N o silêncio da tarde calma e doce, penso em nós, humanos, frágeis peças de um quebra-cabeças cósmico. Nos meus fones de ouvido, a vo...

Vidro fino

cerejeira cherry arvores
N
o silêncio da tarde calma e doce, penso em nós, humanos, frágeis peças de um quebra-cabeças cósmico.

Nos meus fones de ouvido, a voz de Eric Burton sussurra vulnerabilidades e urgências.

Contemplo o cenário de risos e choros de um mundo aprisionado entre tempestades e arco-íris e desejo inutilmente que algo nos resgate de nós mesmos.

cerejeira cherry arvores
Sara Cottle
As cerejeiras floriram todas juntas na minha cidade. Pétalas rosadas sob a chuva que desaba sem trégua sobre a Califórnia. O céu pinga gotas geladas como o coração de tantos. Protejo-me delas com uma sombrinha colorida.

Levanto a gola do casaco e sigo saltando poças, em passos de dança, recitando poemas de amor para os meus filhos distantes.

Suplico ao deus desconhecido que vive em algum lugar dos seus jovens corações que os mantenha íntegros enquanto caminham por estradas pedregosas.

Que essa divindade bailarina vele pelo sono dos meus amados quando a noite vier.

E não permita que se percam da cor da vida na mesquinharia dos dias pardos.

Que acendam luz nos próprios olhos.

E dancem descalços.

Que saibam reconhecer e abraçar um amor quando ele estiver diante de si. Sem atrasos, sem adiamentos.

E acolham a quietude, o abraço e o sonho.

Pois tudo – absolutamente tudo – é feito de vidro fino.
originalmente publicado em www.soniazaghetto.com



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  1. Um poema em que o amor, a melancolia e a estética se unem no êxtase da síntese bem acabada. Um delicioso haikai. Parabéns.

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