Para Suênia Bandeira
“Olha p’ro céu meu amor, vê como ele está lindo...”, me arrepio todo. Começou a tocar o clássico de Luiz Gonzaga , a máxima expressão de nosso forró e festa de São João. Vejo o carro de som, uma Kombi montada com vários fones em cima e luzes fluorescentes davam o destaque, iluminando o final do arraial que também era alumiado com uma gambiarra de bicos de luz amarelas e o céu enfeitado de bandeirolas, um colorido que emocionava. Cada passo dado, o arrepio se acentuava. O medo de errar a coreografia e a ansiedade de ver a família causava um friozão na barriga. Para um garoto de 13 ou 14 anos, esse espetáculo é marcante. Naquele instante vamos entrar no arraial e exibir o que foi ensaiado desde finalzinho de março.
Quadrilha ‘Papa essa negada’ (em cima) ▪ Bodocongó, C. Grande-PB ▪ Acervo do autor
“Foi n’uma noite, igual a esta, que tu me deste teu coração”, e a quadrilha se desenvolvia em seus passos mais conhecidos. Íamos até o fim do percurso e cada casal ia para um lado. No meio do arraial, um vulcão de fogos exibia seu brilho. Naquele momento, enquanto a ansiedade batia ainda forte no coração, procurava a família e conhecidos nos limites do arraial. Palmas e gritos anunciavam nossos mais queridos: “Vira pra tirar um retrato!” e não era de nenhum equipamento digital, máquina com filme Kodak de 24 ou 36 poses, não podia falhar, mas de jeito nenhum!
F. Bubbles
“No lume da fogueira de uma noite de forró, pé e chão, chão e pó, se amam como estrelas no azul no arrebol, paixão acesa como a luz do sol...” esse som do forró galope de Chiclete com Banana, bem acelerado, marcava nosso sentimento, dávamos os maiores pinotes, parecia que éramos energizados com aquela trilha sonora. Olha a chuva... passou! Alavantu, anarriê. Tá na hora da viuvinha... balancê. Ah que saudade... Na quadrilha éramos reconhecidos pela comunidade, o filho de fulana e de cicrano, a filha do padeiro, e todos ali irmanados vendo aquele espetáculo popular, um divertimento para muita gente que já não saía muito de casa, algo doméstico, bem regional e cintilando as nossas raízes, nossos costumes. Barraquinhas vendiam canjica, pamonha, milho assado e cozido, n’um clima junino que mais parecia a maior festa do ano, e era, e é. Aqui o São João é tudo.
K. Tonelli
“Eu quero ver pega-pega no salão é forró a noite inteira, é noite de São João...” e ali estávamos felizes, ainda em êxtase. O abraço de meus pais, as conversas com os amigos, ir para a frente de casa, curtir a fogueirinha, soltar fogos, comer milho e a vontade que aquela noite nunca acabasse... Noites juninas, viva São João!