança abandonada. Mas passamos apáticos pelo cãozinho de rua ou pelo menino dormindo na calçada. E reclamamos do calor, sem lembrar da árvore que não está mais ali, dando sombra fresquinha.

Sabemos e não fazemos. Casas de ferreiro, es- petos de pau.

Pelo menos temos o vinho. E a medicina que permite tomar uma (ou duas) taças por dia.

E temos a arte, que dá sentido a tudo. Que salva da aridez, que conecta, que revela.



Inferno choca os modernos Que país é esse ó minha gente? País de “Morte e Vida Severina” Que João Cabral de Melo Neto assina Mas tre...



Inferno choca os modernos

Que país é esse ó minha gente?
País de “Morte e Vida Severina”
Que João Cabral de Melo Neto assina
Mas treme ante à justiça indecente

Brasil que deu à luz Mário de Andrade
Pra ver uma corte de macunaímas
Vendendo entre conchavos e vindimas
A preço vil a tal dignidade

Que fez Bandeira fugir pra “Passárgada”
Ao ver a roubalheira desbragada
Da pátria de destino tão mesquinho

E viu Drumond perder de vez a fé
Monologando o “E agora José”
Com “A Pedra” gigantesca em seu caminho

(Para o colega, e grande sonetista, heliojsilva e seus “Milhões de Transatlânticos Falidos



A (quase) morte do Português

Carinho trocado por carinha
Léxicos que viram cumprimento
Curtir a vida em movimento
Tuitar quem segue é ladainha

Latim língua morta era única
Camões revira-se ao túmulo
Pessoa reclama: é o cúmulo!
Romanos querem nova guerra púnica

Somente sobrevive a poesia
Diante de tamanha heresia
Assassinam diuturno os idiomas
"Emotions" são apenas os sintomas

O mal só piora a cada dia
Ainda quero o Português que houve um dia

(Para a "Emotion" da poetisa Auglure Martins)


Nem sempre as homenagens referendam um merecimento. Com muita frequência, a motivação para que elas se efetivem é tão exterior, tão circun...



Nem sempre as homenagens referendam um merecimento. Com muita frequência, a motivação para que elas se efetivem é tão exterior, tão circunstancial, que fica difícil estabelecer o nexo entre a distinção e a história de quem a recebe. Assim, algumas homenagens tornam-se gestos desfigurados pela impossibilidade do convencimento e da emoção.



Quando o tema são homens de letras, existe um lugar-comum que parece não ser possível evitar. A constatação de um largo descompasso entre o valor que eles representam para a sociedade e os gestos que exprimem a consciência e o reconhecimento desse valor.

O grande silêncio da Paraíba em relação à memória do professor Juarez da Gama Batista é mais um exemplo a confirmar esta generalidade. Tem a mesma natureza do abandono a que está exposto Augusto dos Anjos, esculpido em bronze, mas afogado no lixo, atropelado pelos camelôs da Lagoa. São aspectos ostensivos do permanente descaso pelo essencial, a refletir a inversão das hierarquias verdadeiras. O velho "desconserto do mundo".



De que outra maneira é possível compreender que instituições, cujos objetivos incluem a preservação da memória cultural, sejam completamente omissas em relação a nomes fundadores de sua própria História, senão admitindo a predominância de uma ordem valorativa equivocada?



Ao estilo e à erudição é preciso acrescentar ainda a ousadia, característica indispensável a todo criador, atitude sem a qual deixariam de existir o novo e o original.



Odilon Ribeiro Coutinho dedicava-se habitualmente a elaboração de textos que eram trabalhados com rigoroso perfeccionismo, em busca da sintaxe, da imagem, do ritmo, da palavra cabível, enfim, dos recursos de expressão que correspondessem ao apurado conceito de forma, que orientava sua consciência crítica. Sem nenhuma dúvida, é de um escritor que estou falando. Do verdadeiro escritor, "que põe o pulsar e o calor de suas veias nas palavras com que fia a túnica diáfana e inconsútil de seu pensamento; e instila, no verbo que se faz carne literária, o seu próprio sangue e as emoções, delírios e fantasias que jorram das fontes interiores de sua vida."

(excertos de "Um certo modo de ler")


Defina-se “perfeição”: é o resultado da capacidade, do artista, de se sair genialmente bem do problema estético que lhe foi proposto ou qu...



