Quanta coisa boba pode gerar um texto! A lembrança de meu gato de infância. É raro quem, durante os rápidos verdes anos, não tenha pos...

Pretinho

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Quanta coisa boba pode gerar um texto! A lembrança de meu gato de infância. É raro quem, durante os rápidos verdes anos, não tenha possuído um talismã vivo: gato, cachorro, papagaio.

Meu gato ou o bichano da casa era negrinho, retinto como se pintado de piche. Os olhos amarelos, flutuantes, invasivos. Um miado estranho. Certamente era poliglota, pois a tonalidade variava, e, não sei se por fantasia infantil ou besteira de criança, conversava comigo.

Quando eu chegava suado da escola, sacudia a farda ao avesso sobre a cama, vestia o short e corria para Pretinho.

O tema desta crônica pode parecer dispensável, quando há tantos assuntos palpitantes para abordar, dirão. Mas, particularmente, o elejo, porque se torna universal para quem viveu a época das coisas puras. Infância de brincadeiras várias (hoje, pouco consideradas), escuta de histórias narradas pelo rádio, fecundando a imaginação, mitos e estranhas criaturas fantasmagóricas criadas no imaginário rico ou transladadas da mina do folclore. O gato era um dos ícones. Dava chiado no peito. “Cuidado, menino, senão a asma te pega”. Nem dávamos atenção ao grito de alerta. Os pelos flanavam pela casa inteira, passávamos as mãos na pelúcia macia do chaninho. Ou então, a voz de alguém: “gato preto dá azar!” ( um laivo de preconceito, coisa que, no geral, as crianças não têm).

Quando estava estudando para as provas, meu companheiro era Pretinho que, vez por outra, arranhava as páginas do livro ou se deitava sobre os cadernos abertos. Fazia piruetas insatisfeito porque eu trocava a brincadeira de bola com ele pelo estudo. Nunca se conformava ou entendia.


O mais interessante, quando, por algum motivo, eu chorava, Pretinho vinha se achegando, ficava a olhar-me com uma cara expressiva de compaixão. Enquanto durasse o pranto, o gato não saía de perto, parecendo uma estátua, firme, a olhar-me. Se chorasse, verteria lágrimas por seus olhos redondos e amarelos.

Pretinho foi meu aliado.

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  1. 👏👏👏👏👏👏🙏🙏🙏também amamos nossos gatinho nick e Nicole

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