S im, quem era aquele homem de linho branco, que está ali, a conversar com os amigos, e só ele falava? Estávamos, no Ponto de Cem ...

Aquele homem de branco


Sim, quem era aquele homem de linho branco, que está ali, a conversar com os amigos, e só ele falava? Estávamos, no Ponto de Cem Réis, que, naquela naquela época, era uma espécie de pátio cultural, onde se reuniam políticos, jornalistas e escritores, sem esquecer os juízes e os desembargadores.
Naquele grupo, só o homem de branco falava, os outros só faziam ouvi-lo Elegante no vestir, no falar, ele me chamou a atenção. E veio a resposta à minha indagação: aquele é doutor Mário Moacyr Porto, juiz de Bananeiras. E fiquei a imaginá-lo caminhando pelas silenciosas ruas de sua comarca, certamente sem público para ouvi-lo. Mas aquele homem simples sabia pensar e quem sabe pensar nunca esta só.
E eis que chegou a vez de o homem de branco ser promovido a desembargador. Viria agora para a capital. E vez por outra, vestiria uma toga preta.
Foi daí em diante que começou minha amizade com ele. Ele desembargador e eu juiz. Mas ele não via em mim um magistrado e sim um cronista, um homem de letras, um homem de jornal, que era mesmo a minha vocação.
Fomos amigos, para a minha honra. E com ele só fiz aprender. Ele era, sobretudo, um homem de Letras, tanto é assim que terminou aterrissando na nossa Academia de Letras. E, aqui para nós , num cochicho ele me disse gostava de ler minhas crônicas.
Mario Moacyr Porto foi, antes de tudo um homem de muita ética. Um verdadeiro príncipe. Um varão de Plutarco.
Escreveu vários textos de Direito Civil, sua especialidade. Que estilo! Que maneira elegante de dissertar, sem querer mostrar erudição.
Uma vez, ele me disse, “cronista, você é, antes de tudo, um admirador do sexo feminino”. E disse uma verdade.
E agora aconteceu o que ele não esperava. Escrevi um livro com o título “O Papa e a mulher nua”. E para apresentá-lo, não pensei duas vezes: Mário Moacyr Porto. Nesse tempo ele já tinha se aposentado e morava em Natal. Escrevi-lhe uma carta formalizando o convite. Ele respondeu, ironizando, “mas, cronista, você quer me incompatibilizar com a Igreja?”
E concluiu a carta, aceitando o convite. Eu quase caí de emoção. O lançamento se deu no restaurante Pedra Bonita, na cobertura do Espaço Cultural, que, infelizmente acabaram.
O jurista e homem de letras Mario Moacyr Porto apresentou meu livro. Foi aquele um dos melhores momentos de minha vida, que jamais esquecerei.
O lançamento do livro foi uma beleza. Mario Moacyr foi a grande estrela. Todo mundo desejava ouvi-lo. Formou-se uma grande roda de cadeiras em torno do jurista e homem de letras. E eu morrendo de alegria, da boa vaidade.
Não me saem da memória as palavras do ilustre apresentador, cheias de muito humor. Mas, não devo esquecer, para alegria minha, a presença da minha Alaurinda, de Márcia Kaplan, viúva do maestro Kaplan, e de sua filha Ana Elvira, que muito me ajudaram na preparação do lançamento.
O lançamento teve gosto de “quero mais”. Mas o nosso príncipe não ficou apenas na apresentação. Mais tarde, já em Natal, ele me escreve elogiando o livro e a festa.
Fico por aqui, com medo de que venham lágrimas aos meus olhos.

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