Defina-se “perfeição”: é o resultado da capacidade, do artista, de se sair genialmente bem do problema estético que lhe foi proposto ou que ele mesmo se impôs.

Há o momento pro estrondo da escola de samba de Vila Isabel e o do precioso sole do Jacó do Bandolim. Há o momento da majestosa “Tocata e Fuga em Ré”, de Bach, para gigantesco órgão, como há os instantes mágicos das pequenas peças para piano, de Satie, como suas Gymnopédies e Gnossiennes.

Ante o outdoor com vários emes da logomarca do Mcdonald´s fazendo Mmmmm, só pude dizer “Putz!” Mas a interjeição foi a mesma quando vi a logomarca de uma revista que jamais foi publicada – Mother & Child -, em que o & está inserido no “o” de Mother – feito um feto.

Quando perguntaram a Borges por que não se dedicara ao romance, mas ao conto, disse que, neste, “uno puede verlo como un todo”. Trabalhava com isso.

Sérgio de Castro Pinto pertence à classe dos joalheiros. Sua profissão de fé é a mesma de Bilac, pois também “No verso de ouro engasta a rima,/como um rubim”.

Decidiu-se a ocupar o menor espaço e tempo que lhe foi possível pra compor pequenas maravilhas como quando diz sobre a girafa que ela “é top model / é audrey hepburn”. Nesse mister, pinça associações ainda mais precisas, em que vê as cigarras como “guitarras trágicas” que “gargarejam/ vidros/ moídos.” E o que posso dizer quando leio “dou duas voltas/ na chave/ e trancafio/ a paisagem/ lá fora”?

Como disse Câmara Cascudo, os poemas dele são “claros, ágeis, nítidos,... suficientes.” Porque ele tem a chave do tamanho.

Para utilizar de uma expressão de Antônio Carlos Secchin sobre João Cabral de Melo Neto, direi que Amador Ribeiro Neto é um “poeta do men...




Para utilizar de uma expressão de Antônio Carlos Secchin sobre João Cabral de Melo Neto, direi que Amador Ribeiro Neto é um “poeta do menos”, uma vez que investe – como o faz neste “Poemail” (Editora Patuá, São Paulo, 2019) e nos livros anteriores – numa linguagem ideográfica, icônica, semiótica, ao tempo em que, ainda na esteira do Concretismo, explora o espaço em branco do papel e atribui voz ao silêncio, tornando-o substantivo, antirretórico por excelência.

Vale ressaltar que Cabral e Amador ocupam espaços próprios no contexto da poesia brasileira, embora o ato de escrever consista num procedimento dialógico, numa conversa a muitas vozes, que ora se rejeitam, ora se assimilam, formando um burburinho no qual fica difícil delimitar onde começa a voz de um poeta e onde termina a do outro.

Em última análise, Cabral é um dos poetas das “afinidades eletivas” de Amador, assim como o foram, do poeta pernambucano, Murilo Mendes e Drummond. Já o Concretismo, é a maior referência de Amador Ribeira Neto para a criação de sua obra poética.

Com “Poemail”, escrito quase todo ele sob a égide do racionalismo, o autor
sofre o risco de ser considerado um poeta desprovido de sentimentos, como se a inteligência que preside e rege a sua poesia não representasse uma prova cabal, eloquente, da mais pura sensibilidade.

Outra de suas recorrências estilísticas é a de não fazer concessões ao fácil, a de escrever criando dificuldades, sem contorná-las, isto é, sem sair pela tangente, já que o próprio ato de escrever, para ele, “(...) se transforma, paradoxalmente, em um método de evitar a poesia”. Ou seja, de embargar a poesia enquanto efusões meramente sentimentais, tão
ao gosto daqueles que – nunca é demais repetir – regam as flores da retórica com o orvalho da inspiração, mas descuram do lastro imprescindível, tonificante, da linguagem.

Pois bem. Amador, corroborando o sábio conselho de Verlaine, “torce o pescoço da eloquência”, o que repercute negativamente junto ao leitor afeito a fruir um tipo de literatura “sorriso da sociedade”, de mero e fugaz entretenimento.

“Poemail”, enfim, não é um livro para principiantes.

