Há 95 anos, de forma brutal, era assassinado no Rio de Janeiro, numa emboscada, João Suassuna, o ex-presidente da Paraíba, aumentando o mar de sangue que marcou o fatídico ano de 1930, cheio de incompreensões, traições e injustiças.
A Paraíba ainda não olhou com o devido merecimento para João Suassuna, este filho do Sertão, caboclo que trazia tino para as afetividades. Ele carregava o olhar para a natureza semelhante ao do homem que cultiva a terra, trazia a sabedoria dos profetas andantes de sua terra, dos cantadores de viola e a coragem dos vaqueiros que recolhem o gado pelos grotões, guardando nas mãos calejadas o perfume da flora da caatinga.
Flor da Caaatinga @segs
Tendo vivido sua infância na “terra de luminoso sol”, cuja paisagem, no período da estiagem, ficava esturricada, e na caatinga, os esqueletos de árvores coando o sol abrasador, ele acreditava na transformação desse cenário para melhorar a qualidade de vida do povo.
João Suassuna
Câmara dos Deputados
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Quando o homem constrói sua vida com base familiar sólida, seus feitos permanecem. Quando morre, sua lenda continua, apesar do silêncio sepulcral imposto. O tempo ajudará a sobreviver aos ataques já defasados e à inveja injustificável.
O sangue é a semente dos mártires — semente que precisa de água para florescer, porque precisamos de heróis para reverenciar.
O que mantém viva a memória das pessoas é o modo como construíram sua história, seja o homem do pé da serra ou aquele que mora em dourados palacetes. No calabouço, sobrevivem aqueles que são moldados pelo caráter inabalável e pela fé.
Ariano Suassuna
@tokdehistoria
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Produto da mesma sanha e do gatilho nas tocaias, o autor de A Bagaceira talvez tardiamente tenha reconhecido a barbárie que também vitimou outros inocentes.
As pedras colocadas sobre João Suassuna esconderam sua história, seu amor pela Paraíba e sua gente, mas lentamente vão sendo retiradas. Cavalheiro da esperança, foi um homem que não manchou as tradições sertanejas, como recordou a escritora cearense Rachel de Queiroz, que o colocava na lista de políticos desinteresseiros. “Ele viveu como um herói e morreu como um guerreiro”, assim repetia o que ouvia de seu pai, ainda na quentura dos fatos de 1930.
Quando tudo estava envolto em uma sombra escura, o sangue empossando as terras paraibanas, motivados pela busca incessante pelo poder, poucos amigos ficaram ao lado de João Suassuna. Mas
Alcides Carneiro
Câmara dos Deputados
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Entre os adversários que reconheceram sua bravura e lealdade às causas da Paraíba, destacaria o grande paraibano que foi Alcides Carneiro, que afirmou defender a Revolução de 1930 pelo que ela encerrava, mas reconheceu que “nasceu maculada com o sangue de um inocente. Sangue paraibano. Sangue sertanejo. O sangue do paraibano autêntico, do sertanejo viril que se chamou João Suassuna”.
Ariano Suassuna lembraria disso no discurso de posse na Academia Paraibana de Letras.
Um dia, a Paraíba saberá fazer o sol brilhar para este filho esquecido — e para outros que serão resgatados e constarão na galeria dos cidadãos íntegros.