Escrevo com os mesmos olhos que tenho para olhar o mundo e que tenho para olhar a mim nele. Não sou afeito a estéticas que não digam co...

Gratidão

Escrevo com os mesmos olhos que tenho para olhar o mundo e que tenho para olhar a mim nele. Não sou afeito a estéticas que não digam coisas humanas e não invento textos. Deixo que eles me venham, não como peças mediúnicas, mas como a expressão do que aprendi na vida, do que me falta aprender e do desejo de dizer algo que faça sentido para o outro e possa lhe tocar de algum modo.

Nunca me senti poeta, porque acho uma responsabilidade muito grande. Quem sou eu, perto de um Lau Siqueira, Waldemar Solha, Chico Lino ou do mestre Sérgio de Castro Pinto?

gratidao escrita poesia antonio aurelio cassiano
Picasso
Mas amo a palavra como matéria modelável — não só pela sonoridade que lhe é peculiar, mas pela possibilidade de usá-la em textos que não se prendem, necessariamente, ao sentido que a gramática lhe dá.

Por que dizer tão pouco com uma única palavra, se com ela posso dizer todos os oceanos e ainda mais os sete mares?

Sei que, muitas vezes, escrevo coisas inúteis, mas sei também que, sem o exercício de escrever, entre as coisas inúteis não nasceriam outras às quais algumas pessoas se reportam como belas.

Por enquanto, é só o que sei fazer.

Não tenho compromisso acadêmico, apesar de admirar quem usa regras para fazer tipos específicos de poesia. Somente penso e escrevo.

Tenho muita admiração por quem faz sonetos metrificados — aliás, já fiz —, mas sou muito preguiçoso e acho limitante. Admiro o cordel, mas também acho que tem suas limitações, talvez porque
gratidao escrita poesia antonio aurelio cassiano
Allen Ginsberg
GD'Art
minhas maiores influências tenham sido Paulo Leminski e a geração Beat, notadamente Ginsberg, apesar de ter lido Poe e Baudelaire.

No Brasil, além de Leminski, claro, me liguei mais na música popular brasileira, no lirismo de Caetano e Mautner, na poesia concreta, em Haroldo de Campos e na galera da Oficina, capitaneada por Antônio Arcela, em João Pessoa dos anos 80. Lembrando ainda que sou cria de um intenso rock’n’roll.

Tive também, lá pelos meus vinte anos, acesso a clássicos como Virgílio e suas Bucólicas, além da literatura não necessariamente apenas do gênero poesia, o que abre um universo de possibilidades com as palavras.

Quem leu de Dante Alighieri a Cervantes, passou por Gabriel García Márquez e Jorge Amado, tem um arsenal de palavras para combiná-las com conteúdo e musicalidade.

Ainda estou na trilha do aprendizado. Não tenho mais tanto tempo e tenho muita preguiça, mas estou no jogo — na alegria de ler mais e escrever o que penso e sinto.

Texto publicado em resposta a comentários elogiosos a minha poesia publicada no Ambiente de Leitura Carlos Romero.


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