Estamos em guerra? Desculpem, meus amigos, de esquerda e direita, mas sou da paz. Não vou ser hipócrita de dizer que sou da guerra quand...



Estamos em guerra?
Desculpem, meus amigos, de esquerda e direita, mas sou da paz.
Não vou ser hipócrita de dizer que sou da guerra quando nunca terei coragem de pegar numa arma.
Bishop não merece a homenagem da Flip? Se o questionamento for em relação à sua literatura (que eu particularmente gosto), respeito. Se for por não ser brasileira, então vou bater palmas toda vez que um brasileiro for solenemente ignorado no exterior. Se for por questão política, passo ao largo. Afinal, no filme Flores Raras ela é contra o golpe de 64. Se for porque ela criticou Bandeira e outros autores nacionais, eu desprezaria Oswald de Andrade por este ter debochado de José Lins do Rego e outros escritores nordestinos.



Já fui criança, sim!
Já brinquei na rua, descalço, correndo futebol, mirando bilas, carrinhos improvisados na falta de mesada, bicicletas e quedas nos barros da 21 de Abril.
Meus primeiros companheiros de infância: o mano Lenilson, Lili (com quem brincava também de novelas e fazíamos músicas em shows de calouros só nossos) e o primo Luciano.
Entre os três, sempre tinha amigos de rua, aliás, de ruas, já que moramos em várias ao longo da vida.
Depois, fiquei adulto e virei criança para cuidar de meu Vini.
Ser criança não é brincadeira, não.
É ser poesia sem precisar ser poeta.
Porque criança pode ser tudo que ela quiser. E eu fui, mas não sou mais.



Não sou devoto de Nossa Senhora.
Mas sei dos milagres que ela realiza nas pessoas.
Entre eles o da fé, da esperança e da busca do bem acima de qualquer coisa.
Que, no geral, são os milagres das religiões.
O mais, aquilo que tanto criticamos nos "religiosos", não parte dos livros sagrados de nenhuma religião.
Que nossa padroeira proteja o Brasil, país vilipendiado pelos seus próprios filhos.



Quer dizer que porque os governos não tratam bem a classe do magistério não devo desejar Feliz Dia do Professor a quem tanto me ensinou?
Então, em função dos problemas que cada um enfrenta em sua vida pessoal, não se deve desejar feliz aniversário a ninguém...
Ah, saudades de Lili, que era professora e lutava contra as injustiças à profissão, mas sabia separar as coisas...



Existe uma coisa boa nos grupos de ZAP: eles têm um foco específico. Assim, o grupo da família é para dar bom dia, informar sobre os passos de cada um do clã familiar e aqui e acolá soltar uns memes pra descontrair. No grupo do flamengo não pode exaltar os adversários do rubronegro. No grupo de cultura não se deve falar de política (afora política cultural) ou outros temas não afeitos às atividades culturais, etc.
Existe uma coisa ruim nos grupos de ZAP: as pessoas participam deles sabendo de suas regras, mas adoram violá-las e acusar os administradores dos grupos de anti-democraticos.

(Excertos de redes sociais)

Os cachorrinhos de apartamentos, felpudos e perfumados é só o que a gente vê nas calçadas das avenidas Tamandaré e Cabo Branco. Suas donas...



Os cachorrinhos de apartamentos, felpudos e perfumados é só o que a gente vê nas calçadas das avenidas Tamandaré e Cabo Branco. Suas donas os tratam como filhos. E elas são tão pacientes que chegam a esperar que eles façam xixi nos postes. Vejam até que ponto chega o amor pelos animais..

E os vira-latas? Como gosto deles. De sua liberdade, de sua autenticidade, de sua filosofia. Vivem sua vida de marginal sem incomodar ninguém. E muitas vezes são repelidos ou apedrejados pelos estúpidos, tão mal compreendidos por muita gente. Certo dia, vi uma senhora enxotando um humilde marginal canino que caminhava pacificamente pela calçada. Um gesto áspero e grosseiro que definiu bem sua personalidade. Vá ver que ela viu no cachorro o marido, de quem não gosta mais...



Nunca me esqueci de um gesto do pianista Gerardo Parente, meu vizinho. Ele estava, na porta de sua casa, por sinal uma bela casa, dando comida a um vira-lata da rua, num prato. O fato me comoveu. Ao invés de enxotar o animalzinho, como fazem muitos, ele procurava alimentá-lo como se tratasse de uma pessoa.

Faz tempo que ele se foi deste mundo, mas, decerto, continua alegrando o outro lado com a sua música e a sua bondade. Só o cachorrinho é que não viu mais o portão daquela casa abrir-se para ele…



Uma coisa que mais me chamou a atenção em algumas cidades civilizadas foram os cães passeando livremente pelas avenidas e praças, muito respeitados e bem tratados pelo povo. A exemplo dos cães da Atenas de Sócrates, que ao que fui informado, são protegidos pelo Estado, e ainda trazem no pescoço uma placa oficial identificadora. Vi e acariciei muitos. Não sei se no tempo do filósofo eles viviam perambulando pelas ruas. E ai de quem tratar mal um desses animais. Ser-lhe-á, sem dúvida, aplicada uma multa. Creio que a mesma coisa acontece na Índia, onde a vaca tem livre trânsito na via pública. Ela é tida como sagrada. Eis aí um culto que respeito e admiro.

Agora me veio à memória turística que nos restaurantes de Paris os cães entram acompanhados de seus donos, e ninguém diz nada. Alguns chegam até a ficar sentados na cadeira e se comportam muito bem. Vem-me, também, neste momento, uma frase de autoria do escritor Frank Deford, que Germano andou me mostrando, um dia desses: “Pode-se ficar conhecendo tudo de um povo só pela maneira como ele trata os animais e as praias.” – uma grande verdade.



Pouquíssimas são as pessoas que amam os bichos como se fossem gente. Há muita gente que é indiferente ou trata mal os animais chamados inferiores. Que só recebem pontapés ao invés de carinho. Ângela Bezerra de Castro, nossa culta intérprete do fenômeno literário, uma mestra que muito respeito nos infunde e cujos olhos vêem longe, tem um sorriso muito mais bonito do que o da Mona Lisa. Ângela foi capaz de chorar pela morte de sua gatinha de estimação. Uma gatinha que ela encontrou abandonada, e adotou, desde o tempo em que trabalhava na Esma, com quem conversava, todos os dias, que, muitas vezes, atenuava sua solidão de intelectual e pensadora. E isto só fez crescer minha admiração por ela, que tem uma sensibilidade fora do comum.

(excertos de crônicas)

- Deus escreve certo com linhas tortas - diz a visão da Compadecida ao Trancoso, num de meus livros. E ele responde: - A senhora deveria ...



- Deus escreve certo com linhas tortas - diz a visão da Compadecida ao Trancoso, num de meus livros. E ele responde:
- A senhora deveria ter dado um caderno de caligrafia pro menino.

Penso no Aleijadinho tendo de esculpir de joelhos, com o martelo e o cinzel amarrados nos cotos dos braços. Em Tolouse-Lautrec, vítima de uma distrofia poli-hipofisiária que – de queda em queda – o deformaria e o reduziria a um metro e cinquenta e dois de altura.

Penso em Miró, com tal falta de controle motor, que seria incapaz de dar o laço nos sapatos, pelo que acabaria bolando aquele estilo taquigráfico dele, na ânsia de pintar por cima de pau e pedra!

Penso em Demóstenes, com tão sérios problemas de dicção, que se exercitaria em longos discursos com a boca cheia de seixos, ante o mar, até dominar o fragor das ondas e ser ouvido com clareza.

Penso no furioso Beethoven, com sua estúpida surdez. Penso em Borges e Joyce, caminhando pra cegueira, Sartre cada vez mais estrábico exofórico; Hermeto Paschoal e Sivuca albinos, Guignard cada vez mais tímido por causa dos lábios leporinos, Stephen Hawking desmantelado pela esclerose lateral amiotrófica!

Talvez a radicalização, salvo melhor juízo, seja indispensável para que não se fique na timidez formal de uma arte ou na mediocridade de uma ciência que nada inova. Veja o Apocalipse 3.15:

- Conheço as tuas obras, sei que nem és frio nem quente. Assim, porque és morno, vomitar-te-ei. Uau!

Penso em Pelé, Garrincha, Ednanci Silva, Ednalva Laureano da Silva (Pretinha), Daiane dos Santos, Acelino Popó Freitas – todos provenientes da pobreza. O mesmo se pode dizer de gênios da música popular brasileira, de Noel Rosa a Milton Nascimento, de Luiz Gonzaga a Jackson do Pandeiro. Na nossa literatura, temos Machado de Assis, mulato pobre e gago que acabou se tornando aquele que é tido por muitos como nosso maior romancista.

Ao terminar de ver o filme de Olivier Dahan, com a Marion Cottilard no papel da Piaf, me convenci de vez de que a genialidade é um dom que não é dado pra donos de biografia sensata. Claro que ter um corpo frágil e passar a primeira parte da vida com a avó paterna – que trabalhava num bordel – marcou sua personalidade e sua visão do mundo. Aí vejo um documentário sobre o tão magistral quão turbulento Michelangelo Merisi da Caravaggio, lembro-me da impressão que me deixou o romance “A Corrida Para o Abismo - O Gênio Caravaggio”, de Dominique Fernandez, e concluo que o estado de tensão permanente – causada ou não pelo berço – é que determina a hipersensibilidade geradora da percepção particular da maioria dos indivíduos excepcionais.

A pequenina mexicana Frida Kahlo não teria pintado o que pintou, penso eu, sem a poliomielite que quase a matara quando menina, as sequelas do violento desastre entre o ônibus de Coyoacan e o trenzinho de Xochimilco, quando ela seria traspassada por enorme pedaço de ferro que lhe entraria pelo quadril e lhe sairia pela vagina, provocando-lhe dores excruciantes o resto da vida. O desespero constante dessa mulher, sempre me lembrou o de Van Gogh, o holandês que, constantemente irritado – com a rejeição do pai, da Igreja Reformista Holandesa, das mulheres e do mercado de Arte, cortou a própria orelha com uma navalha e acabou se matando com um tiro.

Que fazer, se se nasce e cresce numa boa? Conhecer os shoppings de Paris e Nova Iorque. Ou ser uma exceção, como Chico Buarque e Bertrand Russell.


Numa crônica de 1895, comentando episódios da República recente, ainda de cueiros, o mestre Joaquim, o Machado de Assis de todos os tempos...



Numa crônica de 1895, comentando episódios da República recente, ainda de cueiros, o mestre Joaquim, o Machado de Assis de todos os tempos, vem com este introito: “Os acontecimentos levam os homens, como os ventos levam as folhas”.

Não se põe em jogo a verdade ou não da frase ou sentença de tom axiomático. Faz parte da sabedoria humana esse modo de dizer, acúmulo de povos, aqui e ali surtindo na expressão oral ou escrita de seus gênios.

O que me faz deslumbrar é o determinismo literário que condicionava os ventos e as folhas do cotidiano jornalístico. Não se ia ao dia-a-dia sem uma invocação de peso, um lastro que denotasse a visão de mundo abastecida e formada na cultura, sobretudo literária e filosófica.

Nessa crônica em que Machado fala das folhas e do vento para comentar o fim melancólico do contra-almirante Saldanha da Gama, morto ao lado dos federalistas do Rio Grande depois do fracasso como revoltoso da Armada, o cenário a que o cronista recorre, tão naturalmente, é o dos funerais de Coriolano, assunto de Plutarco e peça de Shakespeare. A cultura era outra, levada, depois, com os ventos e as folhas.

Na mesma crônica, veja-se com que o leitor era seduzido: “Muitas são as melancolias deste mundo. A de Saul não é a de Hamlet, a de Lamartine não é a de Musset”. Exibicionismo? Esnobação de um cronista-escritor que já estava para muito além dessa necessidade? Não, presume-se que o leitor sabia do que a crônica estava falando.

Outra: em junho de 1895, dia em que sai a crônica, o Brás Cubas e os melhores contos que vieram resultar, ainda hoje, nos melhores e mais geniais contos brasileiros, já haviam consagrado o autor. Não era, pois, nenhum pedantismo cultural, mas um ditame do tempo.

Orgânico como se diz hoje do trato agrícola. Impunha-se um fundo de cultura, alguma intimidade com o clássico, isto é, com o modelo, a quem ingressasse no exercício da escrita, mesmo diária, mesmo de jornal. Não bastava uma técnica, uma noção do que, do onde ou do como as coisas aconteceram, mas uma experiência mais longa de humanidade ou de fundo cultural.

Ah! meu caríssimo Milton Marques, seu trabalho é uma luz no túnel. Luz que não se limita à cátedra e sai para a rua, ignorando os ventos e as folhas dos meios culturais de hoje.

Antes de comentar a segunda lição de compreensão do texto literário, via Os Miseráveis, gostaria de me dirigir aos meus alunos de clássica...



Antes de comentar a segunda lição de compreensão do texto literário, via Os Miseráveis, gostaria de me dirigir aos meus alunos de clássicas e a todos que estudam ou desejam estudar latim, para dizer que podemos aprender as nuances dessa língua com Victor Hugo. Senão, vejamos.

Na parte III de Os Miseráveis – Marius –, Victor Hugo começa a traçar o perfil da Sociedade dos Amigos do ABC, jovens estudantes universitários, inflamados com a ideia de revolução e de república, numa França que, em 1815, após o desastre de Waterloo, voltou a ser monarquia e se encontrava sob o poder de Charles X, penúltimo rei de França.

Façamos um parêntesis para explicar que a sigla ABC não representa aqui só as três primeiras letras do alfabeto, numa alusão ao fato de que nenhuma sociedade pode querer ser justa sem educação. Para Enjolras, o futuro está nas mãos do professor – “l’avenir est dans la main du maître d’école”. L’ABC, na sonoridade da língua francesa, é também “L’Abaissé”, o rebaixado, o povo, que deveria ser a primeira preocupação de um estado republicano. Nem sempre é...

O primeiro perfil é o de Enjolras, depois vem o de Combeferre, feito a partir do paralelo com o jovem anterior. Ambos revolucionários, mas com meios diferentes de entender como atingir os ideais libertários e republicanos (vale a pena conferir o perfil completo, para nos darmos conta do tamanho desse escritor). Em um dado momento, Hugo sai-se com esta verdadeira pérola de sutileza, dando uma aula de latim, de modo a mostrar que a oposição entre eles é questão de nuance:

“S’il eût été donné à ces deux jeunes hommes d’arriver jusqu’à l’histoire, l’un eût été le juste, l’autre le sage. Enjolras était plus viril, Combeferre était plus humain. Homo et Vir, c’était bien là en effet leur nuance” (Parte III, Marius; Livre IV, Les Amis de L’ABC; Capítulo I, Un Groupe que a Failli Devenir Historique).

“Se tivesse sido dado a estes dois jovens chegar à história, um teria sido o justo; o outro, o sábio. Enjolras era mais viril, Combeferre era mais humano. Homo et Vir, aí estava, com efeito, sua nuance”.

Uma das dificuldades no ensino de qualquer língua é estabelecer diferenças sutis entre termos que parecem ter sentidos iguais. No caso do latim, a diferença entre HOMO e VIR consiste em que o primeiro é genérico, designando o SER HUMANO, por mais que de HOMO, HOMĬNIS tenha vindo via acusativo (hominem), a palavra HOMEM, que designa, em português, tanto o genérico, quanto o específico. Já o segundo termo VIR, no latim só expressa o homem do sexo masculino, cuja tradução pode ser homem viril, macho, amante, herói, não podendo ser empregado no sentido de ser humano. Em suma, todo VIR é HOMO, mas nem todo HOMO é VIR.

De modo hábil, Victor Hugo nos ministra uma lição para não mais esquecer, não importa se o leitor é ou não latinista.

Dediquei parte de minha vida ao batente diário no rádio. Nesse período, passava cerca de cinco horas por dia usando os microfones de impor...



Dediquei parte de minha vida ao batente diário no rádio. Nesse período, passava cerca de cinco horas por dia usando os microfones de importante emissora de rádio da Capital, a extinta Rádio Arapuan AM – 1.340 KHz.

Apresentava dois programas diários: “João Pessoa, Bom Dia”, das 5h às 8h, e “Jogo Aberto”, das 12h às 14h. Fazia isso sem contar com nenhuma espécie de produção, o que seria impossível hoje. Nos dias atuais, no mínimo, seria uma tremenda aventura, um voo cego.

Contava apenas com o telefone da cabine (às vezes cortado por falta de pagamento); um carro de frequência modulada circulando pelas ruas, com um repórter esperto a bordo; a simpatia do operador de áudio - e nossa criatividade, já que a internet só era conhecida nos livros de ficção científica.

Os programas começavam na hora certa, sendo a pontualidade britânica uma das marcas do apresentador. Mas nunca terminavam no horário preestabelecido, em razão da grande audiência e da presença de ouvintes para participarem das atividades no próprio estúdio - ou simplesmente para terem uma "conversa particular" comigo, na sala de espera, pedindo uma orientação, um conselho ou um favor qualquer: a libertação de um filho preso injustamente, proteção para vítimas da violência policial, internação de um parente enfermo ou o enterro de algum miserável.

Por força das circunstâncias - o que me deixava na condição de um misto de camelô e repentista -, era obrigado a comentar (e a me posicionar publicamente) a respeito dos mais variados assuntos - da falta de água nas torneiras à falta de vergonha das autoridades.

Era, portanto, sem ter essa intenção (e para o bem ou para o mal), uma figura polêmica, com alguma notoriedade na província, em consequência dessa minha diária hiperexposição pública. Apesar do sucesso, sentia-me uma espécie de doutor em generalidades. Um tagarela, por dever de ofício.

Talvez seja por isso que, volta e meia, ainda hoje me peçam para falar sobre o rádio paraibano, quase sempre colocando à frente a tão surrada pergunta: “O rádio daquele tempo era melhor do que o de hoje?” Resposta impossível de ser dada: os tempos são outros, o modo de fazer é outro, os empresários são outros, os profissionais são outros, a audiência é outra. Logo...

Só acho estranhas, hoje, as pautas de Polícia e de Política, infalivelmente presentes no dia a dia do ouvinte; uma presença que se dá a toda hora, a todo instante. Pode observar: no rádio (e, às vezes, até mesmo na TV), só dá Polícia e Política! Argh!

Para não ir muito longe, até porque não tenho mais tempo para nhém-nhém-nhém, vamos ao que realmente interessa: comecei a desligar o rádio e a televisão quando a cobertura responsável foi substituída pela dramatização excessiva.

No passado havia mais sobriedade em tudo. E hoje, portanto, ao fazer este comentário, sinto que o saudosismo (de minha parte pelo menos) é no mínimo inevitável.

* (foto à esquerda: Arquiteto Clodoaldo Gouveia, autor do Projeto da Rádio Tabajara, no centro de João Pessoa, demolida)

E assim se passaram 50 anos! O quê? Nunca imaginei comemorar 50 anos de algo que fosse. Esta semana, nós , turma da Quarta Série A das Lou...



E assim se passaram 50 anos! O quê? Nunca imaginei comemorar 50 anos de algo que fosse. Esta semana, nós , turma da Quarta Série A das Lourdinas, celebramos meio século de ginásio. Com pompa e circunstância. Festa sagrada e profana. O tempo passou, mas quando nos encontramos, é a mesma meninice: refrãos, sacanagens, e pilhérias. Tudo isso tomando Grapette! Repete! E rezando uma Ave Maria nos intervalos.

Fico sempre a lembrar de filmes como Shirley Valentine, e de Educating Rita. Porque? Pela Grécia, digo Lagoa; pela periferia londrina, digo Festa das Neves; e pela nossa turma da quarta A ginasial.

E diante dos nossos dias no colégio, por entre as freiras, os pátios, o pavilhão, a capela, os corredores, e a saída do colégio – a melhor parte.....A vida correu. E todas nos tornamos profissionais das mais diversas áreas: médicas, cirurgiãs, advogadas, defensoras públicas, engenheiras, químicas, arquitetas, professoras, escritoras, umas fadas das flores, outras do francês, do inglês, e até mesmo do além mar – do português.

A Internet nos aproximou num grupo de whatsapp e a partir daí fomos checando as informações da vida de cada uma. Por capítulos. E uma felicidade de constatar que estamos vivas (com exceção da querida Rosana Maciel); todas com saúde; algumas casadas, outras não; mães de família ou sozinhas; e com alegria de viver, apesar das vicissitudes do caminho. Não é pouco!

E esse colégio foi referência nas nossas vidas. Dizem algumas que, a melhor parte. Meninas, sonhadoras, em formação, em estado de curiosidade, de perspectiva ao futuro. O futuro chegou. E já faz tempo. E nesse espaço/tempo, experiências que marcaram as nossas trajetórias. Lembranças das risadas, da broncas, das alegrias, das delicadezas, mas também da severidade, e das opressões tantas; opressões essas que criticávamos e que hoje sabemos bem dos nós que alinhavavam o nosso desenvolvimento na perspectiva de uma vida de menina/mulher. A nossa música? Andança, (Paulinho Tapajós), cantávamos pra afirmar cotidianamente a nossa amizade.

Claro que estudar em colégio de freira gerava também algum descontentamento em algumas. Em mim particularmente, questionava a rigidez, a disciplina, e por vezes os preceitos religiosos, que eu ainda não entendia. Mas menina ainda, me emocionava com o cantar dos hinos no mês de maio; também indagava sobre os pecados, ou fragilidades da natureza humana, mais ainda das limitações de liberdade nas vidas das meninas.

Mas não só de estudo se vive! Tinha o Crush com pastel oco no recreio; as confissões e Orai pro Nobbis no mês de maio; as festas no auditório e nós dançando Metais em Brasa; o Coral para as afinadas; nossas peraltices do fazer escondido; as árvores do pátio; os segredos inconfessáveis das descobertas/vivências sexuais; as carteiras enceradas; os uniformes com o cós dobrado para virar mini saia; os bastidores da aula de bordado, e os alvoroços da saída, ficaram sim, nos nossos corações para sempre!

Um brinde à felicidade que um dia tivemos por entre portões, salas de aula, notas boas e/ou nem tanto; aprendizados; e o carinho que perdura até hoje. Resumindo , e também pensando nos filmes, acho que estamos a cumprir bem os nossos destinos a celebrarmos aquela turma que, um dia foi toda nossa e ainda é – A Quarta A.

Ah! O tempo! Esse senhor tão bonito!


Olha o afã de Rodin de pôr desespero... eterno... na Porta do Inferno, - sem atinar, ainda, ( até ver a sua luta finda ), que em tod...



Olha o afã de Rodin de pôr desespero... eterno... na Porta do
Inferno,
-
sem atinar,
ainda,
( até ver a sua luta finda ),
que em toda obra de Arte
o todo é sempre menor
do que a sua melhor
... parte,
-
no caso,
o dominante,
impactante Dante,
pelo que o refaz... separado,
ampliado,
criando,
jamais poderia supor,
a sua grande obra-prima:
O Pensador!

Basta... a gola ...num Rembrandt,
pra se ver quão ricas – quase lendas – eram as rendas
de Amsterdam.

... estratos,
cirros,
cúmulos e nimbos,
em que pese às toneladas d´água,
milagrosamente levitam,
e,
nesses limbos,
transitam,
-
até que... tudo... deságua... em frágua de raios,
furacões,
trovões,
-
e desce ... aos grandes,
sombrios
rios,
que vão,
de novo,
pros mares – como se eles fossem seus lares – e, clandestinos,
pros céus,
de onde vêm,
de novo,
em... véus,
...pras minas,
nascentes
e fontes,
passando debaixo das pontes,
... pra foz,
...a dar,
nos seus tantos e muitos trajetos – e insondáveis projetos – a vida ... atrevida... a esses rebanhos de ... estranhos,
que fomos e somos,
e sempre seremos:
nós.

e é quase certo
que
se estamos numa vasta necrópole,
temos metrópole por
perto,
-
assim a escultura,
na sepultura,
na qual um menino... franzino ( em que a vida... fez várias podas ) salta... da cadeira de rodas
pro céu,
explica que... sua gente,
apesar de cristã
é rica.

Nenhum Miller,
mais,
é moleiro;
Charpentier,
... carpinteiro;
o velho Ferrari,
ferreiro.
-
Nada tem,
mais,
a ver com guerra, ... o Guerreiro.
-
Fato extraordinário:
não há,
mais,
armas,
no... armário.

há obras grandiosas em nome da fé,
como a catedral de Colônia.
Mas ela nada mais é
(como o Affonso Romano escreveu )
que o Himalaia do Eu.